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⚠️ ATENÇÃO!
Esse capítulo narra cenas de violência física que podem despertar gatilhos. Se você não se sente confortável o suficiente com isso, NÃO LEIA!

Gostaria de mais uma vez lembrar que essa é uma Au original minha e detenho de todos os direitos sobre ela. Além disso tenho total conhecimento da possibilidade de que isso fira a imagem e personalidade dos personagens insoirativos, e gostaria de deixar claro que essa não é minha intenção.

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Domingo, 07 de abril de 2025, 11h0 PM

O dia para Sarah havia sido... Triste. Um depoimento aqui, um exame ali, uma entrevista, cancelamentos, ofensas... Sua vida se resumia a isso agora. Há exatos 8 dias a mulher havia decidido procurar a justiça e expor as agressões que vinha sofrendo há meses. Espera, você não sabia? Okay, ninguém melhor que ela para contar o que aconteceu...

SARAH ANDRADE

Nos dois primeiros anos tudo havia sido um mar de rosas. Eu estava feliz com ele. Éramos felizes. Apesar de todos os comentários, apesar de muitos desejando que eu passasse pelo que passo agora só pra me provarem estarem certos eu era feliz. Eu estava feliz.

Sabe o conto da Cinderela? Assim tudo se tornou. Era como um baile, o príncipe e a princesa dançando felizes sem se importar se o relógio bateria meia noite, mas o soar dos sinos veio anunciando as zero horas e todo aquele conto de fadas se desfez nas minhas mãos.

As coisas aconteceram aos poucos, passo por passo em direção a um abismo onde a luz do sol era um minúsculo ponto. Quando dei por mim tudo já era explícito, já não haviam mais pedidos de desculpa, nem promessas de melhora. Eu sabia que se isso não acabasse naquele momento só acabaria de outra forma, com um dos dois sete palmos abaixo da terra. As pessoas ainda não tem ideia da metade da história, nem se quer de um terço de tudo que eu passei, de tudo que vivi, de todas as ameaças.

Quando estávamos juntos há mais ou menos dois anos e três meses Lucas mudou completamente. Ele decidia o que eu vestiria, e caso eu ousasse usar um decote ou uma saia justa simplesmente não sairia de casa, isso quando ele não me empurrava a solavancos para trocar a roupa. Eu achava que ele apenas estava me protegendo de olhares maldosos, ao menos era o que ele dizia... “É pro seu bem” era o que ele dizia sempre que me trancava no quarto até que eu decidisse que trocaria a roupa...

Eu não tinha muita escolha, me sentia culpada, na minha cabeça ele estava mesmo me protegendo e eu que era uma tremenda filha da puta ingrata. Cheguei a conversar com minha mãe diversas vezes mas adivinhem só: era sempre minha culpa...

Por volta de outubro do ano passado eu comecei a desconfiar que além de tudo Lucas ainda estaria me traindo. Ele parou de dar satisfação depois de um tempo, mas era estranho, escondia o celular, aparecia em stories de pessoas que nem ao menos conhecíamos, então decidi que descobriria a todo custo se aquilo era verdade ou não. Por diversas vezes eu o questionei e ele disse que eu era louca, pirada, que aquilo era caraminhola da minha cabeça e no  final eu caia como um patinho, chorava por horas, falava com Roberta que dizia que eu precisava confiar nele, enfim...

Um dia eu sem querer confirmei tudo que havia pensado quando cheguei em sua casa e o peguei na cama com uma blogueira loira, eu nem sabia o nome daquela piranha mas ela cheirava a permuta... Eu fiz um escândalo, expulsei a mulher dali que por medo estava a ponto de sair pelada, disse que iria expor toda a situação, fiz o maior escarcel, mas isso só piorou tudo. Aquele foi sem dúvidas um dos piores dias da minha vida.


21 de outubro de 2024 – Sarah’s memories

—Você acha que eu sou o que Lucas? Me trocar por uma... Por uma vagabunda dessas? ACABOU, TÁ TUDO ACABADO! —Gritava Sarah com lágrimas caindo pelo rosto. —Eu aguentei tudo, calada, sem dizer um piu e você faz isso comigo? Traição Lucas? Eu tenho NOJO de você! —completou a loira. No momento em que a última palavra saiu da boca da mulher Lucas desferiu um tapa em seu rosto. Não era um simples tapa, era um tapa com toda a sua força, chegando ao ponto de não apenas deixar uma marca de cada um de seus dedos mas também cortar a boca da outra.

–CALA BOCA SARAH, CALA A BOCA! Se eu fiz isso foi porque você não estava fazendo o seu papel como minha noiva! —Dizia o homem enquanto puxava Sarah pelo braço direito para o quarto.

Ela tinha medo. Era apenas medo. Ela não sabia o que aconteceria. Nem se quer se sairia viva daquele quarto.

Lucas a jogou encima da cama com força, fazendo com que ela batesse sua cabeça com força na cabeceira. Ele bateu a porta com força e se aproximou a passos longos da cama onde Sarah se encolheu apertando seus joelhos temendo o que aconteceria ali.

—Eu vou te ensinar... Como não... gritar... Comigo —O homem dizia em intervalos onde dava socos no rosto de Sarah. Ela não conseguia pedir para que ele parasse, apenas chorava baixo enquanto era friamente violentada. Talvez fosse melhor que acabasse ali, mesmo, que a morte viesse. Aquela era uma prisão onde Sarah estava presa e a única alternativa seria que tudo acabasse ali. Que ele a matasse logo, que ela fosse liberta logo...

—Para Lucas, por favor—Sarah conseguiu pedir baixinho com um último fio de voz que restava. Enquanto protegia seu rosto já ensanguentado e inchado com as mãos.
Lucas no mesmo instante parou com o punho fechado no ar e como em um estalo voltou a si.

—Tá vendo Sarah, olha o que você me faz fazer! —O homem dizia andando de um lado pro outro com as mãos atrás da cabeça. —É melhor você ir embora —Continuou depois de alguns instantes.

—Lucas, eu não posso ir embora assim, olha a minha situ... —Foi interrompida por Lucas que gritou.

—VAI EMBORA SARAH! —gritou ele. Sarah apenas se levantou encolhida erguendo a alça de seu vestido de oncinha e saindo em silêncio. No sofá de Lucas tinha um moletom longo que a mesma vestiu colocando o capuz e um óculos escuro. Ela ficou em casa quase um mês, sem sair sem postar stories onde aparecia. Sabia o que aconteceria caso a mídia descobrisse o que acontecia. O pior de tudo é que mesmo assim ela se sentia culpada. Cada soco, cada solavanco havia sido sua culpa. Talvez ela não tivesse sido a mulher que Lucas precisava... Ele estava nervoso e perdeu a cabeça, é normal, pensava ela todos os dias em que passou em seu apartamento.

Alguns dias depois, 23 pra ser mais específica, o homem apareceu na porta do apartamento de Sarah. Ele chorou, disse que aquele não era ele, e que aquilo nunca se repetiria. Era o mesmo cenário que ela havia ouvido falar anos atrás. Acontecia da mesma forma. Mas dessa vez ela era a vítima. Apesar disso, apesar de perceber isso, ela o amava mais que a si mesma. Era completamente apaixonada e dependente daquele homem, então apenas o abraçou e disse que estava tudo bem.

SARAH ANDRADE

Esse foi o discurso dele por mais quatro ou cinco vezes, até que eu me cansei. Cheguei em um ponto onde não caia se quer uma lágrima de meus olhos enquanto ele me puxava pelos cabelos até um cômodo onde me chutaria, me daria tapas... Eu era fria, não sentia nada. Não sentia dor física, não sentia dor emocional, amor, nojo, nada.
Com o tempo um sentimento foi nascendo. Ódio. Rancor. Aquela era minha proteção, era o que me salvaria daquilo, era a única forma de sair viva. Por diversas vezes planejei fugir do país, sem dar notícias a ninguém, mas todas as vezes ele descobria e eram mais surras. Mas dessa vez daria certo. Fugir já era pouco, estar sã e salva não era mais suficiente. Ele precisava sofrer as consequências. Precisava pagar por cada vez que encostou sua mão asquerosa em mim.

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