• muitas noites como aquela •

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Eu me revirava na cama, em busca de qualquer cantinho que pudesse me esquentar o suficiente para conseguir pegar no sono. Não era fácil dormir sem a companhia de Alan. Era apenas a segunda e última noite que precisaria passar sem ele, devido à uma viagem de trabalho, e mesmo assim já sentia como se estivéssemos separados há mais de uma semana. A falta de ter os seus braços ao redor de mim, me abraçando e acolhendo, era sufocante. Também sentia saudade de entrelaçar as minhas pernas nas suas e dormir sentindo o cheirinho de seu pescoço. Mais do que isso... Faltava outra coisa. Talvez a principal para que eu estivesse tão inquieta. Lembrar de como sempre nos amávamos antes de dormir não me ajudava a descansar. Pelo contrário. Me deixava ainda mais agoniada. Então, foi conferindo o horário pelo relógio do celular, que eu decidi que não estava tão tarde para ligar e dizer tudo aquilo. Logo, ele me atendeu na quarta chamada.

LIGAÇÃO ON:

- Oi, amor. Tá tudo bem? - Ao contrário de como imaginei escutar o tom de sua voz, ele parecia tão elétrico quanto eu. E eu podia jurar ouvir um barulho de motor que me confundiu.

- Onde você tá? - Não consegui esconder a leve desconfiança que apontou em meu peito. Já se passavam das dez horas. Ele não podia estar voltando de algum compromisso.

- Ah... Eu tô na varanda do hotel, amor. Por quê?

- Parece que você tá dirigindo.

- Claro que não, linda, já viu o horário? É a movimentação aqui em frente mesmo. Eu já tava indo deitar.

- Hum... - Respondo, desconfiada, mas optando por acreditar em suas palavras. Não tinha motivos para achar que Alan estava fazendo algo de errado. - Eu tô com saudade.

- Eu também tô. Muita!

- Não tô acostumada a ficar longe de você assim... Nem mesmo quando eu era babá das crianças. A gente sempre se via.

- É verdade. - Ele ri. - Mas amanhã eu já tô de volta, amor. E aí a gente resolve isso...

- Mas sabe o que é... - Acomodo o meu corpo na cama de tal forma que minha mão livre pudesse passear pelo meu corpo. - Eu não sei se aguento esperar até amanhã.

- Não?

- Não.

- Nesse caso, o que você quer que eu faça? Ou melhor... O que você quer que eu diga? - Seu tom rouco e baixinho me fez ter certeza de que ele havia entendido onde eu queria chegar. E eu sorri, satisfeita. Alan era muito bom naquilo...

- Que tal sobre as coisas que... - Antes que eu pudesse concluir o meu pedido, o barulhinho da bateria apitou, indicando que meu celular havia acabado de descarregar. Quis gritar um palavrão bem alto, mas me lembrei dos meus pequenos, que dormiam tranquilamente no quarto ao lado. Então respirei fundo, tentando me acalmar, antes de colocar o aparelho no carregador e buscar me conformar com a ideia de ter Alan só amanhã. Mas a maneira como ele parecia disposto a me satisfazer há poucos minutos não saía da minha cabeça. O jeito como ele havia falado. Já fazia algum tempo que eu não precisava daquilo... Mas eu não tinha outra alternativa. As lembranças da última noite que passamos juntos, antes que ele precisasse viajar, estavam mais vívidas do que o normal. Nossos corpos rolando sobre a cama, a sua pele quente e suada sobre a minha e seus beijos molhados pelo meu colo, enquanto eu era tomada pela deliciosa sensação de tê-lo dentro de mim. Àquela altura, eu já buscava me saciar de algum jeito. E os olhos fechados, no mesmo momento em que meu lábio inferior se prendia entre os meus dentes, não me permitiram ver ou sequer notar quando uma mão se colocou sobre a minha e a afastou do meu corpo, imediatamente me assustando e me fazendo levantar. Não foi preciso muito esforço para reconhecer quem era, mesmo no breu daquele quarto, quando meus dedos foram substituídos por outros. Eu podia jurar que o desejo de ter Alan ali havia feito com que ele se materializasse na minha frente. Mas foi no instante que eu o alcancei, que tive certeza de que ele estava mesmo ali. Nenhuma palavra foi dita. Ele se deitou ao meu lado e puxou uma das minhas pernas, para que esta estivesse ao redor de sua cintura e seu dedo médio pudesse trabalhar com maestria na minha área mais sensível. Do jeitinho como Alan sabia que eu gostava, ele circulava meu clitóris, acelerando a medida que eu o agarrava pela nuca e travava o meu corpo. Sempre que eu estava quase chegando lá, ele diminuía os movimentos, percebendo o quanto eu queria que aquilo durasse mais tempo, me beijando e pedindo para que eu continuasse gemendo em seu ouvido. Me inclinei mais, aproximando meu corpo do seu o máximo que consegui, enquanto ele voltava a intensificar os seus gestos e desta vez não intercalava com mais nenhum. Eu já não conseguia mais me controlar. O apertei contra mim, não passando pela minha mente de que podia machucá-lo daquela forma, antes de me permitir explodir em um orgasmo intenso nos seus dedos e sentí-lo desacelerar a medida que eu ia me acalmando. Não foi necessário afastar a sua mão no momento certo, porque ele mesmo fez isso sozinho, levando os dedos até sua boca e me puxando em seguida para um abraço. Era impressionante como ele sempre conseguia espontaneamente e, em questão de segundos, passar de um gostoso pervertido para um ursinho carinhoso. Eu sorri com o pensamento, retribuindo ao seu abraço, exausta, mas extremamente feliz por tê-lo ali. E a parte boa foi que tinha sido real. Acendi o abajur para olhá-lo, como se dependesse daquilo para acreditar que meu marido realmente estava de volta. E dane-se que estivesse sendo dramática, em vista de que tinha passado apenas dois dias longe dele. Mas eu já estava morta de saudade. - Sempre me surpreendendo... Não foi a toa que eu desconfiei.

