Saturno na Terra

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Deitei minha cabeça no gramado para observar as estrelas daquela noite que estava estranhamente bem estrelada, fixei meus olhos no céu e fiquei admirando em silêncio. Depois de um tempo com tudo quieto, passa uma estrela cadente, mesmo eu sabendo que não é realmente uma estrela, eu decidi fazer um pedido, afinal eu não tinha nada a perder, tinha? Fiz meu pedido mentalmente e automaticamente solto um sorriso de canto de rosto por estar fazendo esse tipo de coisa, pior ainda, achando que existia alguma possibilidade de acontecer. (Pelo menos era o que eu achava).

Acabei adormecendo, até que um barulho extremamente alto me acorda, olho para cima e vejo um clarão envolto de brilhos e coisas como anéis girando em volta dele, estava bonito de longe, até que chegou perto demais, eu não consegui correr, fiquei paralisado com o brilho. Para a minha sorte não caiu em mim, mas me jogou longe, meus ouvidos zuniam e meu nariz estava sangrando um pouco. Quando consegui me levantar, fui até a cratera que aquela coisa tinha causado; cheguei na beirada e para a minha surpresa, eu vi um ser com uma aparência humanoide, não tinha cabelo e estava nu, achei tão estranho porquê não tinha qualquer órgão genital, ainda tinha algumas coisas girando envolta dele, como se fossem anéis, tipo Saturno.
Fiquei com bastante receio de descer ou fazer algum movimento brusco depois que vi aquela coisa, tinha literalmente acabado de cair do céu, mas que caralhos é isso? Um alienígena? Um anjo? Eu pensei em sair correndo ou jogar alguma coisa nele. Fiquei pensando por alguns minutos, conclui que estava sonhando e decido descer (afinal, se estou sonhando, nada de ruim pode acontecer).
Assim que dou o primeiro passo, escorrego e desabo com terra e pedras pra cima da criatura, que rapidamente sai antes que eu chegasse a colidir com seu corpo. No chão eu olho para cima para conseguir olhar em seus olhos, eu não tinha percebido, mas a criatura devia ter quase 3 metros, suas pernas e seu tronco eram gigantes, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, a criatura abre sua boca relativamente grande e diz:
- Adjua Ed Crepsia¿ – Ela diz olhando para baixo.
- MIM NÃO FALAR ALIENÍGENIANO, I’M SORRY- Grito para ver se ela me escuta, tentando até falar em inglês.
- Sorry? Wait a minute...- Diz a criatura enquanto desliza seus dedos grandes na cabeça fazendo alguns movimentos esquisitos.
- Espera... você fala nossa língua?
- Agora sim! Precisava ouvir você falar para poder me adaptar a essa linguagem nativa – Ela estende a mão para mim – Você quer ajuda para se levantar daí?
Eu fico em estado de choque, primeiro essa coisa cai do céu, atualiza uma espécie de banco de dados de linguagens e agora tá me oferecendo ajuda? Sério, que porra tá acontecendo?
Levanto minha mão devagar e a criatura a pega rapidamente, me levantando como se eu fosse um boneco de pano. Foi ali que me dei conta que eu não estava sonhando e que realmente tinha uma criatura não identificada na minha frente, eu saí do buraco e corri como se minha vida dependesse disso (e provavelmente dependia). Eu corri até meus pulmões não aguentarem mais a minha respiração pesada e ofegante, olho para meu lado e lá estava a criatura, com o rosto pleno, como se não tivesse feito nenhum esforço para estar ali, mesmo assustado eu não conseguia mais mover uma perna naquele momento.
- O que você quer de mim? – Digo ofegante.
- Não quero nada, apenas estar com você – Diz a criatura em pé com a sua postura totalmente ereta.
- O que você é?
- Eu sou o que você quiser que eu seja.
Eu realmente fiquei confuso com isso, mas continuei:
- Qual seu nome? – Pergunto, esperando alguma resposta válida.
- Como você quer me chamar?
-PORRA! – Grito depois de perder a paciência com essa coisa.
-PORRA?- Repete ela gritando também- Tudo bem, serei a PORRA. Mas como devo lhe chamar?
Bato a mão no rosto enquanto solto um ar quente pela boca, por ser um ser intergaláctico, eu esperava mais.
-Meu nome é Alessandro, mas pode me chamar de Alê.
-Tudo bem Alê...e agora? Para onde vamos?
