Meu nome é Bill e o teu?

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Junho de 1979.

Eram seis da manhã quando Elle acordou do seu sossego (as poucas horas em que se deitava para dormir), ela repetia os mesmos gestos todos dias. Tomava seu café em silêncio enquanto observava a mãe e relembrava da noite anterior em que presenciou os problemas conjugais dos pais. Elle costumava imaginar altas conversas com a mãe estando ali, mas o único som que reinava no ambiente era o rádio na estação gospel. Fazendo perguntas banais pausadamente e deixando soltar uma risada ou outra, a garota terminava seu café e partia para a escola, escutando a benção da mãe de longe. Em direção a escola, repetia-se os mesmos atos também todos os dias, mas não era como se vivesse num eterno déjà-vu, Elle conseguia a proeza de imaginar uma história diferente a cada dia. Cantarolava alguma canção de amor que tocou no rádio na noite anterior e ficou em sua mente, e treinava como iria agir quando encontrasse o Robert De Niro. 

Elle Woods cursava o último ano do ensino médio, na principal escola pública de Lafayette: Jefferson High School. Ao chegar a escola, passava rapidamente pelo pátio e ia direto para um banco perto de um pequeno canteiro de flores mais afastado, e se sentava observando de longe os alunos. Não é que Elle não possuísse amigos, na verdade todos a conheciam e a tratavam bem, mas ela não se sentia confortável estando perto deles e de certo modo, possuía até uma repulsa por eles.

Neste dia em questão, Elle esticou-se no banco e encarou o céu azul daquela manhã, ele tinha algo diferente, pensou ela. E teve também uma imensa vontade de estar na praia, deitada na areia e deixando o sol tocar-lhe a pele sem que houvesse roupas para impedir. A garota tinha uma dualidade de sentimentos naquele dia, a sensação boa de ter se teletransportado em frações de segundos para um lugar confortável e que estivesse feliz, e o fato de se sentir vazia ao mesmo tempo por estar onde estava. Porém quem podia lhe garantir onde ela realmente estava? Somos nós entendedores o suficientemente para conseguir discernir o que é o agora e o que já foi? Os devaneios de Elle são interrompidos por uma fala:

– Ei garota, não escutou o sinal?

– Hum?

Elle levantou-se e encarou o rapaz em sua frente.

– Eu estava brincando. — Riu — Meu nome é Bill e o teu?

– Elle.

– Eu já sabia. — esbanjou um meio sorriso. — Aproveitei a oportunidade pra falar contigo, eu te vejo por aí desde... sempre.

Elle colocava muita atenção no que Bill dizia, ela gostava da voz dele. Intimidada pela presença masculina tão próxima, Elle sorriu e corou as bochechas sem a mínima intenção assim que ele terminou de falar. Não o respondeu. Bill fez menção a se sentar no banco e ela se afastou para o lado, assim instalou-se uns minutos de silêncio entre os dois. Elle tinha sua cabeça inclinada para trás e os longos ondulados cabelos balançando de acordo com o vento, ela olhava para o alto e sentia o olhar de Bill a encarando. A mente de Elle era ocupada por vários pensamentos ultrapassando uns aos outros.

– Então você anda me seguindo? — Perguntou Elle.

Esperando pela resposta e tendo uma nova oportunidade de observa-lo melhor, Elle enchergava em sua frente lindos olhos verdes e como a posição em que ele estava, deixava a metade de seu cabelo ser iluminado pelo sol e assim, refletir na pele dela. Bill também levou alguns segundos para responder, extasiado pela forma de como a garota o desconsertava.

– Não... Eu sei que você é amiga da Grace, te vejo com ela. — Grace Holmes, ele diz.

– Certo, até mais Bill, talvez nos encontremos por aí.

Durante a aula, Elle não conseguia esquecer do rapaz que tinha acabado de conhecer. Aquela primeira impressão tida foi a melhor em que a garota podia ter, amava conhecer pessoas intimidantes. Bill comentou com seu melhor amigo, Jeffrey Isbell sobre Elle:

– Cara, ela é estranha.

– Estranha como?

– Ah, não sei explicar...

Na saída do colégio, Elle vinha andando com Grace quando avistou Bill e Jeffrey. Bill acenou para chamá-la. Grace a incentivou para ir, visto que já era amiga dos dois rapazes.

– Ei garotos, tudo bem? — Grace sorria simpática ao receber a resposta em uníssono pelos dois.

– Elle Woods, deixa eu te apresentar meu amigo. Este é Jeffrey Isbell.

Elle apenas sorriu fraco e acenou para ele. 

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