É uma dor angustiante, que antecede o choro. Machuca, prende a tua garganta. Num resquício de sanidade, você se vê preso. Tantas, tantas dúvidas. Incerto quanto si mesmo, vastado de quem o quer bem. Que nesse olho de furação, pensamos encontrar somente uma saída. Se amor já não é mais palpável, que me afunde na ira, na falta de cor. Cega para as cores.
A luz cinza que te invade e isola. Você assiste sua dança, vislumbrando sua própria destruição, imaginando ser o único espetáculo que virá em toda a sua existência. Ela, exclusiva. Ela, soberana. Ela, ao teu lado. Ou melhor, incrustada em ti. Apesar de todos os saltos, torna-se você sempre o derrotado. No teu ingênuo hoje, ela te faz acreditar que todo grito contido é apenas uma das milhares de amostras de como você não é merecedor do que estende esse manto de melancolia, que você só está algemado pois foi você que puxou as cordas para adentrar nessa prisão.
Somos todos lugar. Nosso templo, e nele que habita e se expande o que encontramos pelo caminho.
Pré formulados, mas não máquinas. Com emoções, apreços, descasos e acordes reversos.
De horas marcadas e momentos ilegíveis para qualquer língua que não seja a arte.
Lastimas e casacos revestidos com cheiro de chuva, ponta de cigarro e perfume de Jasmim.
Uma chuva colorida incrementada a dores no peito, frio na espinha e lágrimas para adoçar.
Fracos, tão mais que pétalas. Que só germinam após que as mesmas sejam isoladas a terra. "Pois eles que nos enterraram, esqueceram que somos sementes". Nosso mar reguardado, nosso suspiro de ânsia chove nas colinas e alcança o nosso grito protegido por dentro da caverna.
Existem flores que nascem apenas a queima total de sua terra. Apesar de termos o senso que o fogo destrói tudo que naquele encosta, ele também nos revigora.
E somos cura. Somos fogo. Somos dor. Somos prisão. Doce voz que canta, encanta e capta no caos, na dor o motivo de sua reforma, de sua paz.
Cinzas de cinzeiro, ardemos para o perdão. Fugimos de nosso antigo casulo, lar de sombras do que já se fez nosso presente.
Ao fim da travessia, várias cicatrizes. De profundidade e tamanho onipotentes; na descrição, o estrago é o mesmo para todas as linhas, que transbordam de agonia.
Você me pergunta:
- O que me resta, então, se ao fugir do que me aprisionava, me encontro mais marcado que antes? Se não perdi o amargo na boca, se ainda tenho a mesma pele ingrime e sem cor?
Eu te puxo pelos braços, te envolvo em carinho e num sussurro de maré, lhe digo:
- No porão dos teus olhos, avista um lago de certeza. De esperança. De genuína felicidade. De verdade. Que de lugar, sempre morou em ti - seus olhos explodem em surpresa - Dividindo espaço entre a tristeza, você fisgou o rancor. Fugiu, fugiu dela, vejo as marcas. Fugiu, fugiu dela.. Nesse mundo. Agora entre no teu universo de uma vez, pois ela não fugiu de você. Corra, corra para o perdão. E me encontre quando houver equilíbrio. Quando se entregar a mim e ainda sobrar o que amplificar. A tristeza pulsa em ti, no teu coração. Todavia, eu também habito em você. Segue os teus pés, e desatina. A faca e a virtude estiveram sempre em tuas mãos.
Me fitando, vasculhando meu íntimo, num sorriso indeciso e um olhar perdido como resposta. Você caí. Caí em teu abismo. E de lá, ressurge sem raízes, porém te possibilitando vadiar qualquer canto. E de tantas de todas as suas dúvidas, você me entrega as cores do celeste. Assas.