O Garoto Sem Nome

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  Já era dia quando sentiu os fracos raios de sol da manhã baterem em seu rosto entre as frestas de sua janela. Sentia seu corpo extremamente dolorido, e o início de uma enxaqueca ameaçava sua cabeça como se estivesse levando várias pancadas ao mesmo tempo.

 Levou um tempo para criar coragem, mas quando o fez, se levantou do colchão velho para a janela empoeirada e ao abri-la, pode perceber que provavelmente já se passavam das quinze horas, o que não o surpreendeu pelo horário tardio em que conseguiu pegar no sono.

 Estava levemente nevando, percebeu ao colocar a mão para fora querendo sentir o clima. As árvores que preenchiam a rua estavam totalmente secas e a única coisa que impedia a vista de estar totalmente vazia, era o fato de ter dois garotos de aparentemente dez anos brincando de bola na vizinhança ao lado, visivelmente não se importando se poderiam escorregar no chão totalmente úmido.

 O moreno os encarou por vários minutos perdido em pensamentos até ouvir seu celular vibrando do outro lado do quase vazio, porém incrivelmente bagunçado quarto. Chutando algumas bitucas pelo caminho para ver do que se tratava, havia uma mensagem de seu irmão mais velho.

"Keith, eu sei que hoje não é um dia fácil para você, para nenhum de nós falando a verdade, mas você sabe, vamos jantar todos juntos como uma família e a mamãe queria muito que você viesse dessa vez"

E o celular vibrou novamente

" Para falar a verdade, eu também...sinto sua falta, irmão"

" Seria bom te ver de vez em quando :)"

Keith soltou o celular de volta para o chão e exalou um suspiro alto. Mal tinha condições de sair da cama durante essa época do ano, como esperavam que ele aparecesse em algum tipo de reunião feliz em família?

 Além disso, não queria que a última visão que sua mãe e seu irmão tivessem de si, seja essa visão totalmente degradante de si mesmo. Eles, de todas as pessoas no mundo, não mereciam isso.

 Keith sempre foi um garoto introvertido, desde muito novo sempre fora um desafio para fazer amizades, conversar com as pessoas ou até mesmo demonstrar qualquer tipo de sentimento, porém era extremamente próximo de sua família e dos poucos amigos que tinha.

 Mas alguns meses depois de seu décimo sexto aniversário, tudo começou a degradar de uma forma assustadoramente rápida. Foi perdendo contato com seus amigos, não sentia ânimo para interagir com seus familiares, largou a escola e o único hobby do qual não abriu mão, foi a pintura, ao qual desenvolveu uma paixão quase que doentia e o fazia trancado e totalmente isolado em seu quarto. Os únicos momentos que saia ao ar livre, eram pra ir à consultas psicológicas que em sua opinião, só serviam para que sua mãe pudesse ter uma desculpa para dopá-lo de remédios.

 Em resumo, quando não estava totalmente dopado, pintava por horas até o próprio corpo desmaiar sozinho em exaustão.

O moreno riu com amargura ao se lembrar desse fato

Deve ser por isso que meu corpo não suporta mais dormir, huh?

 Quando conseguiu transformar esse hobby em uma forma de fazer dinheiro, alugou no subúrbio de sua cidade um apartamento e saiu de casa o mais rápido que pôde. E hoje, no auge de seus 24 anos, Keith decidiu que esse seria seu último dia na terra.

 Sabia que seria difícil para seu irmão e principalmente para sua mãe, mas o garoto de olhos púrpuros já havia tido o bastante, e sinceramente, viver havia se tornado um fardo maior do que a morte para o mesmo.

 Claro, não o leve a mal, Keith nunca imaginou a morte como algo bonito e toda essa romantização de que tudo vai ficar bem, ele só queria que tudo literalmente acabasse. Nunca acreditou em Deus ou alguma força superior que zela por todos e que acalantaria sua sofrida alma. Keith só queria uma coisa, dar um fim para tudo.

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⏰ Última atualização: Aug 06, 2021 ⏰

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