-Vamos? Nós não vamos para lugar nenhum, eu vou para minha casa, antes que meu pai chegue e dê trabalho em casa. – Digo enquanto dou de ombros e começo a caminhar em direção de casa.
A coisa continuou me seguindo até quase chegar na minha casa, eu paro de andar, viro para ela e digo:
- O que você quer comigo? Não tem onde ficar não? Eu não posso ficar com você aqui na minha casa...
- Tá bom eu fico aqui – Diz ela me interrompendo.
- Aqui de fora? – Fico com um pouco de dó de deixá-la ali, estava uma noite bem fria aquele dia. – Quer saber? Pode ficar no meu quarto, mas só até arrumarmos um lugar para você ficar.
A coisa acena a cabeça concordado e me acompanha até a porta de casa, que estava escura, afinal minha madrasta estava na escola trabalhando e meu pai devia estar em algum bar enchendo a cara. Quando vamos entrar o mendigo que fica do lado da minha casa, me grita:
- Eai garoto! Me dá uma grana pra eu comprar uma dose e aquecer.
- Sinto muito moço, eu não tenho dinheiro aqui comigo – Digo tentando mentir.
- Seu desgraçado! Eu sei que você tem dinheiro aí com você! – O mendigo se levanta vindo em minha direção. Eu me preparo para correr para a porta de casa, mas antes que eu fizesse isso, a coisa entra na minha frente e empurra o velho para trás, fazendo com que ele caísse junto com a garrafa do que ele estava bebendo, ela vai em direção dele, mas eu puxo o braço da coisa para dentro de casa.
- Obrigado por me defender...- Digo olhando para a coisa, que estava com a coluna um pouco torta por causa do seu tamanho.
- Não tem o que agradecer.
- Meu quarto é por aqui, vamos antes que alguém chegue – Falo enquanto aponto na direção das escadas.
Assim que chegamos no quarto, ouço a porta de entrada abrir, minha madrasta chegou do trabalho, me viro rapidamente para a coisa e digo:
-Eu vou lá pra falar com ela, fica aqui quieto e sem fazer barulho, ok?
-Tudo bem, sem barulhos- Diz a coisa sentando em minha cama.
Desço as escadas e encontro com a minha madrasta sentada na cadeira olhando com uma cara preocupada para alguns papéis, chego e sento na cadeira do seu lado.
-Que papéis são esses? – Pergunto olhando nos seus olhos marejados.
-Não é nada Alessandro.
-Você sabe que odeio quando me chamam assim...
-Mas é o seu nome, não é? – Ela solta com um tom de sarcasmo.
-Eu gosto que me chamem de Alê. - Faço uma pequena pausa – Ela me chamava assim...
Um silêncio ensurdecedor consome a casa, como se tivéssemos sidos esmagados por uma bola de destruição. Mas o silêncio é quebrado pelo barulho de algo caindo no segundo andar, provavelmente no meu quarto, saio da mesa e vou para lá checar o que tinha acontecido.
Chegando lá eu vejo a coisa mexendo nos meus mangás e algumas revistas digamos que não tanto apropriadas pra ela...
- EI, EI, EIIII, PODE MEXER AI NÃO! – Grito com ela, esquecendo que minha madrasta já estava em casa.
- O que tá acontecendo aí em cima? – Pergunta ela do andar abaixo.
- Nada! É só o Piupiu – Colocar a culpa no nosso gato foi a única opção que me surgiu no momento.
- Então é disso que você gosta? – Pergunta a coisa enquanto olha para as revistas de hentai.
- Como assim? – Pergunto meio sem jeito.
- É nisso que você sente atração?
- É... também curto meninos, mas as revistas com garotos ficam bem escondidas, não sei se eles entenderiam – Inclino a cabeça na direção das escadas.
A coisa começou a encarar a foto de uma menina da revista, mas o mais estranho é que ela começou a mudar, cabelos rosas começaram a crescer da sua cabeça, seus peitos e sua bunda começaram a ganhar bastante volume, igual as garotas das revistas, seu tamanho também diminuiu e ficou do meu tamanho. Ela estava totalmente diferente, quando ela olhou para mim, senti meu rosto queimar de vergonha de estar ali com a criatura totalmente pelada, ela sempre esteve, mas agora é diferente, ela tem um corpo igual de um humano.
Agora tenho uma criatura do espaço com peitões e totalmente pelada no meu quarto, seria isso um sonho ou o início de um pesadelo? Naquele momento eu só conseguia pensar no agora, no presente, nem me passou pela cabeça que no dia seguinte eu acharia o primeiro cadáver.

Saturno (e eu)Onde histórias criam vida. Descubra agora