Sonata dell'unico amore

Moderato

"A bordo do RMS Titanic, 11 de abril de 1912.

Mor,

Minha primeira carta à senhora perdeu-se, então estou escrevendo esta para informar-lhe, de novo, que este seu filho é parte da tripulação escolhida para a Mayden Voyage do RMS Titanic, o maior transatlântico que já se viu. Somos liderados pelo Comandante Edward Smith que, dizem, está se despedindo dos mares com esta viagem. É uma honra para mim e meus companheiros estarmos sob o comando dele. Far entende melhor o que sinto, mas quero compartilhar contigo a minha felicidade também.

Como tentei dizer-lhe, tudo corre muito bem aqui. Estamos em boas mãos, e em breve aportaremos na América. Dizem que chegaremos até um pouco antes. Se conseguirmos, o comandante Smith será eternamente famoso e, por consequência, eu também serei, e será mais fácil conseguir ocupar lugares como este no futuro. Far pelo menos tem certeza que sim, é o que ele espera.

Vai dar tudo certo, Mor. Torça por mim.

Din søn,

Søren."

— Vamos, seu preguiçoso! — O jovem perfeitamente fardado jogou uma camisa branca sobre o rosto do outro, que estava deitado na cama ao lado da sua. — Em minutos teremos que nos apresentar aos superiores!

— Skrub af... — o rapaz deitado disse baixo, lançando a camisa para longe. — Mal deitei, não pode ser ainda hora de levantar. 

— Não é mais hora de levantar, Søren, já passou. — Lançou a camisa de volta para o rapaz que já estava se sentando. — A hora agora é de estar pronto. Ande, se apresse. Não quer causar confusão na sua primeira travessia. 

Søren suspirou, espreguiçando-se antes de dar-se por vencido e soltar uma exclamação de concordância. A última coisa que desejava era ter alguma anotação no livro de advertências da White Star Line. Tinha conseguido com muita luta aquela vaga, não colocaria tudo a perder por simplesmente ser do tipo que sentia sono demais. Caso fosse para viver dormindo, não deveria ter aplicado para o emprego, então ergueu-se da cama, lavou o rosto e pegou a camisa que Moody havia lhe lançado, vestindo-a. Após, pegou o restante de seu uniforme e vestiu, tomando cuidado para dar o nó correto na gravata e fechar perfeitamente cada botão do colete e do casaco. Colocou o quepe, ajustou as indumentárias e olhou-se no espelho, aprovando o reflexo que observava. "Um marinheiro que não sabe se vestir bem não merece ser chamado assim", seu pai, um exímio homem do mar, sempre lhe dizia quando sozinho dava conta de todos os seus fardamentos sem o auxílio de ninguém, nem mesmo de sua mãe. 

Søren não se lembrava de mais ninguém que lhe inspirasse tanto quanto seu pai, um sujeito honrado que sabia como balancear a profissão e cuidar bem da família, mantendo tais características mesmo depois de ficar viúvo. Seu pai nunca se casara novamente, de forma que em suas viagens o garoto ficava na casa de uma tia, mas nada disso impediu que o pai continuasse sendo exatamente quem era: amoroso, inteligente e um verdadeiro herói. Não à toa Søren escolheu ser um homem do mar e agora estava ali, numa empresa de renome e num navio famoso; faria de tudo para que o pai, assim como a mãe (onde quer que ela estivesse) tivesse muito orgulho de quem tinha se tornado. Não daria um mínimo motivo que fosse para ser mal visto naquela tripulação enquanto pudesse evitar.

— É impressionante o quanto o uniforme fica bem em seu corpo. — Moody deu uma boa olhada em Søren, sorrindo. — Você tem porte de um bon vivant, já disseram-lhe isso? Parece aqueles filhos de condes que se casam com filhas de baroneses e cultivam um belo bigode quando chegam aos trinta anos. 

— Tak, min ven. Não fica atrás. — Sorriu, olhando para o companheiro de quarto através do reflexo do espelho. — No entanto, suponho que assim como eu, não possui título nem fortuna, correto?