A cidade do pecado não foi feita para você. Anjos como você. Oh! E você sabe disso.
A batida da música que sai das altas caixas de som do clube ressoa por todas as partes do meu corpo. Minhas mãos vão de encontro aos meus longos cabelos, enquanto meu quadril se move para um lado e para o outro. Sorrio mesmo sabendo que eles não podem me ver através da máscara que cobre meu rosto. Um assobio surge do meu lado direito e eu inclino ainda mais a minha bunda sem sair do ritmo da música. Lento, constante, latente... me deixando ainda mais poderosa.
Eles conseguem sentir o magnetismo. Elas sonham comigo enquanto trabalham com seus dedos. Todos sabem o quanto eu posso ser fascinante e ao mesmo tempo intrigante. Ninguém sabe quem eu sou, aqui no palco, me torno apenas a Dama de vermelho; sem nomes, endereços ou contatos. Apenas prazer e desejo, assim como o cheiro do puro carnal que sobe no ambiente deixando todos com seus olhos revirados.
O dj da casa faz um sinal com as mãos enquanto Sin City começa a ecoar e imediatamente a penumbra se esvai dando espaço para uma luz vermelha e roxa combinando com o meu vestido de látex curto vermelho. Eu sabia que o mínimo que eu abaixasse mostraria mais do que deveria. Então me encosto no pole dance, e de costas deixo que o vestido suba. Sem vergonhas ou reservas.
Eu amo esse momento, aqui eu sinto que posso ser eu mesma sem pressões ou críticas. Aqui eu não sou a Lizzie carinhosa ou a filha do cara mais importante do Estado. Aqui eu não sou um exemplo e nem um fardo. Aqui eu sou a Rainha, a Dama de Vermelho.
Vejo Angel, como ela gosta de ser chamada, subindo ao palco com uma saia branca curta e um top da mesma cor rendado. Seu corpo é magro, mas o ponto chave está no volume no seu top, seus seios são fartos contrapondo com a cintura fina.
Você está pronta? — Ela sussurra ao chegar perto de mim.
Sin City wasn't made for you,
Angels like you.
Oh you Know it...
Não a respondo, seguro seus cabelos loiros com umas das mãos enquanto a virou encostando-a ao pole dance no ritmo da música, e os clientes vão a loucura. Gritando e jogando centenas de notas no palco. Então o show começa.
❦ ❦ ❦
— Você está horrível!
A primeira coisa que eu escuto ao abrir os olhos. O sol entra assim que Margaret, minha mãe, abre as cortinas com violência.
— O que você fez na noite passada? — Continua a falar com a sua voz fina e irritante.
Margaret é uma mulher bonita, na casa dos seus quarenta anos, exalava juventude com seu corpo esguio, cabelos loiros sedosos, olhos azuis e um sorriso de causar inveja. Mas o que mais impressiona é a postura elegante, vestida com um vestido de seda rosa claro e um salto alto tão fino que eu me pergunto como ela consegue aguentar sem reclamar, então eu me lembro; mesmo sofrendo eu aguentei tão bem quanto ela.
"Repita comigo Lizzie: A dor nos torna mais forte", olho para Mag que está abaixada para ficar da minha altura, caída no chão eu observo seus olhos pegarem fogo ao me ver chorar.
— Garotinha. Não seja uma fracassada, levante-se do chão agora mesmo!
Com força suas mãos agarram meu pequeno braço me forçando a ficar de pé nos saltos de quinze centímetros, meus dedos se apertaram e doí, mas suspiro tentando segurar o choro.
—Você já tem onze anos. Já está na hora de aprender a se comportar como uma dama.
— Lizzie Perry! — Saio das minhas lembranças observando a mulher furiosa em pé ao lado da minha cama, uma dor de cabeça se instala me fazendo forçar os olhos para enxerga-la — Levante-se dessa cama. Temos visitas de pessoas importantes, seu pai precisa de você pronta em dez minutos!
— Bom dia para você também mamãe...
Resmungo levantando da cama, sentindo cada músculo do meu corpo se esticar e doer... a noite de ontem foi intensa demais, os resultados estão no pontear agudo nas minhas costelas. Mas não demonstro nada, como sempre.
— Não estou com paciência para as suas graças, você dormiu demais. Já está quase perto do almoço. Seu Pai já está uma fera! Inclusive, você não respondeu a minha pergunta.
— Eu fiquei até tarde estudando, acabei esquecendo de pentear os cabelos para dormir. Não irá se repetir mamãe.
Seus olhos azuis ficaram desconfiados, mas nada saiu além de um franzir de lábios, e assim ela saiu do meu quarto batendo a porta com uma força mediana e desnecessária.
Mais um almoço de merda. No último, o meu pai trouxe um investidor milionário que queria casar o filho de quinze anos comigo, uma atitude bizarra e horrível. O fato só não ocorreu porque houve um escândalo e logo depois o velho perdeu quase todos os seus investimentos.
Entro no banheiro tirando meu conjunto de pijama que consistia numa calça e blusa de manga cumpridas, totalmente proposital. Ao me olhar no espelho deixo um suspiro escapar. Um conjunto de olhos verdes opacos e sem vida me encaram de volta, meu cabelo castanho está emaranhado, embolado nem termino de olhar o resto do meu corpo. Pego os meus cremes essenciais e vou para o banho.
O choque da água fria em contato com o meu corpo quente me faz soltar um gemido baixo de dor, mas meus músculos agradecem a massagem recebida nos ombros pela força do chuveiro. Eu tinha somente dez minutos, não poderia atrasar... Era pior quando eu desobedecia as regras, mas naquele momento só fechei meus olhos e me permiti relaxar. Chegando não dez mas uma hora atrasada.
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Lorenzo Jehovin
RomanceA imundice da escuridão mostrava uma única saída: lutar ou morrer. Deixar que as circunstâncias de cada guerra afetassem sua vida não estava nos planos de Lorenzo. Mesmo assim, cada detalhe mudou o seu interior. Lizzie, fisicamente é a personificaç...