Capítulo Único

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Fazia tempo que Mando não aterrissava em um local tão quente e úmido. Sentir o suor pinicar seu corpo o estava deixando maluco por baixo da armadura, mas ele não tinha o que fazer, afinal, ele não estava sozinho. Já fazia duas semanas que ele dividia seu convívio solitário e silencioso com você, alguém desconhecida para ele. Na verdade, ele apenas precisaria cumprir seu trabalho de levá-la até um dos lordes daquele planeta de clima tropical e tudo estaria finalizado.

Mando abriu a porta de carga da Razor Crest e do lado de fora esperou que você juntasse seus poucos pertences para seguir o final da jornada. As regras haviam sido claras: levá-la viva, fora da carbonita e sem ferimentos. Simples. Mando respirou fundo, soltando um suspiro abafado por baixo do capacete. Ele estava se sentindo estranho, vocês não haviam praticamente trocado palavra alguma entre os quatorze dias que passaram juntos na nave, mas mesmo assim, ele sentiu algo no peito. Ele estava ficando com saudades de você? Mas vocês nem se conheciam.

Ele escutou um barulho baixinho vindo por trás e se deparou com você descendo a rampa. Suas coisas estavam ensacadas em uma bolsa de pano esfarrapada e você havia mudado de roupas, uma vez que aquele planeta era completamente diferente do gelado hiperespaço. Ele nem percebeu quando te olhou e sorriu de leve, algo que você nem suspeitou pois não sabia ler suas emoções através do silêncio ensurdecedor que Din costumava manter.

— Está pronta? Será uma longa caminhada agora. — Mando lhe avisou, colocando sua arma nas costas.

— Estou.

Vocês andaram pelo que pareceu ser duas ou três horas. De início você não entendeu porque ele pousou a nave tão longe do seu local de destino, mas quanto mais vocês se distanciavam da Crest, mais densa a floresta ficava. Chegaram até mesmo a andar por minutos na sombra das árvores, onde não era possível ver o céu acima de vocês, apenas folhas, galhos e alguns pássaros coloridos.

O silêncio no começo era realmente um incômodo para você. Você tentou tirar dele qualquer tipo de resposta, sem sucesso nos primeiros dias, até quando ele finalmente te respondeu uma vez quando você lhe pediu água e ele foi prático em simplesmente dizer que você não precisava pedir para pegar, mas que você não deveria desperdiçar. Seu timbre era grave e absurdamente sério e você se perguntou o que poderia ser mais intimidador: seu silêncio ou sua voz. Era um pouco assustador, você não podia negar, mas ao mesmo tempo aquele comportamento misterioso lhe causava uma certa curiosidade, e você não queria admitir para si mesma, mas uma certa atração por ele também. Mesmo sem conhecê-lo. Mesmo partindo em breve de sua vida.

Depois daqueles quatorze dias, você se acostumou com a presença silenciosa dele, mas agora, andando para o seu destino você se sentiu estranha. Você gostaria de ter conversado mais com ele, você nem ao menos sabia seu nome. Não que ele precisasse dizer, mas já que você provavelmente nunca veria seu rosto, seria bom saber seu nome, ter algo dele para guardar com você. É como se você estivesse ficando... com saudades.

— Para onde estamos indo? Você se atreveu a perguntar depois de mais de hora calada, conversando apenas com seus próprios pensamentos.

Mando ainda deu mais alguns passos no chão úmido e forrado de folhas alguns metros à sua frente para responder. — Ao palácio de lorde Donai. É onde devo deixá-la.

Você nunca havia ouvido falar sobre ele. Na verdade, nem ao menos em que planeta vocês estavam você sabia. Aquilo fez seu braço arrepiar. Em breve você estaria sozinha em um lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas, sem a presença dele. Algo dentro de você dizia que mesmo você sendo apenas uma espécie de mercadoria para ele, o mandaloriano te ajudaria se você precisasse.

— Você o conhece?

Os únicos sons que se podia ouvir no horizonte eram as folhas secas quebrando sob os passos, alguns animais longe e água, talvez uma cachoeira ou um rio. Você realmente gostaria de conseguir manter uma mínima conversa com ele, mas você sabia que as coisas não mudariam entre vocês agora, nos últimos momentos. Alguns minutos depois ele apenas disse "não" e seguiu andando.

Eu confioOnde histórias criam vida. Descubra agora