em uma galáxia distante: tortas de morangos e vinho

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''O amor é uma força, uma energia, que se manifesta
Na alma como um sentimento de lembrança de algo
Que a alma já teve, mas perdeu.''  — Platão

[Em um universo paralelo, Namjoon e Taehyung se encontram.]

As gêmeas das más bocas— as boas bocas— dizem que quando dois corações estão destinados a se cruzarem, nem mesmo o tão famoso efeito borboleta e os seus desastres naturais avassaladores, muito menos lapsos temporais ou linhas universais paralelas podem ser capazes de os separar.

Afinal, o Amor não é encontrado na superfície girante, nas mesas voadoras, nos gritos desesperados, nos tetos arrancados pela brutalidade do vento, ou nos corpos gelados deixados para trás como marcas de uma vida outrora quente. O Amor faz do olho do furacão a sua morada, ele está no meio da loucura, no ponto em que se é possível olhar para cima e ver um céu azul, apesar das paredes do seu lar dançarem em espiral tal qual a visão de um alguém com labirintite. Por isso, às vezes temos a ilusão óptica do Amor ser um sinônimo de insanidade

Mas, aos olhos da loucura, o Amor é uma criança alada, cheia de pureza, travessura e uma incrível vontade de ter uma overdose de açúcar.

Talvez seja o cheiro de tortas de morangos e vinho exalando do shampoo que ele usa.

Talvez seja o magnetismo do calor que o corpo dele emana, ou não.

Talvez seja o sorriso curvado em uma circunferência perfeita. Ele me lembra a Lua.

Olhar para ele é como banhar-se na Lua, é como ser mar e refletir a pérola celestial que ilumina o limbo das noites.

Ele me ilumina?

Talvez seja o gosto de casa que senti na língua no segundo em que ele se aproximou.

Doce, calor, circunferência, casa.

Tudo se resume às tortas de morangos e vinho.

É Agosto, é período de colher morangos.

E as uvas?

Será que posso colher morangos nos pensamentos dele?

Será que posso ficar embriagado nele?

Talvez, no final, tudo orbite em torno das tortas de morangos e dos vinhos.

Sol.

Leonino, eu sou leonino.

Será que um leão iria gostar de comer uma torta de morangos e beber vinho?

Será que eu gosto dele, das tortas de morangos ou dos vinhos?

Não aquele brutal, doloroso, massante e destruidor— esse não é o Amor, mas a sombra dele, o falsário chamado Roma. O Roma não é apenas o contrário visual do Amor, eles diferem no léxico e no tempo verbal também.

O Roma é apressado, ele aparece quando chegamos atrasados, corremos sem direção dentro da sala de um cinema escura e acabamos sentando em cima de outra pessoa, porque não esperamos a tela clarear ou a vista se acostumar à escuridão.

Então, a vista finalmente se acostuma ao breu e você percebe que aquele não é o seu filme.

A pressa te fez ser protagonista de uma história que nunca foi sua.

Mas é comum confundir o Roma e o Amor, principalmente por sermos acostumados e treinados a não conversarmos com o escuro— ele perambula sozinho (sem sair do lugar), e a solidão o faz parecer assustador.

É nesse momento que o Roma sussurra tão sedutoramente um ''corra para a luz, não perca tempo, não seja o escuro'', e o seguimos, sem termos nem noção qual das luzes devemos seguir, há tantas ilusórias, rápidas como um flash, produzidas pelos olhos, mas elas desaparecem em um estalar de dedos.

A verdade é: nunca houve Luz, o Roma brincou com a caverna da sua mente e te fez ver herói onde havia monstros.

Em contrapartida, o Amor estava sentado no chão, conhecendo o escuro e esperando as suas pupilas se adaptarem à ausência de luz. Ele é paciente, acolhedor e te faz perceber que os pontos iluminados brincando em um eterno acende-apaga dentro da sua mente são, na verdade, o resultado da pintura Romântica pintada pelos seus olhos fechados— é uma orgia imaginária de claros-escuros.

O Amor bate no seu ombro e diz: ''Espera um pouco, pode abrir os olhos, a luz aparece gradualmente se você tiver paciência. Escute a si mesmo e aproveite essa pequena festa de um convidado só.''

Taehyung, naquela tarde, chegou depois da hora na sessão de cinema às 08:00, apesar de ter passado todos os segundos do ano pensando, ansioso, no filme que entraria em cartaz na manhã do dia 04/08. Mas, assim que pegou a sua carteira, um casaco, o ingresso e borrifou um pouco do seu perfume favorito na nuca— ele tem aroma de vinho, uma voz o chamou na cozinha.

Era o seu irmão mais novo e ele havia queimado as tortas de morangos que passou a manhã inteira preparando.

Por ser um chef de cozinha, Taehyung não poderia deixar o garoto na mão e decidiu ajudá-lo.

No meio do percurso, calda de morango  grudou nos fios vermelhos dos seus cabelos, mas era vermelho do mesmo jeito, não tinha problema.

Era vermelho, a cor do Amor, não tinha problema.

Taehyung, chef de cozinha, com os cabelos vermelhos cheirando a tortas de morangos e a nuca a vinho, ama amar, não tinha problema.

O relógio marcava 07:48 no instante em que as tortas de morangos ficaram prontas e ele saiu de casa correndo— Taehyung estava atrasado.

Ao entrar na sala 21, às 08:04, as luzes estavam apagadas— o filme iria começar logo, logo. Portanto, o ruivo decidiu esperar as suas pupilas se habituarem à escuridão em pé atrás das poltronas.

As portas da sala 21 foram abertas novamente e um homem alto, com aroma de correria, entrou, mas sem enxergar direito, ele acabou por esbarrar em Taehyung.

''Desculpe! Eu não tinha te visto!''

''Não se preocupe, as luzes devem acender em breve.''

Taehyung disse e sorriu.

Lua.

A claridade retornou.

Os dois homens se olharam.

''Eu sou Namjoon, prazer.'' O rapaz bonito e moreno estendeu a mão.

Namjoon, o poeta que, embora tenha escrito e lido tanto sobre o amor, acabou de conhecer o Amor.

''Eu sou Taehyung, o prazer é todo meu.''

Tortas de morangos e vinho, ele tem um perfume que estranhamente me lembra tortas de morango e vinho.

O filme começou e eles sentaram lado a lado— Namjoon e Taehyung estavam prontos para assistir (viver) aquela história juntos.

O título apareceu e ambos fixaram os olhos na tela.

''Amor: a arte de estar no escuro, esperar e (re)começar de onde nunca deveríamos ter parado.''

Esse foi só um extra em um formato bastante diferente e diretamente de uma realidade paralela, em homenagem à pessoa que deu nome à essa (quase) história (trágica) de amor. 💚

find love among vast ignorance, angelOnde histórias criam vida. Descubra agora