Centelha.Faíscas que se acendiam por centésimos de segundos. Descarga elétrica. Raiva momentânea. Razão que surgia repentinamente.
Chame do que quiser!
A maldita centelha estava me dando nos nervos. Com um suspiro, me endireitei para continuar com a postura ereta, ignorando os olhos alheios que me atingiam sempre que me mexia. Mantinha meus olhos desfocados e impedia a procura do loiro pelas minhas orbes. Contato visual não iria ajudar naquele momento. Meu sangue fervia cada segundo a mais que passava naquela sala, e a cada respiração repetia baixinho a mesma palavra.
Centelha. Centelha. Cen... telha.
Não achava que poderia sobreviver a tortura de está na mesma sala que Tyler. Queria de modo urgente sair daquela sala e sumir, mas a infeliz e trágica notícia era que por uma grande ironia eu não tinha opções naquele momento. Na verdade tinha uma, só que muito irracional para ser considerada. Passei a língua pelos lábios secos. Por que Payton desaparecia nas horas que mais precisava? Ele deveria estar aqui, me enchendo de perguntas sobre ATB 's, ou tentando descobrir se algum deles era gay. Olhei pela janela de vidro, a procura dos cabelos negros e encaracolados. Não havia vestígios do mesmo no local, o que deixava a coisa toda ser simpática para mim.
Digitei para Payton assim que nenhum deles estavam olhando para mim, perguntando se ele passaria no meu andar. Sua resposta veio um minuto depois, me dizendo que não poderia subir agora pois estava corrigindo alguns documentos. Deixei de lado outras mensagens que incluíam os integrantes da banda e desliguei a tela, desistindo de buscar por ajuda, porque não teria ninguém para me socorrer naquele momento.
Observei de relance os três homens sentados em minha frente. Estava próxima a porta a pelo menos meia hora, escutando a conversa chata e aleatória entre o meu chefe e o grupo de tatuados sentados no sofá como se fosse a casa da sogra. O moreno se chamava Axel, e era o vocalista principal da banda. Não precisava falar que tinha uma aparência acima da média, e que suas tatuagens coloridas eram bem chamativas no aspecto bom, porém toda essa beleza era irrelevante quando ele abria a boca. Talvez ele seja o segundo pior entre os três; o primeiro lugar no pódio dos idiotas está reservado. Tyler era o baixista, mas também cantava e escrevia todas as músicas. Aparentemente eles iriam tocar no bar ontem a noite, mas ao que parece, os outros se atrasaram e Tyler não queria fazer solo. Me lembrar disso só diz ainda mais que fiz pouco caso e estava bastante feliz depois de ouvir o anúncio de cancelamento do show, não associei uma coisa na outra e olha só onde estou.
"Não curte?" Suas palavras dançaram em minha mente. Não perceber a consciência foi tolice. Eu poderia me dar um tapa por isso, eu mais do que ninguém deveria saber que não se pode confiar em um desconhecido tatuado e bonito.
O outro integrante, Bane, não era muito de conversar. Ele tinha cabelos pretos e longos na altura dos ombros, suas tatuagens eram mais discretas e entre os três ele parecia o mais normal. Seus olhos verdes eram claros e dilatados, e ele tinha músculos por uma equipe de futebol. Bane, assim como eu, estava quieto e apenas ouvia o que os outros tinham a dizer. Era uma droga como Axel e Tyler faziam tanto esforço numa conversa. Minha mente buscava se concentrar em lembrar de tudo dito, não se sabia quando William estava falando sério, e preferia não correr o risco de ser ridicularizada por aquele homem. Nem por nenhum desses seres humanos sem cérebro.
Me obriguei a olhar para todos eles e não demonstrar aversão aos seus modos. Então cabelos loiros cobriram minha visão. Seus fios estavam bagunçados e sem forma alinhada, e isso só constatava o quanto ele era gostoso. Foi quando me permiti olhar para Tyler pela primeira vez naquela manhã, e me parecia que ele estava esperando pelo momento, seu olhar se focou em mim e ele arqueou uma sobrancelha de modo questionador. Mas o que me pegava era o jeito que me olhava, nunca se sabia o que aquilo queria dizer. Tudo bem, eu não queria saber, mas era hipnotizante demais para não ser notado. Beleza física era uma merda. Eu gostaria de me apaixonar pela alma de alguém, evitaria o problema que estou tendo agora. Caras bonitos são imbecis, eu já esperava por isso. Pare de brincadeira, babaca. Eu apreciaria mais se ele fingisse não me conhecer ou ignorasse minha existência.
