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- Bom dia bem. Como foi a noite?

Abri os olhos ao som daquela voz doce, aqueci rapidamente o corpo com aquele suave "bem". Afinal, que frio de manhã aguentaria o vasto calor da menina dos cabelos de ouro.

- E como poderia eu ter passado a noite? - Ela sorriu e uma mecha de seu cabelo caiu sobre seu rosto. - Está tudo em sincronia.

- Como?

- Seus olhos brilhando junto com a luz matina do sol que vem da janela, seu cabelo em contato com seu rosto. É tudo que eu preciso nesta manhã. Ah Jade, estou completamente apaixonado por ti.

Suspirei. Ah, se eu soubesse que seria apenas aquela manhã...


- Guerreiro Khal? - ouvi chamarem e despertei de minhas memórias.

- Olá soldado, a que devo a honra?

- Senhor, talvez não me deva honra. Venho aqui, a pedido do médico de guerra. Vossa Majestade...

- QUIETO! - o interrompo - Leve-me até ele. - Ele assente e seguimos em silêncio.

Atravessei o campo de barracas apressado, talvez soubesse o por quê de estar indo até lá. Gotas de suor jorravam pelo meu corpo. Queira eu não acreditar. A terra do acampamento levantava poeira a cada pisada ansiosa e precisa, o vento que balançava os panos vermelhos das cabines já não era o suficiente para conter o calor nervoso de minhas mãos.

- PAI! - gritei ao entrar na cabana.

E lá estava ele. Deitado em uma cama, assim como eu, coberto de suor, porém com mãos frias. Seu cabelo branco estava de um jeito diferente. Estava pálido, mais do que o normal. Eu sabia exatamente o que lhe faltava: a alegria de se sentir vivo.

- Khal... - Ele disse entre soluços.

- Não se esforçe tanto. - Coloquei uma de minhas mãos em seu peito.

- Meu filho, vê que minha hora está por vir.

- Não diga isso meu pai, temos ótimos curandeiros, o Senhor é homem forte, já ficará bem.

- Não é bem assim meu pequeno - Eu sorri. Desde que fomos a guerra, era quase impossível ouvir um "meu pequeno" sair da boca de meu velho.

Era inviável não ser tomado pelo conforto da palavra. A lembrança de quando ele pôs sua cora em mim. Eu tinha apenas 8 anos, ainda sim lembrava de cada momento, de como ele ria a cada vez que a coroa escorregava sobre meus cabelos pretos, de como seu olhar esboçava felicidade de estar ali. Foi a primeira vez que me senti assim, amado. Ironia minha talvez,em plenitude de meus 21 anos, ter necessidade de ouvir, e ter certeza de que eu ainda era seu pequeno. Uma lágrima tocou meu sorriso e ele colocou suas mãos junto a minha.

- Não fique assim, por favor. Sabíamos que mais cedo ou mais tarde essa hora ia chegar. Ninguém é invencível. - Ele gargalhou.

- Não foi isso que me ensinou.

- Lhe ensinei a lutar, mas nunca a fugir de sua realidade.

- Irei me vingar, em seu nome! Eu prometo meu pai.

- Você não irá. O ódio e a ira acabam com um guerreiro. Vingança é algo que não carregamos em nosso lema. Tens minha alma Khal, não fará em isso. Em meu nome. - Disse ele exaltando os três últimos termos.

- Não posso vê- lo partir assim, e não fazer nada.

- Trate os inimigos como tratas teu amigo. Surpreenda- o. Será maior o desgosto. - A cada palavra que saia de sua boca, sua voz desaparecia.

- Pai. - Suspirei.

- Seja forte. Seja corajoso. O resto...

- Você conquista - Completei.

- Filho, tome conta da ferocidade de seu irmão. Ele deve temer que ela cresça.

- O que está dizendo meu velho? Eros não é assim.

