Após aquele primeiro contato com os dois rapazes, formou-se um — quase — grupo entre Elle, Grace, Bill e Jeffrey. Apesar de Elle não aceitar todas as chamadas de seus amigos para sair, ela gostava de estar com eles. Numa manhã nebulosa, Elle se arrumava para ir a uma missa. A escova deslizava pelos cabelos, os alinhando e formando longas ondas douradas, que de vez em quando fazia alguns fios caírem sobre o vestido preto que ela usava. Sempre chegava na igreja já com todos presentes, avistou Bill nos primeiros bancos ao lado dos pais e dos irmãos, o cumprimentou de longe com um sorrisinho e sentou-se ao lado de uma senhora. As palavras do padre não tinham seu principal foco, ela analisava toda a arquitetura da igreja, as pinturas arrebatadoras no teto, as estátuas dos santos... Como aquele lugar tinha paz, pensava ela. Não tinha certeza se Deus estava realmente ali, mas existia alguma presença que a preenchia de conforto.
– Não sabia que iria estar aqui hoje. — Jeffrey apareceu ao lado de Elle.
– Bill me convidou... Fique aqui comigo. — pediu.
Então os dois ficaram sentados juntos, Jeffrey pensava no que iria fazer depois que acabar a missa e olhava de relance para a família de Bill. Elle continua nos devaneios sobre a áurea da igreja e o que as pessoas buscavam ali, porém notava disfarçadamente a forma como Jeffrey estava sentado ao seu lado e a enorme vontade que tinha de abraça-lo e compartilhar dá paz que ela sentia naquele momento. Elle tinha tanto dentro de si, que sentiu uma pontada na barriga e um incômodo na garganta como se estivesse prestes a vomitar uma estrela de cinco pontas. Porém, aquele sentimento todo se dissipou quando o padre encerrou a missa e todos começaram a se levantar. Elle permaneceu sentada, enquanto Jeffrey foi ter com Bill.
– Ei cara, nós vamos agora para a minha casa, minha mãe vai dar um almoço. Cadê Elle?
– Está ali. — Jeffrey respondeu.
– Tudo bem, loira? — Bill disse assim que chegou até Elle. — Todos nós vamos para minha casa agora. Quer vir?
– Sim.
Os pais de Bill seguiram para casa de carro pois o rapaz disse que queria ir caminhando com os amigos. Os três iam juntos numa rua larga e vazia e que a cada passo ia se esmaecendo a vista pela neblina. Bill e Jeffrey conversavam sobre o avanço deles em aprender a tocar instrumentos, a possibilidade de montar uma banda e como fariam aquilo. Elle ao lado deles apenas escutava. Tinha suas duas mãos juntas na frente do corpo e o olhar para o verde fraco das árvores. Se sentia um pouco cansada daquela conversa, pois os seus pensamentos eram de querer beijar os dois rapazes e saber que tipo de sensação eles poderiam dar a ela. Ao virar a esquina, era visto uma grande praça vazia e um vasto gramado meio úmido da chuva, Elle perguntou:
– Podemos ficar aqui uns minutos? Estou cansada.
– Claro, Elle.
Elle caminhou e se deitou no gramado. Não havia ninguém ali além deles. Ela esticou os finos braços para a cima e ergueu o queixo, suspirando fundo, tentando enxergar algo no céu. Os dois rapazes se sentaram perto dela e a observaram por um tempo, depois voltaram a conversar. Elle fechou os olhos e começou a ver várias borboletas azuis e alguns desenhos abstratos na cores laranja, vermelho e amarelo. De repente, vindo de alguma casa, passou-se a escutar uma melodia de piano, fazendo Elle se sentir sonolenta e virar-se de lado para dormir.
– Ela está dormindo? — Bill perguntou baixo.
– É.
– Que porra.
– Vamos fumar, William. — Jeffrey tirou um maço de cigarro do bolso e acendeu um para cada. Assim que os dois rapazes terminaram de fumar o maço de cigarro inteiro, Elle virou-se para eles:
– Já terminaram?
– Você estava acordada? — Jeffrey perguntou.
– Sim. Que horas são?
– Deve ser umas três da tarde. Eu acho que devemos ir, a mãe de Bill deve estar preocupada. — Bill bufou.
William Bailey tinha uma vida com constantes semelhanças a de Elle, porém com a principal diferença em que ele não podia ter tudo que queria. Mas o que importa materialmente quando se tem seus sentimentos internos feridos, apagados, censurados? Por isso, era-se tão fácil agradar a William. Ao mesmo tempo que buscava a simplicidade do amor, tinha ambições por um futuro certamente incerto. Enquanto a Elle, conformava-se com a vida que tinha, mas no fundo estava mesmo era atrás da complexidade que existe na relação entre pessoas. Elle tinha consciência de tudo que viveu, sem a necessidade de voltar ao passado, não tinha para onde voltar. William ainda teria que voltar várias e várias vezes ao lugar de onde veio para enfim, ser livre. O almoço já havia terminado quando eles chegaram, os pais de Bill cumprimentaram Elle e Jeffrey com falas rápidas e voltaram a direcionar as pessoas em sua casa. Bill sentou-se ao lado dos irmãos, irritado, mas sem deixar transparecer. Elle e Jeffrey estavam no sofá a frente, provando um pedaço de bolo de chocolate dado pela mãe de Bill.
– Sua irmã é linda. — Elle comentou observando a menininha de 4 anos ao lado de Bill.
– Sim, e chata.
– Eu gostaria de ter irmãos.
– Eu também. — disse Jeffrey.
Elle agradeceu a mãe de Bill pelo bolo, limpou as mãos na própria roupa e fez menção de se levantar para ir embora, Bill e Jeffrey acompanharam ela até a rua, Bill aproveitou e comentou sobre o passeio de moto que eles iam dar na próxima semana.
– Eu te falo. — Elle disse indo em direção a porta. A porta era estreita e os dois rapazes quiseram passar junto com ela, ficando assim todos próximos uns dos outros e deixando Elle nervosa com aquilo. — Até mais. — Elle tocou a mão de Jeffrey rapidamente e foi.
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The Damn Sky
Ficțiune adolescențiElle Woods tem 16 anos e vive infeliz. Até certo momento de sua vida, mesmo com todas as coisas que possui, ela não se vê onde mora. Nunca foi impedida pelos pais de fazer o que quer, mas o seu próprio medo que a impede de ser feliz. Todas as coisas...