Capítulo 11: Denise

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A garota, mediante aquela tão lacrimosa e tresloucada ligação, largou a festa, as músicas, as meninas e os meninos à sua volta e dirigiu-se imediatamente até Xavier, seu melhor amigo. Pelo telefone, ela exigira que ele a aguardasse em frente à porta do quarto 630, na direção do qual ela caminhava naquele exato momento.

Quando deixou o elevador e avistou sua magricelinha figura, os ombrinhos cabisbaixos, o rostinho avermelhado à sua espera, Denise disparou pelo corredor, o salto que sempre incomodava-lhe tanto quando corria um empecilho tão absolutamente tosco e ridículo perante a visão da dor de seu querido companheiro.

Seus corpos se chocaram fortemente quando Denise o alcançou, os braços envolvendo-lhe o pescoço. Xavier, ao retribuir o gesto, envolveu-lhe a cintura, a face rubra pelo pranto e salgada pelas lágrimas que ainda rolavam escondida na curvatura de seu ombro, as diferentes estaturas sendo compensadas pelas botas cintilantes que a moça utilizava naquela noite.

— Quer entrar? — ela indagou suavemente assim que se desvencilharam do contato.

Xavier assentiu com veemência, e Denise, abaixando o corpo em um movimento inicialmente incompreensível, buscou o cartão eletrônico que servia como chave do interior de sua bota esquerda. Seu celular, ela sabia, escondia-se no outro lado, mas Denise não tinha a intenção de apanhá-lo.

Ao adentrarem o recinto, Denise assentou-se na beirada de sua cama, e Xavier prontamente assentou-se ao seu lado, com o semblante ainda pesaroso e agoniado.

— Pronto, pronto. — consolou Denise, enquanto aproximava as mãos de sua face e secava-lhe as lágrimas. — Agora me conta aí o que aconteceu. Com detalhes. Não me esconda nada!

Xavier, apesar de si mesmo, riu-se tristemente.

— Eu nem sonharia com isso. — murmurou ele, enquanto revirava os olhos. — Você sempre sabe quando eu estou escondendo alguma coisa. Nunca vi!

Alegre com o elogio, Denise sorriu alegremente, enquanto brincava com as pontas de uma de suas marias-chiquinhas.

E, assim, Xavier contou-lhe tudo, as informações desaguando de seus lábios e inundando todo o apartamento. Contou-lhe sobre o diálogo com Joaquim, a bebedeira que se seguiu, o beijo, o diálogo, a briga com Luca. Denise, sem proferir qualquer palavra ou esboçar qualquer reação, ouvia a história por completo, colocando seu maior talento em prática: a habilidade que possuía de bisbilhotar e opinar sobre a vida alheia.

Porém, com Xavier, ao contrário da maior parte de seus amigos, sua bisbilhotice e suas opiniões eram completamente bem-vindas.

Ao fim de seu discurso, Xavier esforçava-se para decifrar o enigma de sua expressão, porém o semblante de Denise mostrava-se austero e imperscrutável.

Ela, após longos segundos de reflexão, assentiu com veemência.

— Certo. — disse ela, sem entregar muito do que permeava-lhe a mente.

— Foi uma cagada homérica, não foi?

Denise produzira uma careta pensativa, ainda mantendo seu silêncio e analisando todo o cenário com o afinco necessário.

— Ok. — ela disse finalmente. — A situação como um todo é meio cagada, sim. Mas eu não acho que você esteja tão errado, realmente.

Xavier, com um sorriso surpreso e satisfeito, concordou com a cabeça.

— Mas eu também não acho que ele esteja tão errado. — completou ela, a afirmação retirando o júbilo da fronte do rapaz. — Parece que vocês dois estão certos e vocês dois estão errados. Eu nem sei como isso é possível, sinceramente!

Porque eu amo vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora