Pelos meus demônios provocado,
com insônia escrevo na madrugada.
Nem com eles pareço me sentir acompanhado.Ouvi dizer que a completude de si é essencial,
mas minhas entranhas não compreendem,
ou só não aceitam que se deve deixar de lado o crucial.Embora esteja sozinho neste instante,
acredito que na maior parte do tempo,
próximo de nós, há algo reconfortante.Chego a me emocionar
com as raras pessoas que
estendem o braço pra ajudar.Os gestos trocados me inspiram
a lutar pelo meu credo, um pouco incerto.
Algumas ainda estão aqui, outras já partiram.Talvez compartilhemos da mesma confusão.
Não lembro a última mensagem que enviei
ao meu melhor amigo, nem da última ligação."Não é fácil dizer o momento de ruptura
com cada criatura que cruzou nosso caminho";
discordo um pouco desta leitura.Naufragar no mar do esquecimento
é uma escolha individual em que morrem
afogados a pessoa e o momento.Mas é uma decisão trapaceira,
Que ilude com a tese de a dor aliviar.
Fique alerta, não é brincadeira.Lembre-se que a memória convida,
no mais íntimo de nosso coração,
o próprio retorno à vida.Pela memória fabricada, a presença
me abraça e espanta os bichos.
O sono toma posse e dá sua sentença.
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Poemas à Deriva
PoetryNo mar de nossa insignificância, só resta o pensamento orientado pelo sofrimento e pela esperança. Como deixar a covardia de lado e remar? Somos uma água-viva arrastada pelo mar.