𝐌𝐎𝐓𝐈𝐕𝐎𝐒 𝐏𝐀𝐑𝐀 𝐅𝐈𝐂𝐀𝐑

Capítulo II

Me levanto sonolento da cama e olho para a direção de onde o sol invade meu quarto e faz com que meus olhos ardem, que horas era agora? Me pergunto e vou em direção ao banheiro.

Escovo meus dentes e tento me lembrar de algo, não sei porque mas algo me dizia que eu estava me esquecendo de alguma coisa, e uma coisa muito importante.

Solto um suspiro de frustração por não conseguir me lembrar e enxaguo minha boca, logo pegando uma toalha de rosto e limpando minha face.

— Alexa, ligue as luzes do meu quarto e abra as cortinas por favor, logo depois me diga a agenda de meu dia hoje. — digo e vou tomar um banho, a trilha sonora de chuveiro hoje seria a voz robotizada da Alexa, não poderia reclamar, ela era uma boa "amiga" afinal.

Após uns minutos termino meu banho e saio do box com o cabelo todo molhado e pingando pelo chão, isso era desconfortável e se Martha visse isso ela me mataria por molhar o chão do banheiro, minha sorte é que hoje era domingo e ela não viria trabalhar.

Paro em frente a pia e retiro meu secador de dentro do armário da pia, logo o plugando em uma das tomadas e o ligando, apesar do calor do Rio de Janeiro eu não gostava de ficar com o cabelo molhado.

— Alexa toque minha playlist Dia feliz. — peço e logo começa a tocar Exagerado do Cazuza, uma música com ritmo dançante, precisava começar meu dia bem e ver o que eu iria fazer nele, não tinha nada na minha agenda de importante, então meu dia estava livre.

" ...Jogado aos seus pés eu sou mesmo exagerado..."

Cantarolo a parte da música e desligo o secador vendo que meu cabelo já estava completamente seco. Dou um sorriso para o espelho ao ver meu rosto limpo, e vou para meu closet, ainda estava de toalha.

Olho minhas opções de roupas nos cabides e como estava um dia calorento eu decido por uma bermuda na cor bege e uma blusa de mangas laranja escrito atividade paranormal em inglês, apesar de estar calor esta blusa era bem fresquinha e larga, ótima para passar o dia sem fazer nada.

Saindo do meu closet e pegando meu celular que estava na cômoda ao lado de minha cama vejo que começa a tocar Velha Infância dos Tribalistas na versão de Melim, não é por nada não mas tenho ótimo gosto musical.

Coloco o celular em meu bolso e vou assobiando para a cozinha, estava com fome e estava pensando na possibilidade de ir na padaria Farro, que fica a poucos quarteirões de distância, minha bicicleta já estava parada a um tempo mesmo.

Chego na entrada da cozinha e me assusto quando vejo uma cabeleireira ruiva mexendo em meu fogão.

Pra minha surpresa a cabelereira ruiva estava usando um pijama de arco íris, o meu pijama de arco iris.

Ahhhh, era isso que eu estava esquecendo, J-Hope, você conseguiu superar o JK na lerdeza hoje.

— Anjo, você acordou cedo! — digo com ela ainda virada de costas, estava muito na cara que eu tinha me esquecido dela? Que irresponsabilidade a minha! — Você podia ter me acordado, vou pedir algo pra nós comermos enquanto conversamos um pouco, pode ser?

— Não precisa! Eu não quero incomodar, aliás, mais do que já incomodei, mas enfim, estou fazendo nosso café da manhã, ontem eu nem te deixei comer o lanche que você preparou com toda a minha cena. — finalmente ela se vira pra mim e diz de cabeça baixa enquanto mexe em seus dedos e fica batendo sua perna direita no chão, ela estava ansiosa. — Espero que não tenha problemas eu mexer em sua cozinha, como você estava dormindo eu não quis te acordar. — finalmente levantando os olhos ela diz com eles arregalados.

— Heyhey , se acalma ok? — me aproximo dela com cuidado para não a assustar, apesar de achar que ela já adquiriu confiança o suficiente em mim. — Não tem nenhum problema em usar a cozinha, é que pra mim isso é estranho. — sorrio sem graça e levo minha mão direita para minha cabeça, bagunçando meu próprio cabelo. — Eu não costumo cozinhar tanto, a última vez que tentei eu botei fogo no meu microondas, não me pergunte como.

Era bem humilhante o fato de que coloquei metal no microondas, não é todo mundo que precisa ficar sabendo disso.

— Ah, eu também não sou nenhuma Masterchef da vida, o pouco que sei eu aprendi com tutoriais do YouTube. — se vira novamente para o fogão, ela estava envergonhada ou era impressão minha? Tento a deixar confortável o máximo possível.

— Você pelo menos tem a inteligência de aprender com eles, nem com minha mãe do lado me ensinando eu consegui fazer algo. — confesso — Pode deixar que arrumo a mesa, você já está fazendo o café.

Enquanto pego os pratos nos armários , talheres e copos, um silêncio constrangedor paira sob o ar, eu tinha que mudar aquela situação, na cabeça dela deve estar se passando um monte de coisas da qual não deveria, como sentimentos de arrependimento de não ter soltado minha mão, culpa de estar sendo um "fardo em minha vida" pelo ponto de vista dela, e o sentimento de insuficiência, por não ser capaz nem mesmo de tirar sua vida.

Dou um longo suspiro ao ver que ela desligou o fogo e me sento na mesa.

— Não sei se está do seu gosto, como eu disse não sou nenhuma Masterchef. — colocando um prato com pães na chapa e outro de ovos mexidos ela diz. — Não sei se gosta de café ou de como você gosta, então não está tão doce nem muito amargo, e tem leite também. — volta para o fogão, e pega a jarra de café, o cheiro predominava o local, e eu particularmente amava ele, se eu não fosse coreógrafo ou estilista eu com toda certeza seria dono de uma cafeteria.

— Sem problemas, se foi feito por você tenho certeza que está uma delícia! — coloco o café em uma xícara e bebo um gole dele — Está uma delícia! Tem certeza que aprendeu isso com tutorial?! — indago com os olhos arregalados, não é todo mundo que me agrada no quesito café, e o anjo conseguiu.

— Que bom que gostou — se senta em minha frente e começa a se servir. — Assim que terminarmos o café da manhã irei embora, não quero lhe incomodar mais, se não me engano hoje é domingo, devia ter algum compromisso ou passeios com sua família. — de bochechas coradas e cabeça para baixo ela diz, achei que as pessoas só coravam em livros. — Aliás, não sei se reparou mas me desculpe pois peguei um de seus pijamas.

— Já disse que sua presença não incomoda. — com um olhar repreendor a respondo, teria que tirar aos poucos essa sensação dela de que é encomodo em tudo. — Agora mudando de assunto, que tal você me dizer seu nome em? — relaxo minha postura e face e a pergunto em tom gentil, logo levando um pedaço de pão para minha boca.

— Me chamo Alice, muito prazer, me desculpe por ter me conhecido nessa situação tão desagradável.

Então o nome do anjo era Alice, já li uma vez que este nome tinha significado de nobreza e verdadeira, combinava com ela.

— Então Alice, acho que temos que conversar certo?