Revirei os olhos e voltei para William.
ㅡ Precisa de mais alguma coisa, senhor? ㅡ Interrompi meu chefe, que no mesmo instante passou a se concentrar em mim.
Com um sorriso de tubarão ele perguntou:
ㅡ O que disse?
Ele se acha tão assustador quando não é mais inteligente que uma porta. Sabia que tinha escutado. Ele só queria ter a certeza de que repetiria minhas palavras. Com toda emoção presa dentro de mim eu o mandaria ser foder e procurar um bom dentista, mas isso me custaria o bendito emprego e minha sanidade.
ㅡ Perguntei, o senhor precisa de mais alguma coisa? Eu tenho algumas coisas para fazer. ㅡ Minha voz saiu como um tradutor.
Ele piscou, não dizendo mais nada por segundos e então a sala se tornou silêncio total. Sentia os olhos de todos sobre mim, e pelo canto de olho pude ver Tyler se endireitando no assento.
O moreno, Axel, soltou um som da garganta.
ㅡ Estamos tomando seu tempo, meu doce?
Me virei para ele pensando na possibilidade de acertá-lo com a garrafa de champanhe. Antes que palavras afiadas escapem da minha boca, meu chefe interrompe:
ㅡ Esse é o trabalho dela, não é mesmo? ㅡ William solta uma gargalhada.
Quanto machismo.
Engoli a vontade de mandá-los para o inferno e acenei. Pensei em algo bom para afastar os pensamentos assassinos. Brigadeiro de panela e pipoca no sábado de filme, frango ao molho preparado para ação de graças, torta de banana com caramelo e creme... Todas as coisas boas envolviam comida. Minha raiva me deixava explosiva, mas também com fome.
Tinha que arrumar um jeito de sair para respirar. Tyler abriu um sorriso para William, e depois se virou para mim. Esperei pela próxima zombaria ou comentário, mas nada veio. Ele soltou um suspiro e uniu os dedos, me deixando confusa por um momento.
ㅡ Bem, ela não é responsável por nós. Acho que não precisamos de mais nada aqui. ㅡ Suas palavras foram uma surpresa.
Okay. Ele finalmente se cansou de brincar comigo e estava aliviada. Tyler olhou para meu chefe como se esperasse uma resposta e William pareceu surpreso também, pois seu sorriso se tornou amarelo, e rugas se formaram na região dos olhos.
ㅡ Acho que você pode ir, você tem outras coisas... coisas a fazer. ㅡ Ele acenou para mim disfarçando sua carranca.
Naquele momento eu não dava importância, eis-me aqui a palavra do dia: "Cara feia para mim é fome."
ㅡ Se precisarem de alguma coisa, estou do outro lado. ㅡ Disse e em seguida abri a porta, não esperando resposta.
Quando a porta se fechou atrás de mim, pressionei minhas costas por alguns segundos e respirei fundo. Não podia deixar-me envolver por toda a loucura que era aquilo, não quando tinha uma pilha de trabalho esperando na minha mesa. Nada de hora extra por hoje.
Quando me sentei na cadeira, suspirei e suspirei de novo como um lembrete de que ainda estava viva. Tyler oficialmente estragou meu dia. Minha cabeça estava um tornado, mas me forcei a ler e corrigir alguns papéis. O som vindo da sala na minha frente me interrompia, seguido por risos e xingamentos, que me fizeram morder a língua. Aquilo era uma brincadeira de mau gosto que estava hesitante sobre suportar, e quando ouvia aquela voz... Uhg.
Maldita centelha.
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Rockstar
Short StoryTudo pode acontecer em uma noite de festa e bebidas, mas as noites monótonas de Kenny deixavam muito a desejar no sentido da diversão. Ir a baladas e festas já não era suficiente pois claramente a garota estava envolta das mesmas pessoas sem nem um...