Elle parecia mais disposta a cada dia, não tinha mais tanta vontade de estar dormindo para não saber se está viva, pois ela sentia ter um motivo de estar acordada: que era estar com seus novos amigos. De certa forma, aquele dia na igreja a aproximou de Deus, do amor, e de tudo que lhe proporcionou sensações, incluindo Bill e Jeffrey. Estes que cada vez mais eram impressionados pela força (quase sobrenatural) que os tomavam quando a garota chegava perto. Especialmente Jeffrey, que tão inebriado, se sentia inseguro a dar qualquer tipo de movimento ou fala, quando estava perto de Elle. Ela percebia aquilo, gostava e às vezes odiava. Não o fazia de propósito, queria apenas deixá-lo confortável o suficiente para que pudessem navegar em águas mais profundas, desvendar seus mistérios... Elle adorava fazer isso com todos, exceto com seus pais, mas adorava o desconforto que podia existir entre duas pessoas.
– Grace, olha o que está fazendo com meu cabelo! Dê-me isso! — Elle tomou o pente das mãos da amiga e começou a ajeitar seus cachos em frente ao espelho. Grace correu para a cama e jogou-se, observando a amiga de longe. Tinha um sorriso tímido no rosto e altos pensamentos na cabeça. Elle parou o que estava fazendo e a olhou:
– O que foi?
– Nada... Só estava pensando...
– Pensando no que? — Voltou a encarar o espelho.
– Sobre você, William e Jeffrey. Não sente que está próxima demais deles? Você nunca permitiu essas coisas... Não acha que isso faz eles sentirem algo por você? E você, por eles?
– Não sei... Eu gosto de estar com eles. Só isso.
– Só?
– Sim.
– E a idéia de beijá-los?
– Seria bom. — Elle riu.
Já era de noite quando Bill e Grace decidiram sair juntos para ir a um cinema. E Elle ficou a espera de Jeffrey, para encontrarem eles numa lanchonete assim que o filme terminasse. Jeffrey chegou com uma moto Honda de algum ano da década de 70, emprestada por um amigo. Ele vestia uma jaqueta jeans escura e calças da mesma cor. O cabelo era curto e bagunçado pelo vento. O estilo de Jeffrey Isbell naquela época fazia os olhinhos azuis de Elle Woods brilhar.
– Você vem?
Elle concordou e foi até ele, subindo na moto, o abraçando por trás e deitando sua cabeça nas costas dele. Ali ela já havia decorado todo o caminho a se percorrer e pensava o quão o corpo dele se vestia lindamente em si próprio. Ah, sentia-se corajosa ao extremo, como se quando estivesse o lado de Jeffrey pudesse se tornar uma super-heroína, uma deusa. No ponto de vista da física, ambos estavam com uma aceleração contínua em quilômetros por hora, mas na vista de Elle era tudo em câmera lenta, o cabelo balançava devagar, o perfume de Jeffrey ocupava o espaço gradativamente... Soltou-se do corpo dele e levantou um dos braços para cima, sentindo firmeza, soltou o outro e vôou... Assim como o primeiro de uma ave, no começo insegura e por fim, livre e leve. Fazendo o que se nasceu para fazer, seguindo seu próprio instinto. Mesmo amando aquela sensação, "fez seu pouso", voltando a se segurar em Jeffrey, como se não conseguisse ficar muito tempo longe. De fato, tudo isto ocorreu em cinco segundos.
– Porra, que atuação do Al Pacino! — Bill comentava com todos.
– Sim! Meu Deus, eu amei o roteiro, Bill. — Grace acrescentou.
Bill e Grace conversavam sobre o filme que tinham assistido "Justiça Para Todos (1979)". Estavam todos sentados juntos numa mesa em uma lanchonete. Grace e Elle de um lado e os meninos do outro, todos tomavam Coca-Cola de garrafinha de vidro. Como sempre, Bill e Jeffrey se perdiam em suas conversas acerca do futuro musicista de ambos. Grace os acompanhava de vez em quando, dizendo o quão achava legal duplas de rockstars, like a Mick and Keith. Na caixa de som da lanchonete tocava David Bowie, Elle balançava a cabeça timidamente. Grace percebendo, perguntou:
– Quer dançar?
– Uhum.
As duas se levantaram e caminharam próximo a caixa de som, onde havia uma iluminação azul néon. Grace mexia seus quadris fazendo sua saia vermelha rodar, enquanto Elle levantava os braços até em cima e chegava mais perto da amiga. Alguns no restaurante olhavam para elas sem muito interesse e voltavam a direção as suas mesas, enquanto outros, maioria grupo de jovens rapazes também presentes, riam para as garotas. Bill e Jeffrey aproveitaram e pediram duas cervejas. Tocou-se mais duas ou três músicas seguidas de Bowie que fizeram Elle e Grace continuarem a dançar. "Isso aí garotas!" — Bill gritou sinalizando o efeito do álcool em seu juvenil gosto para bebidas. Jeffrey se encontrava sob os mesmos efeitos, mas não dizia uma palavra sequer, ele e Bill apenas bebiam e não conversavam mais. Elle e Grace os avistaram naquela situação e riram deles de longe. Aquele foi um dia bom. De fato, todos estavam felizes e com um sentimento semelhante de esperança, ânimo. Uns com mais, outros com menos, porém todos sentiam a mesma coisa. Como se o destino estivesse definindo seus caminhos e conexões. Elle estava feliz naquele instante, mas sentia que podia tirar algo a mais. William respirava aliviado ao conseguir sair (nem que por umas horas) da sua realidade e esta mesma ânsia pelo alívio o traria a caminhos condenáveis, estes que o destino estava programando para ele naquele exato momento. Izzy sentia-se pacato e receoso ao mesmo tempo, pois se atentava a cada movimento de Elle, como se a estudasse de longe. Perto das onze, ao perceber alguns jovens irem embora, Elle sinalizou para que eles também pudessem ir. Grace e Bill voltaram de moto, pois Bill havia pedido para ele mesmo ir entregar a moto emprestada. Enquanto Elle e Jeffrey caminhavam, o vento gelado os abraçava.
– Pode acender para mim? — Jeffrey pediu. Enquanto abotoava sua jaqueta jeans e segurava desajeitadamente o cigarro na boca.
– Fique quieto um instante.
Então Elle riscou o isqueiro e ao acender o cigarro de Jeffrey, pôde ver as chamas refletindo nos olhos castanhos escuros do rapaz. E estando tão próxima, conferiu os brincos discretos que ele tinha na orelha, o caimento de uma mexa de cabelo que tampava um pouco da testa e só confirmou o quão gostava daquele sorriso manso que ele sempre tinha nos lábios. Jeffrey tomou o isqueiro da mão dela e guardou em seu bolso, Elle continuava estática o olhando, ambos estavam parados de frente para o outro. Então Jeffrey deu uma tragada no cigarro e Elle observou as bochechas dele afundarem com o gesto, ele olhou para o lado e cansado, a beijou na bochecha. Elle sentiu no corpo inteiro.
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The Damn Sky
Teen FictionElle Woods tem 16 anos e vive infeliz. Até certo momento de sua vida, mesmo com todas as coisas que possui, ela não se vê onde mora. Nunca foi impedida pelos pais de fazer o que quer, mas o seu próprio medo que a impede de ser feliz. Todas as coisas...