9. 𝐭𝐨𝐮𝐜𝐡𝐞𝐬

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Não me esqueço, mas há poucas coisas que realmente me lembro.

Nunca me esquecerei da primeira vez que tive meu coração quebrado por alguém que eu amei. Mas eu não me recordo do seu rosto. Não recordo do seu toque. Foi a minha primeira perda e dor que eu senti apenas anos mais tarde, quando eu entendi o que era o amor. Mesmo sua voz sendo falha em minha memória, ela me traz uma sensação quente.

Às vezes, venho me questionando o porque ela me abandonou.

Eu venho tentando descansar e não pensar nisso recentemente, já faz muito tempo, eu já deveria ter superado. Sou uma adulta agora e não mais uma garotinha.

Porém, quando vejo, já estou escorada na janela do quarto com garrafas vazias espalhadas pelo chão na companhia da lua, que ocasionalmente, nem ela mesma aguenta me ver afundando nessa melancolia que eu mesma me coloquei.

Eu realmente estou tentando dar o meu melhor? Estaria lamentando assim se estivesse?

Preciso me recompor e tentar novamente.

— Você está um caco. - Shoko comentou tragando o cigarro com o odor levemente mentolado.

— Obrigada. - sorri forçadamente.

— São problemas com o seu sócio?

— Também.

— Trabalho em geral?

Resmunguei algo em confirmação olhando um homem que entrava com uma criança na mesma cafeteria que estávamos para matar o tempo.

Ele parecia ser seu pai. A pegou no colo colocando perto da vitrine de doces e ela sorriu animada apontando para uma torta de morango com merengue. A moça do caixa assentiu, e a menina saltitou até uma mesa vazia com o homem a seguindo.

Assisti a alegria da garotinha quando a garçonete deixou a sobremesa na sua frente. Ela atacou sem demoras se lambuzando fazendo seu pai rir. Ele pegou um guardanapo e a deu para se limpar; tenho certeza que ele disse a ela para comer mais devagar, porque a mesma assentiu diminuindo a empolgação, mas ainda animada.

Até seus lábios silabarem um "eu te amo, papai".

Nessas horas a porra da minha visão funciona perfeitamente.

— Vai me contar ou não? - Ieiri estalava os dedos chamando a minha atenção.

— Contar o que? Não estava prestando atenção, desculpa.

— O que aconteceu entre você e ele.

— Ele quem? Fala de Satoru?

Ela engasgou soltando um riso.

— O seu sócio é Satoru? Satoru Gojo? - confirmei com a cabeça. - Caralho, eu estudei com ele.

— Que? Como assim?

— Se for o mesmo, no colegial. Nossa, você deve aturar cada coisa com esse seu pavio curto...

— Não tenho pavio curto. - rolei os olhos. - Mas sim, ele me estressa, me irrita, tem atitudes infantis e não sei lidar com ele. Parece que perco o controle.

Shoko deu um sorriso sugestivo.

— Não começa. Semana passada ele pagou meu carro sem minha permissão!

— Vocês foram comprar carro juntos?

— Sim, ocorreu.

— E ai?

— Eu acabei soltando demais e eu não sei como, mas quando percebi, já estávamos nos beijando. - ela fez um "o" com a boca.

— Você beijou o cara que mais te irrita? - soltou uma risada alta. - Para quem te deixa estressada... Já deu uns pega nele duas vezes. Acho que esse estresse é tesão acumulado entre vocês dois.

𝐃𝐄𝐀𝐃 𝐑𝐎𝐒𝐄𝐒 - Satoru GojoOnde histórias criam vida. Descubra agora