Prólogo

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   - Não! - gritou ele - Eu já disse não!

   - E eu já disse que não foi uma pergunta, pai! Não tem como me impedir. Não mais.

Ele bate na mesa, fazendo um som desagradável que reverbera pela Sala de Controle por vários segundos. Seus guardas não são bem sucedidos na tentativa de esconder o susto.

   - Eu sou o Anjo Mestre! E acima disso, sou seu pai! Não ouse me desobedecer, sabe que as consequências serão inevitáveis, seu ato será irreversível.

   - Nada é pior do que estar aqui em cima e não poder senti-la, estar no Paraíso sem ela não me serve para nada mais.

Senti meu corpo arrepiar. Pensar nela me provocava calafrios, me deixava eletrizado. Era como se eu fosse atingido por trinta raios ao mesmo tempo. E essa sensação me dava a certeza que eu precisava ir embora de casa, de que eu tinha que encontrá-la. Meu pai estava há menos de um metro de distância de mim. Vi a fúria em seus olhos, vi a decepção. Mas eu já não tinha controle sobre meus sentimentos, ele não podia fazer nada a respeito também.

   - A minha decisão está tomada. Vou me despedir da mamãe e de Jade, após isso, partirei.

Ele me impede de andar colocando a mão em meu peito. Sua voz vacila por instantes, mas ele logo se recupera e continua:

   - Se for, não terá o direito de se despedir. Apenas vá! E mostre a todos a vergonha que és! Humilhe sua família diante de todos, faça isso. Mas não volte! Nunca mais! Os portões do Paraíso jamais se abrirão para você novamente, inclusive quando ela vier pra cá. Sabe que ela morrerá um dia e partirá, mas você... você vai ficar condenado a vagar pela Terra sozinho. Como um fantasma!

Aquelas palavras já me machucaram um dia. Já me fizeram desistir da ideia, mas hoje não penetram em minha alma. Aceito minha condenação.

   - Então diga à mamãe e à Jade que eu as amo! 

Kai, um de seus soldados e amigo da família, coloca a mão sobre o ombro de meu pai e me olha fixamente nos olhos.

   - Ed, sabe que te considero como um filho. Não faça isso, menino. Não jogue sua vida fora. Espere até que a hora dela vir para cá chegue.

   - Agradeço pelo carinho, Kai. Mas nada fará eu mudar de ideia.

Dei as costas para as pessoas que estavam na sala e encarei o enorme portão de bronze. Fechei os olhos e senti uma brisa doce esbarrar em meu rosto. Pensei pela última vez em minha mãe e em minha irmã. Então abri os olhos e olhei para meu pai por cima do ombro.

   -Adeus, pai!

Vejo de relance ele cair de joelhos no chão, colocando a mão em seu peito. Não me virei para não ver as lágrimas escorrerem de seus olhos. Kai se ajoelhou ao lado dele oferecendo apoio, e com a mão livre fez sinal para que eu parasse. Me viro de volta para o portão e o abro. A luz que invade a sala é estonteante. Dou o primeiro passo e o chão branco sob meus pés vai ficando preto e se reduzindo a cinzas. Coloco os dois pés para fora e fecho o portão. Todo o assoalho desmorona e meus pés tocam o ar. Eu estava caindo.



(A imagem do capítulo corresponde à Edward. Cada capítulo terá a imagem de um personagem da saga)

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