Entre Anjos

2 - Edward

A queda foi rápida. Em instantes eu tocava o chão gelado do Oregon. Senti uma descarga de adrenalina atravessar meu corpo e percebi que já estava invisível aos olhos humanos. Eu consegui! Estava feito, eu finalmente estava na Terra! Olhei para o céu e vi ele se revoltar, preencher seu azul com cores cinzas e nuvens nervosas. Meu pai estava furioso e queria deixar isso bem claro. Me levantei com um salto e fechei os olhos. A imagem dela veio em minha mente na mesma hora, fazendo meu coração bater mais forte. Eu podia sentir o cheiro dela cada vez mais perto, podia sentir sua pele encostando na minha... eu podia prever a maciez do seu cabelo ao tocar em minhas mãos. Abri os olhos e meu instinto me levou até ela.

A Terra é diferente quando se está nela. Lá de cima tudo parece tão pequeno, tão insignificante. Mas de perto tudo fica maior, imponente. Humanos andando apressados para todos os lados, gritando e amaldiçoando uns aos outros na rua, cada um com um escapulário no pescoço. Soltei uma risada. É cômico o quanto eles se apegam em figuras divinas sem ao menos ter fé. É como se precisam acreditar em algo maior, como se precisassem depositar seus medos e frustrações em algo que foge de suas percepções, apenas para se sentirem menos vulneráveis. O divino não passa de um colo para eles. Queria que soubessem o quanto há por trás disso...

Começo a andar como se fosse um cão de caça atrás de sua presa. Eu sabia exatamente qual caminho seguir, como se houvesse uma estrada de tijolos dourados me guiando até ela. Quanto mais eu chegava perto, mais podia sentir a presença dela. Até que então, eu a vejo. Caminhando serenamente entre as árvores da rua. Meu primeiro impulso é de abraçá-la e nunca mais soltar, de me mostrar para ela e declarar todo o amor que sinto. Mas me contenho. Chego perto cautelosamente, e toco seu ombro com minha mão. Ela não sente diretamente, ela sente apenas um calor emanando em direção à ela, e por enquanto isso me basta. Vejo que sua respiração fica acelerada e para por um momento analisando seu arredor. A envolvo com meus braços para ela se acalmar e vejo que isso acontece. Então caminho com ela até sua casa, sem acreditar que finalmente estou ao seu lado. É tão linda de perto quanto é de longe. A delicadeza de seus traços pode ser comparada ao mais fino traço de um pintor. Ela é única, ela é obra de arte... ela é divina.