• ciúmes •

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Acordei, com o som do despertador programado para tocar às 06:30 da manhã. Era o meu primeiro dia acordando na casa dos Máximos, após um casamento perfeito e uma lua de mel incrível no Nordeste. Eu não podia estar mais feliz e inteira, despertando no meu lar e no quarto que agora Alan compartilhava comigo. Como um verdadeiro cavalheiro, ele fez questão de pedir para que, como uma boa decoradora, eu fizesse ali todos os ajustes que eu julgasse necessários. Ele queria que nosso ambiente de descanso fosse do jeitinho como eu sonhava. Então, sem interferir no seu gosto, eu providenciei tudo e alcancei o resultado almejado. No nosso cantinho, tinha uma estante reservada somente para as nossas fotos. Algumas com nós dois, outras entre amigos e, as minhas preferidas, em família. Foi olhando para Queen e Mosquito que, com um sorriso, me lembrei do motivo de ter acordado àquele horário: colocá-los para a escola. Me levantei, constando que Alan já havia saído para o trabalho, e me dei conta de que aquela era a rotina que eu sempre tinha buscado. E era só o começo.

Quando cheguei no quarto das crianças, fiquei até com pena de acordá-las. Eles dormiam tão bonitinhos que era humanamente impossível não sentir vontade de deixá-los descansando mais um pouco. Mas precisei despertá-los. Manhoso, Mosquito levantou, me dando um beijo no rosto e indo para o banheiro. Já Queen, envolveu os bracinhos em meu pescoço, ainda deitada, e me puxou para perto dela. Naquele momento, meu coração dobrou de tamanho.

- Eu não quero ir pra escola... Deita aqui comigo.

- Ô, meu amor... Eu ia adorar, mas você precisa ir. Vamos combinar uma coisa?

- O quê?

- Vocês vão até quinta-feira, e na sexta eu deixo vocês faltarem.

- É sério? - Seus olhinhos brilharam, e não segurei uma risada.

- É sério! Vamos levantar agora?

- Vamos! - Respondeu, animada, se livrando do edredom e indo para o outro banheiro. Desci, preparando brevemente o sanduíche de rosbife de Mosquito e mentalmente agradecendo por ter adiantado o bolo de Queen na noite anterior, quando Alan e eu chegamos em casa. Com todo amor do mundo, guardei as merendas em suas lancheiras e esperei que eles descessem, saltitantes e ansiosos.

- Eu já tava sentindo o cheirinho do meu sanduíche lá de cima!

- E eu do meu bolo!

- Ah, é? Então acertaram! Estão aqui as encomendas da minha rainha Queen... - Estendi primeiro uma lancheira em sua direção. - E do meu poetinha Mosquito. - Ele pegou a sua, antes de levantar os pézinhos para alcançar o meu rosto, na companhia da irmã. Juntos, cada um beijou um lado da minha bochecha.

- Você é a melhor madrasta do mundo, Kyra! - Ele disse.

- Mais do que isso! Você é a melhor segunda mãe do mundo! - Ela complementou, e meu sorriso largo já exteriorizava tudo o que eu sentia. Eu tinha os meus filhos.

Os levei até a van, quando ela chegou, desejando aos dois uma boa aula e me despedindo da responsável pelas crianças. Quando os perdi do meu campo de visão, me convenci de que já estava com saudades. E pensar que um dia quase os deixei para trás...

Já era pouco mais de dez da manhã, quando me arrisquei a tentar preparar o almoço com alguma receita da minha mãe. Tarantino ainda dormia e, mais cedo, Alexia tinha passado para buscar o sr. Ignácio e levá-lo para aproveitar a tarde com ela. Os dois eram unha e carne. E, se não fosse Alexia, parte da família e minha melhor amiga, eu até estaria com um pouquinho de... ciúmes?

Foi deixando o empadão de camarão no forno, que eu sentei à mesa para conferir se havia alguma mensagem de Alan no meu celular. E havia. Estávamos sempre nos falando por WhatsApp quando necessário. Ele dizia que já estava mal acostumado com a nossa lua de mel e que não via a hora de chegar em casa. Eu respondia o mesmo, perguntando como estava sendo no escritório e se ele precisava de alguma ajuda. Não que eu entendesse algo de advocacia, mas, mesmo sem precisar, já que Alan era um advogado conhecido e com muitos clientes, eu sempre divulgava seu perfil de trabalho no meu Instagram e indicava seus serviços para conhecidos. Este era o único perfil público de Alan, já que a sua conta pessoal nunca tinha sido aberta. E, nisso, nós éramos bastante diferentes. Eu tinha um único Instagram, para divulgar o meu trabalho como decoradora e também para mostrar o meu dia a dia, com alguns tutoriais e parcerias. Alan brincava que namorava uma digital influencer. E, às vezes, até tinha ciúmes de alguns comentários. Quando não falava apenas comigo, um pouco sem jeito por não saber demonstrar, ele respondia às replys com alguns emojis, como: 🤓/🤔/🤨. Isso sempre me fazia rir. Ele jamais arrumaria confusão com alguém na Internet, mas sempre buscava um jeito de deixar claro que não gostava quando passavam do ponto nos elogios ou quando perguntavam, por exemplo, quando eu ficaria solteira. Mas não era absolutamente nada demais. Mais do que ninguém, Alan apoiava o meu trabalho e tudo o que eu quisesse fazer além disso. Era um incentivador e tanto. E, por muitas vezes, até se prontificava a tirar minhas fotos e me ajudar com textos mais elaborados. Meu marido era incrível!

ALYRA (one shots)Onde histórias criam vida. Descubra agora