Quando eu tinha uns oito anos, mais ou menos, eu morava com minha avó e com a irmã dela, a tia Emília.
Nossa rua era sossegada, quase não passava carro nem caminhão.
Eu ia à escola de manhã, e de tarde eu fazia minhas lições e ia pra rua brincar com meus amigos.
Às cinco e meia em ponto banho e rezar; minha avó e minha rezava todas as tardes às seis horas.Depois do jantar ficávamos na sala, eu, lendo, minha avó e minha tia bordando ou costurando.
Televisão a gente só viu uma vez ou outra. Minha avó me deixava ver jogos de futebol ou basquete, mas tinha horror a novelas e programas de auditório. Era chato de matar!
A luz era muito pouca, que minha avó tinha mania de economia. Ela dizia que não era sócia da Eletropaulo.
Então eu cansava de ler e ficava inventando outras coisas pra fazer. Eu ficava desenhando, ficava enchendo os ós do jornal, brincava com as minhas joaninhas...
Uma vez eu amarrei um fio de linha na pena de um besouro e, quando ele voou, com fio pendurado, minha tia levou o maior susto.
Uma outra vez, eu inventei uma coisa legal! Enquanto minha avó e minha tia ficava rezando às seis horas, eu amarrei um fio de linha na perna da cadeira de balanço.
Depois do jantar, nós fomos para sala. Então, de vez em quando, eu puxava o fio e a cadeira dava uma balançadinha. No começo, elas não viram nada.
Até que tia Emília, muito assustada, chamou atenção da vovó.
- Ó, Amélia! - minha avó se chama Amélia.
- Ó, Amélia, você não viu a cadeira balançar?Minha avó não ligou muito.
Mas tia Emília ficou de olho.
Daí a pouco ela cutucou minha avó:
- Olha só, Amélia, ainda está balançando.
Minha vó olhou e ficou desconfiada. As duas se olharam e fizeram sinais para não me assustar... naquele dia eu não mexi mais na cadeira.Mas, no dia seguinte, eu fiz tudo de novo, só a minha tia é que viu a cadeira balançar.
Ela estava apavorada!
Então eu deixei passar uns dois dias e de novo dei uma balançadinha na cadeira.
E dessa vez as duas velhas viram!
Gente, que susto que elas tomaram! Me agarraram pela mão e correram para o oratório para rezar. Até aí, eu estava me divertindo.Mas o que eu não podia imaginar é que no dia seguinte, na hora em que eu costumava ir para rua brincar, minha avó me chamou, me mandou tomar banho e me levou para igreja.
Nove segundas-feiras eu tive que ir à igreja com minha avó e minha tia para rezar pelas almas do purgatório!
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A menina que não era maluquinha e outras histórias
HumorRuth Rocha reuniu estás divertidas histórias e contou com as ilustrações de Mariana Massarani. O Oscarzinho era um menino de negócios. Fazia de tudo para ganhar uns trocados, até alugar a irmãzinha!... já aquela menina dizia que NÃO ERA maluquinha...