- Não queira, e nem deixe que ele te mostre este lado fútil. - Concordei e ele prosseguiu. - Quanto Jade, sabes que ela é o meu bem mais precioso.
Cuide dela, por mim, por seu irmão, pelo reino... cuide dela por ti.

- Com toda minha força, com toda minha coragem, e honrando seu nome, meu pai. - Disse a ele já com seus olhos fechados. Foi a ultima vez. A última vez que vi aqueles olhos, um cor de mar e o outro de esmeralda, brilhararem.

Fiquei ali, parado junto ao seu corpo sem vida ,por instantes. Ainda desacreditado. Era muito cedo para sentir algo, vivi apenas o silêncio da circunstância.

Pessoas entravam e saiam, passos desesperados, como é de se esperar por estar em uma guerra. Cochichos, sons de ferro se chocando, foi o que me fez olhar ao redor. Pensei eu que já teria que me preparar para outra batalha, mas estava errado. A cena era de consolo. Espadas sendo jogadas ao chão. Armaduras se chocando em abraços. Sorri de lado. Esse era o legado dele, União. Ah meu pai, como você fez bem à nós. Como irá deixar saudades. Respirei fundo, juntei-me aos soldados e por fim fomos em direção a saída da cabana. Lá fora, o sentimento solidário era o mesmo. Em uma fila, os parceiros de batalha me esperavam sair. Aplaudiram assim que me avistaram.

O chefe da rotina veio até mim. Abraçou-me.

- Meus pêsames bom amigo. Eu e nosso bando,juntos, iremos dar um basta em nossos inimigos, isso não ficará assim.

- FOI ISSO QUE LHE ENSINAMOS? - Gritei.

- Meu amigo, precisamos lutar! Acabar com todos eles. Precisamos por seu pai.

- Amigo meu não pensa desta maneira, refira-se a mim como seu comandante apenas.

- Meu senhor... - Fiz um gesto para que se calasse.

- Cesse a guerra.

Mais uma vez o silêncio reinou. E era disso que eu gostava. Ele é uma das poucas coisas que gosto desta vida. O silêncio pode transmitir tanta coisa: Medo, ódio, calma, amor, solidão. Entretanto, o daquele momento passava poder. E talvez fosse a hora de assumi-lo.

Voltei ao meu abrigo. Coloquei-me a pensar. O que faria agora? A guerra estava um caos, o que condizia com a minha vida. Estava sem cabeça. Perdi meu pai, de forma que nunca esperaria. Estava longe de meu irmão. Estava longe de Jade.

- Seja forte Khal! - Dizia a mim mesmo enquanto esfregava o rosto.

- Com lincença, Senhor. - O mensageiro entrou.

- Fale.

- Vim trazer alguns dizeres de seu pai.

- Sente-se. - Ele pôs- se ao meu lado e começou a ler.

- "Querido Khal, venho aqui pedir-lhe que assuma as pontas da guerra. Dê um fim. Os inimigos não merecem que gastemos nossas energias com eles. Quanto a mim, peço que deixe meu corpo no primeiro rio que encontrar na volta para casa. Minha morte não alimentará o sangue do adversário, contrapartida, deixe que minha carne alimente os selvagens de reinos que tem fome." - Gargalhei e interrompi o mensageiro que me olhou sério.

- Ah, caro. Não gostas de ser interrompido? Você precisa de um gim. - Levantei-me para oferecer a bebida a ele que recusou. - Ande, é uma ordem, tome! Será que assim terá noção das bobagens que está a ler. - Ele assentiu e virou o copo. Ergui as sobrancelhas surpreso. - Prossiga.

- "Depois de cumprir seus afazeres, apenas volte ao Castelo. E lá, você e seus irmãos ficarão a par do que fazer. Com todo amor, seu memorável pai."

- Ah meu caro, ele sempre me deixou boquiaberto. - Rimos já um pouco alterados.

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⏰ Última atualização: Aug 13, 2021 ⏰

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