Brennan Hailey entrou correndo no escritório do professor Kyle Giles.
- Professor, professor! – gritava o garoto ininterruptamente.
- O que está acontecendo aqui? Oh, Brennan, é você? Pelos diabos, pra que tanta gritaria?
- Uma descoberta, professor. – o garoto ofegante atirou um caderno surrado à mesa, repleto de cálculos e diagramas.
Calmamente, o professor Giles pegou o amontoado de papel e começou a olhar.
- O que significa isso?
- Professor, acho que eu acabo de descobrir a viagem no tempo.
Os olhos de Kyle saltaram do caderno para a face do garoto. Do que ele estava falando? Viagem no tempo, aquilo era inacreditável.
- Só um momento, Sr. Hailey. Você entra na minha sala, gritando feito louco e agora afirma que descobriu a viagem no tempo?
- Sim, senhor. E creio que uma descoberta dessa proporção deva ser imediatamente compartilhada com o diretor do departamento de Física, no caso...
- Eu, é eu sei. – ele fitava aqueles cálculos. Não duvidava de sua precisão, Brennan sempre fora um de seus melhores alunos, mas daí a descobrir a viagem no tempo? Sem dúvida um salto enorme. – Bem, os cálculos estão corretos, mas o que significam?
- Se observar esse paradigma, conforme apontado no diagrama, com as condições necessárias, temos um raio que poderia cruzar a fronteira espaço-tempo e alcançar a quarta dimensão.
- A dimensão temporal?
- Exato.
- Brennan, isso é...
- Loucura, eu sei. Mas faz sentido, não faz? Quero dizer, os cálculos estão exatos e não mentem.
O professor mais uma vez analisou, número por número, equação por equação, e não pôde encontrar um único erro. Agora com sua visão direcionada, aquilo fazia todo o sentido.
- De fato, tudo parece perfeito. Você tem noção da implicação desses cálculos, Brennan? De que você pode ter provado que a viagem no tempo é possível?
- Não só isso, professor. Creio que temos o direcionamento para iniciar os testes já.
- Ora, garoto. Para isso seriam necessários recursos de valores estratosféricos. Nem com a verba do departamento inteiro isso seria possível.
- É por isso que eu gostaria de ligar para Stephen Hawking!
- O que?
- Exatamente. Ele é a única pessoa no mundo com credibilidade o suficiente para apresentar um projeto como esse. E com toda sua inteligência, tenho certeza de que ele não deixaria isso passar.
- Ainda que conseguíssemos contatar o professor Hawking, não acha que seria necessário mais do que alguns cálculos, ainda que perfeitos, em um caderno surrado para sermos levados em consideração?
- Sim, senhor. E é por isso que eu trouxe isso aqui. – Brennan depositou uma pasta repleta de arquivos sobre a mesa. – Eu estive pensando, se a viagem no tempo é possível no futuro, nós provavelmente já fizemos uso dela. Então procurei por provas.
- Provas?
- Sim, provas. Veja, baseado nesses cálculos que lhe mostrei, qual seria a primeira coisa que tentaria mandar para o passado?
- Algo imaterial, de início.
- Como ondas sonoras?
- Sim. Som seria uma ótima escola.
- Eu também pensei nisso, então fiz uma pequena pesquisa. O senhor está familiarizado com a história sobre o Bloop?
- O som desconhecido detectado anos atrás? Sim.
- Pois bem, sua origem nunca foi detectada, não é? – o professor assentiu com a cabeça. – E se o Bloop for um acidente? E se tivéssemos mandado um som para o passado, para testes, justamente em uma frequência tão baixa que seria tecnicamente indetectável?
- Mas por acidente acabaria por ser detectado pela Marinha americana que, na verdade, estava buscando submarinos soviéticos? Fascinante!
- E não é só isso. O que poderia ultrapassar essa fronteira, ainda mais rápido que o som?
- Luz!
- Exatamente. Agora veja essas fotos. Luzes estranhas ao redor do mundo. Simplesmente aparecem lá e depois somem sem serem detectadas.
- Isso é loucura! Mas é só isso? Som e luz? Será tudo o que mandaremos ao passado?
- Não. Na verdade nós mandamos seres vivos.
- Mandamos ou mandaremos?
- Bem, tecnicamente mandamos, porque já aconteceu, mas mandaremos ainda.
- Sim, sim, continue.
- Pense em todas essas criaturas que apareceram ao longo dos anos: o Yeti, o Chupacabra, o demônio de Jersey, o Mothman...
- O que está dizendo?
- E se não pudéssemos mandar animais comuns ao passado, apenas seres geneticamente modificados? Quero dizer, plantas ou baratas podem ser resistentes, mas mamíferos, por exemplo, possam ter que passar por uma série de modificações genéticas.
- Mas por que mandar essas coisas estranhas ao passado? Não seria denunciar a experiência?
- Alguém descobriu?
- Não até agora.
- Exatamente, e isso é brilhante. A última coisa que alguém desconfiaria em um avistamento como esse seria da viagem do tempo.
- Mas e quanto a pessoas?
- Que tal máquinas?
- Como mandaríamos máquinas sem que ninguém visse?
- Quem disse que ninguém viu?
- Do que está falando?
- Se lembra da batalha de Los Angeles?
- Você está dizendo que todo avistamento de OVNIs foram, na verdade, avistamento de naves futuristas?
- Sim. Mas não quer dizer que não sejam alienígenas.
- Hã?
- Eu estive pensando: qual a principal razão de voltarmos ao passado?
- Alertar-nos sobre os problemas do futuro?
- E isso não criaria um paradoxo temporal?
- Tem razão. E então?
- Se o nosso planeta tem um problema no futuro e nós temos a tecnologia pra ir pra outro lugar, mas pouco tempo, que tal procurarmos outro planeta no passado?
- O que está dizendo?
- E se nós voltamos ao passado pra ganhar tempo e colonizar novos planetas? Assim, no futuro, podemos encontrar a nós mesmos e salvar-nos de possíveis problemas.
- Mas isso não criaria um paradoxo temporal também?
- Não, porque as pessoas, nesse caso, se encontrariam no presente!
- Meu Deus! É muita loucura! – o professor largou os papéis e pegou o telefone.
- O que está fazendo?
- Estou ligando para Stephen Hawking!