prólogo.

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As folhas alaranjadas começavam a cair na rua arborizada em que Sirius Black morava. Metade de setembro, e o pequeno apartamento, alugado há pouco mais de um ano pelo rapaz já trazia o aspecto típico de outono. Sacolas e mais sacolas de compras espalhadas pela sala entregavam sua animação pela época de Halloween e as luzes amareladas nos cômodos traziam o aconchego da estação.

Entretanto, o mínimo de frio era suficiente para que Sirius permanecesse em sua cama, enrolado em um casulo de cobertas aveludadas e espessas que trouxera de sua antiga residência. E, por mais que o despertador estivesse tocando há mais de uma hora, ele sequer fazia sinal de se mover ou despertar do seu sono profundo. Somente na oitava vez em que se ouvia o som estridente e irritante que tocava em seu celular, os olhos de Sirius se abriram, lentamente, tentando entender quem era e o que estava acontecendo ao seu redor.

— Nove horas, puta merda! – ele murmurou, se levantando com pressa da cama e se direcionava rapidamente para seu guarda-roupa atrás de seu "uniforme". Era como seus amigos haviam apelidado suas roupas, porque ele era visto usando apenas sua jaqueta de couro e uma blusa, provavelmente roxa. A questão era que ele tinha três jaquetas de couro, que apesar dos outros não notarem, tinham sim diferenças entre elas, e suas amadas camisetas de banda, que por um acaso do destino eram, em maioria, tingidas de roxo. Mas ele não aceitava que fosse necessariamente um uniforme, apenas sua marca registrada. Sua personalidade impressa no seu estilo.

Livrou-se do pijama, colocando de maneira rápida e desajeitada sua camiseta do Queen – roxa – e uma calça preta. Em um dia comum, ele tomaria um relaxante e demorado banho, com cuidado extremo para seu cabelo e sua beleza num geral, mas, como estava gravemente atrasado, não pôde fazer seu amado ritual de toda manhã.

Calçou suas botas, reparando para a imagem de si no espelho por alguns segundos. Ele estava um caco. Olheiras profundas denunciavam a noite mal dormida, o cabelo denunciava a falta de cuidado anormal dos últimos dias, e o sorriso radiante tão comum em seu rosto não se presenciava, denunciando sua péssima semana, que estava diretamente relacionada com seus pais e seu irmão.

Ele saíra da residência de sua família havia 16 meses, quando em uma explosão de brigas, gritos e lágrimas ele tomou a coragem necessária para finalmente se retirar daquele inferno, prometendo voltar ali somente para buscar seu irmão assim que conseguisse. A questão era que, mais de um ano se passou, e ele ainda não tinha conseguido condições o suficiente para sustentar ele e seu irmão sozinho. Aquilo estava o corroendo de ansiedade e preocupação por dentro, não o deixava dormir decentemente sem que pesasse sobre si uma culpa.

Apesar disso, ele considerava que estava vivendo uma vida medianamente feliz. Comum, mas feliz. Tinha amigos que não saiam de seu apartamento, aproveitava o dinheiro que lhe sobrava para se divertir e gostava muito do seu trabalho.

Ele mal notou, mas já estava na rua, à caminho do Caffè Chiarore, onde estava trabalhava. Então apressou os passos e em menos de dez minutos estava na porta do estabelecimento, onde sua chefe o esperava com os olhos fulminantes.

[...]

— Já é o terceiro atraso desse mês, Black! – os cabelos volumosos e pretos, com pouquíssimos fios brancos se destacando, balançavam de um lado para o outro enquanto Elouise andava pela despensa da cafeteria. – E se um dia eu precisar que você abra o Café? Vou ter que esperar sua irresponsabilidade chegar aqui?

— Fico surpreso que você não é mãe, querida Elouise. Esse seu olhar está exatamente igual aos que eu recebia da minha, você acredita? – Black diz, de fato surpreso pela semelhança da bronca de sua chefe com a bronca que recebia de, bem... qualquer autoridade, familiar ou acadêmica que passou por sua vida. Ele poderia considerar Elouise sua figura materna a qualquer momento.

CODINOME BEIJA-FLOR, wolfstar. Onde histórias criam vida. Descubra agora