Um Conto de Revolucionários

Partindo da Terra do Amor e da Beleza

KOALA

A noite estava fria enquanto partíamos às escondidas de Dressrosa. A missão havia sido um sucesso e finalmente fomos capazes de descobrir a origem das armas contrabandeadas que sustentam guerras mundo afora - uma informação de extrema relevância para o exército revolucionário. Além disso, levantamos informações acerca do funcionamento das negociações no submundo, descobrimos a existência de um metal estranho chamado ferro-saquê, estamos voltando para casa sem baixas e Doflamingo foi derrubado pelo irmão do Sabo. Dragon ficará satisfeito.

Ainda assim, lidamos com um elemento surpresa que não esperávamos em Dressrosa e que com certeza balançaria os revolucionários: oito de nossos companheiros foram transformados em brinquedos e forçados a trabalhar para Doflamingo em segredo junto com milhares de outras vítimas. Como se já não fosse ruim o suficiente, os poderes de Sugar nos fizeram esquecer completamente deles, descartando qualquer possibilidade de resgate durante anos. Todas as vezes que me pegava pensando nisso um nó se formava em minha garganta, afinal, como pude esquecer de pessoas que conviveram comigo por tanto tempo?

O poder de Sugar era assustador e macabro demais para conceber e recuperar a memória após sua derrota deixou todos que estavam em missão abalados. Hack ficou pálido como papel no momento que se lembrou de Akira e Silena, seus melhores amigos que o acompanharam desde a Ilha dos Homens-Peixe até o ingresso no Exército Revolucionário. Ambos passaram cinco anos como escravos em Dressrosa.

Já eu... bem, eu me esqueci do Sam. Sam era um cara introvertido, resmungão e mal-humorado, mas também gentil, bondoso e muito inteligente. Assim como Sabo, Sam era a pessoa mais próxima a mim no Exército Revolucionário. Nós três crescemos juntos, arriscamos nossas vidas juntos e nos fortalecemos juntos. Ao recuperar a memória, o rosto dele foi o primeiro a vir em minha mente. A pele levemente bronzeada devido aos anos que passou navegando como pirata, o cabelo preto bagunçado, os olhos verdes como o mar e as várias sardas em suas bochechas.

Não sabia como tinha sido capaz de esquecê-lo, especialmente porque um mês antes de partir em missão para Dressrosa ele havia confessado seus sentimentos por mim. Agora, com a memória recuperada, o momento parecia ter acontecido ainda no dia anterior. Ainda sentia os lábios dele nos meus e o calor dos seus braços envolvendo minha cintura. Mas tudo isso tinha acontecido há muito tempo e desde a perda de memória muita coisa mudou.

Após me cansar de tentar dormir sem sucesso e devanear sozinha em minha própria cabine, decidi ir até o convés tomar ar fresco. Levantei-me pesadamente da cama, vesti meu casaco e comecei a passear silenciosamente pelos corredores do navio. Aparentemente todos já estavam dormindo, o que não era de se espantar, já que deveríamos estar perto das três da manhã. Ao chegar no convés, no entanto, me surpreendi com uma figura sentada na amurada do navio olhando para o céu. Ele tinha as costas apoiadas na borda do tombadilho e as pernas cruzadas à frente, ficando com o lado esquerdo do corpo voltado para o mar e o direito para o convés. Uma cartola jazia cuidadosamente em seu colo, seus cabelos loiros voavam com a brisa suave que vinha do mar e sua pele brilhava com a luz da lua que o banhava graciosamente.

- Sabo-kun? Chamei baixinho enquanto me aproximava.

Ele olhou em minha direção, nem um pouco surpreso com a minha presença. Deu um sorriso discreto e voltou a encarar o céu.

Imediatamente me lembrei de quando, dois anos atrás e poucos dias depois de recuperar a memória, Sabo me contou que Ace amava olhar para as estrelas. Desde então, ele passou a fazer o mesmo todos os dias, quase como se conseguisse se conectar com o irmão quando compartilhava do hobby dele.