Capítulo Único

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Alguns dias haviam se passado desde o ocorrido na Feira das Carreiras. E cada dia que se passava mais eu sentia um peso no peito por causa do que descobri.

 Peguei minha guitarra e fui até a proa do barco, como vinha fazendo nos fins de tarde. Um rock que misturava melancolia e raiva soava alto e suntuoso. Enquanto eu detonava nesse solo de guitarra, era assim que eu me sentia. Eu queria ser ouvido porque precisava por isso pra fora, embora não pudesse falar.

 Descobrir a identidade de Ladybug e Chat Noir clareou minha mente em tantos aspectos. Agora fazia todo o sentido os sumiços de Marinette e o segredo que ela não podia me contar. E quanto ao Adrien ser o Chat Noir foi bastante surpreendente.

 Eu também conseguia entender o coração dos dois heróis de Paris. Que Ladybug e Chat Noir tinham algo era bastante claro. A forma como eles se portavam em entrevistas, fotos de ambos em momentos que pareciam íntimos demais.

 Como alguém que já lutou ao lado deles algumas vezes, conheço sua dinâmica como parceiros. Eu sei que Chat Noir é apaixonado pela Ladybug e que ela não o correspondia. E agora sabendo a verdadeira identidade deles chega a ser engraçada essa história de amor. Dois amantes que se amam sem saber que se amam.

 Mas acredito que o que mais tem me incomodado é o fato de eu não ter sido sincero com a Marinette sobre as identidades. Ela realmente preza muito por esse segredo e eu não fui honesto quando lhe devolvi o Miraculous da última vez.

 Como eu poderia? As coisas ficaram estranhas entre a gente por um tempo e havíamos acabado de nos acertar. Eu tive medo de essa descoberta nos afastar de novo e fui egoísta querendo manter isso pra mim. Talvez a culpa que me corroa seja o preço pela mentira.

Deixei a guitarra no meu quarto e saí para dar uma volta e tentar clarear os pensamentos. Eu precisava falar com a Marinette. Precisava contar a verdade, mas não poderia fazer isso com ela em sua forma civil. Não seria o melhor a se fazer. Eu precisava falar com a Ladybug.

     Estava andando pelas proximidades do Rio Sena quando vi um vulto vermelho passando pelo alto dos prédios. Era agora ou nunca.

 - Ladybug!! - Gritei, mas ela pareceu não ouvir. - Ladybug!! - Chamei mais uma vez e ela voltou-se em minha direção.

 Deu um salto se segurando no iôiô e parou ao meu lado com um lindo sorriso. Aquele sorriso que só a Marinette conseguia dar. Só que eu não consegui retribuir. Meu coração estava acelerado e eu abaixei um pouco a cabeça, sem saber como começar.

 - Você está bem, Luka? - Perguntou e eu percebi a preocupação em seu olhar.
     - Preciso conversar com você, Ladybug.

 - Claro! - Ela assentiu e nos sentamos às margens do rio, no mesmo lugar que eu toquei para ela a música que escrevi em sua homenagem.

 Por alguns instantes apenas observamos os tons quentes do pôr do sol se misturarem ao azul do rio. Enquanto eu tomava coragem mexendo os dedos em ansiedade, ela me olhava com ternura e compaixão, aguardando pacientemente pelas minhas palavras.

 - Sabe, eu saí para colocar meus pensamentos no lugar, mas acho que no fundo no fundo eu só tinha a esperança de te encontrar. - Confessei para ela e para mim mesmo.

- Eu estou aqui, Luka. Você sabe que pode confiar em mim. - Disse colocando a mão em meu ombro.

 - Ladybug, você sabe que o Miraculous da Serpente não permite que eu esqueça as coisas que eu vi em linhas do tempo que eu impedi que ocorrecem. Mesmo quando você usa o seu Talismã, eu não esqueço o que eu vi.

O Peso da Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora