Capítulo Único

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Era mais um dia de trabalho no castelo Dimitrescu e como sempre, você acordou bem cedo para começar o seu expediente. Por mais que você e as outras empregadas cozinhassem apenas para consumo próprio (por motivos óbvios), ainda havia muito o que ser feito dentro daquele lugar, principalmente na parte da limpeza. Era comum ver manchas de sangue todas as semanas e daquela vez, você era a encarregada de limpar todo um corredor repleto das gotas carmesim espalhadas pelo chão. Com os equipamentos de limpeza em mãos você suspirou, frustrada. Limpar sangue era algo que demandava paciência.

Mas você ficou ali por horas, esfregando cada cantinho daquele maldito castelo até que não restasse uma manchinha sequer. Quando finalmente terminou você respirou aliviada, orgulhosa do seu trabalho. Seus braços estavam incrivelmente cansados e com razão, você pensou. As filhas de Alcina pareciam desperdiçar mais a comida do que realmente comê-la, pelo tamanho da bagunça que faziam.

Ver esses rastros vermelhos no chão acabaram te lembrando da vez em que a dama do castelo se alimentou diretamente do seu pescoço. Todo o contexto no qual aquela situação se encaixava fazia suas bochechas esquentarem... Você levou as mãos ao rosto por um instante, envergonhada. Sentir o corpo de Dimitrescu de tantas maneiras ainda parecia um sonho na sua mente, mas você tinha a certeza de que era tudo realidade. Infelizmente quando ela ordenou sua presença assim que você acordasse, era apenas para dizer que você não havia se transformado numa vampira como ela, caso tivesse essa dúvida.

E assim você voltou a sua vida "tranquila" de empregada sem novas emoções, pegando seus instrumentos de trabalho e caminhando para outra parte do castelo. No meio do caminho, entretanto, você ouviu um som diferente que lhe chamou a atenção. Num cômodo vazio que parecia um banheiro abandonado, você viu uma bolinha preta minúscula, os pelos do corpo eriçados enquanto rosnava para uma ratazana que ameaçava atacar o coitado. Sem delongas você acertou o esfregão na ratazana e o gatinho preto correu pra trás de você, assustado. Com a mesma cara entediada de sempre você olhou ao redor, pegou algum jornal que estava próximo e recolheu o corpo do animal morto, o jogando na lixeira. Em seguida você se virou para o gatinho preto, sem muita ideia do que fazer com ele. Não era como se você ligasse, mas era admirável que ele havia encarado um animal maior do que ele apenas para sobreviver. Você lavou as mãos e as secou no vestido (por mais que não houvesse tocado diretamente na ratazana) e respirou fundo, fechando os olhos.

— Já fiz a minha parte, agora você está por conta própria.

— ...Meow?

— Não.

— Mrrrrw? — E o gatinho correu pra baixo do seu vestido, fazendo você recuar.

—  Já disse que não! — Você deu alguns passos pra trás, irritada — Vá embora! Xô! Já te ajudei mais do que devia, sabe o quanto eu posso me encrencar se alg-

— Ora ora, mas o que temos aqui? — O zumbido de moscas antecipava o pior. Você olhou na direção da porta e as três irmãs te encaravam, então observando a figura no chão e abrindo um sorriso. Bela se abaixou, estendendo uma das mãos pro bichano — Gatinho, vem cá! Vem aqui, gatinho...

Mas o gato não seguiu as ordens dela, pelo contrário. Foi até você e pulou no seu vestido, cravando as unhas no tecido e escalando suas costas.

— E-ei, o que você...? -- Até que você tentou se desvencilhar do gatinho, mas era bem difícil levando em conta que ele estava na parte traseira do seu corpo. As três riam da sua tentativa de escapar do animal até uma delas dizer — Você sabe que é contra as regras criar animais de estimação, certo?

— Ele não é nada meu! — Você respondeu, mas finalmente o bichano escalou seus ombros e esfregou a cabeça em seu rosto. Você espirrou em resposta, parecia ser alérgica. — É sério! Dá pra me ajudar, caramba? — Irritada, você finalmente pegou o filhote e o encarou por alguns segundos. Ele realmente pareceu gostar de você.

Her PetWhere stories live. Discover now