- Quase estragou a surpresa dessa vez. - Ele sorriu, continuando em seguida. - Terminei de resolver tudo hoje à tardinha pra que de noite eu já pudesse voltar. Gostou? - Perguntou, traçando com uma das mãos os detalhes do meu rosto. Não importava quantas vezes ele fizesse aquilo. Eu sempre ia me sentir a mulher mais amada do mundo.

- Eu amei! Principalmente depois do meu celular ter descarregado e estragado a nossa foda virtual. - Ele riu, fazendo um movimento que me permitiu enxergar o quanto seu pescoço estava vermelho e arranhado. - Ai, amor, eu te machuquei? - Acarinho aquela área, imaginando que estivesse ardendo.

- Não. Eu adorei!

- Tenho que tomar cuidado da próxima vez. Você é muito branco. Qualquer coisa já te deixa marcado. Se bem que... - Ele me olhou, desconfiado. - Isso é bom. Então nada de tomar cuidado.

- Você não existe, sabia? - Ele voltou para cima de mim, se erguendo somente para desabotuar sua camisa. Eu me considerava privilegiada por ser a única dona daquela visão tão perfeita. Sim. A única. - Eu não via a hora de chegar... E agora que eu tô aqui, não tem nada mais justo do que continuar honrando aquela promessa de quando eu te amei pela primeira vez.

- Qual? - Perguntei, tão concentrada em sua reposta quanto em desabotuar a sua calça.

- A que a gente teria muitas e muitas noites como aquela. - Sorrio, imediatamente me recordando daquelas exatas palavras e retribuindo seu beijo urgente e apaixonado. Nossas línguas dançavam em uma sincronia que pertencia somente à nós dois, se deliciando no sabor uma da outra. Igualmente com nossos corpos, que facilmente se acolheram e ansiaram por um alívio imediato. Logo, aquilo já era possível quando nos livramos das últimas peças de roupa que, naquele momento, não eram mais do que uma barreira inexistente. Era hora de nos reencontrarmos. - Que saudade que eu senti de você... De fazer esse amor gostoso que só a gente faz, linda... - Disse, beijando os meus seios e me estimulando para estar pronta a recebê-lo. Não que fosse necessário.

- Eu também..  Por isso não tem como prolongar demais. Vem... - Nesse momento, ele rompeu com o último espaço que restava entre nós dois, começando num ritmo lento e delirante. Alan chupava meu pescoço, me arrancando gemidos tão fáceis quanto o ato de respirar. Mas quando ele já parecia não aguentar mais se manter daquele mesmo jeito, suas estocadas se tornaram mais precisas e fortes, enquanto ele acelerava seus movimentos e mordia a pele exposta do meu ombro. Ele era muito cauteloso quanto ao barulho, devido às nossas crianças. E, naquelas circunstâncias, eu o conhecia o suficiente para reconhecer o quanto ele estava se controlando e esforçando para não despertar a atenção dos filhos. Mas, infelizmente, eu não tinha o mesmo autocontrole. - Assim eu vou gozar, amor, não para, por favor... - Peço, arranhando desesperadamente suas costas e arqueando meu quadril para conseguir sentí-lo se derramar sob mim, tão fundo e intenso. Foi o que aconteceu em poucos minutos. Chegamos praticamente juntos em mais um orgasmo espetacular, abafando os gemidos mais altos com um beijo e sentindo nossos pulmões implorarem por um pouco de ar. Ele voltou a rolar para o meu lado e me puxou para seu peito, ofegante e cansado, quase tanto quanto eu, que agora só desejava uma boa noite de sono ao seu lado. - Você é tudo de bom, sabia? - Ele sorriu, depositando um beijo no cantinho dos meus lábios e alinhando nossos corpos num perfeito encaixe.

- Você também é. Perfeita! E eu espero que não precise mais se tocar sozinha. Você sabe, amor... Eu posso fazer isso. - Sorrio, fascinada pelas suas palavras. Eu também esperava o mesmo. Afinal, não tinha sequer como comparar as sensações. Com Alan, tudo era melhor.

- Boa noite, seu gostoso.

- E com esse romântico elogio, eu também te desejo uma boa noite... sua gostosa.

ALYRA (one shots)Onde histórias criam vida. Descubra agora