A Procura

15 2 0
                                    

A garotinha vagava perdida pela cidade, que parecia claramente ter sido fortemente atingida pelo tempo. As casas e construções daquela pacata cidadezinha eram repletas de móveis e objetos antigos e já meio apodrecidos pelo tempo. As ruas tinham muitas inundações e eram vastas de muita sujeira, além de pessoas sempre apressadas, não se sabe pelo quê.

A menina olhava a sua volta desesperada não sabia mais onde procurar. Ela olhava cada esquina, cada beco e não encontrava. Seus pés já doíam pelo longo caminho a pouco percorrido.

Uma moça vendo a aflição da garota se aproxima calmamente e pergunta com uma voz mansa e bondosa.

-- Olá menininha, você está perdida? -- A menina assustada a olha e, então, balança negativamente a cabeça. -- Oh, então o que houve?

-- Na verdade eu não sei. -- A mulher pareceu não entender mas depois sua mente pensou em uma possibilidade.

-- Você não tem para onde ir, certo? -- A garotinha não respondeu, no entanto, a moça continuou. -- Vamos, vou te levar pra minha casa, não se preocupe.

A menina ainda perdida e apreensiva viu a mão estendida graciosamente para ela e a pegou. A mulher e a garotinha se dirigiram por um, não tão longo, caminho pouco iluminado.

As duas encontraram um grande e supervelho portão que ia de encontro a um caminho de pedras. A moça retirou de seu bolsa uma chave grande e a girou, assim, abrindo a passagem.

O caminho pareceu para a menina um tanto tortuoso e sem destino. O final da estranha estrada mostrou-se ser uma imensa casa, de aparência graciosa e centenária.

A menina não conseguia nem imaginar como alguém moraria em um lugar tão gigante como aquele. Ela não encontrou, nem mesmo dentro da casa, pistas que indicassem que a mulher morava com alguém.

A mulher mostrou a ela um quarto elegante e delicado, com muitas cores, roupas e brinquedos que agradavam a menina. A garotinha se sentia uma verdadeira princesa e também sentia-se amada.

Os dias foram passando e tudo continuava pacífico e perfeito na visão da doce criança. Ela nem se lembrava mais do que meses atrás procuva afoita pela cidade. Ela brinca o quanto queira, comia, vestia do bom e do melhor e era amada pela dona do casarão.

Mas com o tempo a mulher começou a agir de modo estranho com a menina. Ela já não se fazia tão presente, deixava a menina presa no quarto como punição por coisas que a pobre criança nem tinha feito.

A garotinha não se sentia mais amada e muito menos feliz, ela tinha um sentimento de traição e de saudade. Não sabia exatamente do que tinha saudade mas sabia que tinha. Que precisava sair daquela casa, o mais de pressa possível.

O ruim é que ela não tinha um plano e não conhecia nada além dos corredores inacabáveis, não se lembrava do caminho percorrido para chegar a casa. Até porque ela estava perdida antes, ou não.

Sem um rumo certo a menina, agora cansada dos maus-tratos que sofria da pessoa que havia sido tão legal, sai da mansão e corre para a floresta densa que rodiava a casa. No caminho ela via diversos animais, como corujas, insetos de todos os tipos, sapos e caramujos.

Olhava preocupada diferentes vezes para trás, na esperança de não estar sendo perseguida. Por sorte não estava. Ela ouvia algumas vozes sussurantes dizeram coisas desagradáveis sobre ela e sobre o que era seu, seu corpo.

A garotinha encontrava-se triste com isso mas não parava nem por um segundo de correr. Corria porque sua vida dependia disso. Uma luz ao longe é avistada pela criança. Com esperanças renovadas ela corre veementemente em direção a iluminação.

Chegando lá a criança se lembra, sua mente é plenamente clareada por memórias. Ela sabe porque estava aflita naquele dia, sabe pelo o quê procurava. Está parada em frente a isso, a esse alguém que tanto desejava encontrar. Ela sorri e abraça a figura a sua frente. As vozes que mantinham-se vivas agora se calaram, deixaram finalmente a menina em paz.

Ela se encontrou.

O Mundo Do AvessoOnde histórias criam vida. Descubra agora