Década 1920.
A revolta do proletariado dava início ao Partido Comunista de Paris. Ymir era apenas uma operária quando se viu no maior impasse de sua vida: o amor ou a causa?
Apaixonada desde sempre pela melhor amiga de infância, Ymir busca lutar pe...
Olha, eu tava ouvindo uma música assim, bem bad sabe. E do nada me veio a ideia de escrever um romance lésbico, quem melhor que as rainhas sapatonas do mundo dos animes pra estrelar esse livro, não é meixmo?
Espero que gostem.
Ainda não revisado...
Avisos: Contém gatilhos de disforia de gênero.
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"A hundred days have made me older
Since the last time that I saw your pretty face
A thousand lies have made me colder
And I don't think I can look at this the same"
As lágrimas queimavam seu rosto como se vertessem do próprio inferno. A mulher, desnorteada com a quantidade de informação para digerir em tão pouco tempo, apertava a pia comum de seu banheiro compacto, olhando seu reflexo raivoso no espelho manchado.
O grande amor de sua vida se casaria na semana seguinte.
A raiva que consumia seu coração poderia facilmente começar uma guerra. O ódio que ardia em seus olhos deixaria qualquer coisa em combustão, se pudesse. Ymir não estava disposta a perder a única pessoa no mundo que trazia sentido para sua existência medíocre. Amaldiçoou sua existência, amaldiçoou em voz alta e clara sua condição de nascimento. Por que mulher? Por que nascer enclausurada num corpo que sequer pode se impor nessa sociedade de merda? Ymir não se conformava. Se um dia houve algum tipo de respeito pela opinião da mulher no mundo, este era a longos séculos atrás. Em 1925, o sufrágio feminino ainda era um bebê comparado aos anos infindáveis de patriarcado opressor. Votar era um passo adiante, em direção à libertação. Mas como ativista e operária, Ymir não podia se conformar.
A revolução industrial deixou algo muito bem claro para a Ymir: o trabalho feminino apenas foi uma consequência da queda de mão de obra masculina por causa das baixas em guerras. Fingiam que se tratava de uma evolução para as mulheres, mas na verdade era mais um meio pelo qual os homens podiam controla-las. Trabalhar até morrer, jornadas exaustivas de trabalho, desestimulo da escolarização, filhos, casa, roupa, louça. A vida da mulher começou a se tornar sufocante. Não havia mais tempo para ler, não havia mais tempo para criar. Não havia mais tempo para amar. Apenas trabalho.
Ymir arrumou seus cabelos curtos, mais escuros que o habitual castanho por causa da água que jogara neles. Seu rosto, ainda inchado pelas lágrimas, transparecia um pouco de calma após o surto. Caminhou nua por seu apartamento minúscula, na Le Blanc Mensil, subúrbio operário ainda não totalmente habitado. Ascendeu seu palheiro e tragou o fumo como se precisasse desse veneno para viver. Sentou-se frente a janela que dava para a rua mal iluminada. A lua era a única fonte de luz naquela noite quente de verão. Ymir mal conseguiu conter o choro, coçando freneticamente sua testa com o polegar da mão esquerda, a mesma que trazia o cigarro entre os dedos indicador e mediano, lembrando-se de sua amada.