18. 𝐛𝐚𝐝 𝐝𝐞𝐜𝐢𝐬𝐢𝐨𝐧𝐬 𝐦𝐚𝐤𝐞 𝐦𝐞 𝐚 𝐛𝐚𝐝 𝐩𝐞𝐫𝐬𝐨𝐧

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TW: emotional dependency; manipulation 



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O incessante barulho do celular me obrigou a levantar. Não por curiosidade para saber quem é, mas porque minha cabeça estava perto de estourar.

Ao esticar meu braço um estrondo vindo da sala me assusta. Arrombaram minha porta. Olho para a entrada do meu quarto. Por incrível que pareça, não esboço reação, mas sinto um medo. Talvez pelo instinto de sobrevivência.

— Peach? Você está aí?

Uma voz doce, chorosa e um tanto ofegante pergunta em um tom extremamente receoso.

Abro a minha boca para responder. Eu reconheço aquela voz. Eu quero dizer que estou, mas o cansaço é tanto que da minha garganta não sai nada. Ou talvez, eu nem esteja mais aqui.

Pela falta de resposta — imagino eu— a porta se abre e meus lábios se fecham. Uma lágrima escorre do meu rosto e dos olhos de Yuuta que fez a expressão mais feliz que eu já tinha visto alguém fazer por me ver.

Ao vê-lo daquela maneira, depois de tudo, é ainda mais significativo para mim fazê-lo sorrir. Porque me faz crer que talvez, só talvez, eu possa ser uma das pequenas e preciosas fontes de alegria. Faz-me sentir amada por milissegundos.

Até eu lembrar que me odeio. Lembro-me também do meu estado. Eu estou horrível. Não sei há quanto tempo não tomo banho ou escovo meus cabelos.

De automático, me cubro aos cobertores e me escondo. Passos cuidadosos vêm até mim, e ao meu lado afunda. Yuuta sentou-se na cama junto a mim e me abraçou.

Então, eu o ouvi chorar. E seu choro me molhou.

— Não faça isso comigo. É tortura não saber se você está viva.

Fiquei em silêncio, escutando e sentindo os batimentos de Okkotsu preencherem meus ouvidos e me acalmar.

Naquele momento, só nosso, me senti no infinito.

Aquele momento me lembrou minha mãe.


— Não tenho os melhores dotes culinários, mas espero que goste!

Yuuta exclamou enquanto trazia uma bandeja avantajada de comidas que eu tinha certeza que não aguentaria e a deixou sobre o meu colo, na cama. Antes disso, ele me levou ao banheiro e me deu banho enquanto me enchia de carinho. Suas mãos delicadas com seus longos dedos me lavavam sem nenhuma malícia, havia apenas cuidado. Seus dígitos passavam pelos meus fios de cabelo, os lavando com capricho. Mesmo a água se esfriando pouco a pouco, ele me esquentava com aquele sinal de amor.

Então isso é ser amada?

Percebo que não sirvo para ser amada.

— Você lembra das vezes que cuidou de mim? — ele questiona com amabilidade enquanto me servia da sopa verde com tofu.

— Não foram tantas... — murmurei soltando uma leve risada — E você apenas ficou ainda mais arguto!

Uma risada deliciosa saiu de suas cordas vocais e eu o admirei. Yuuta é lindo como o nascer da primavera logo após um frio inverno.

— Eu ainda lembro de você preocupada comigo da última vez que fiquei gripado... Eu sussurrei algo em seu ouvido enquanto você me servia dessa mesma forma. Foi uma coisa pervertida para se dizer naquele momento, mas eu falei mesmo assim. Fiz você sorrir e desviar o olhar; lembro-me de você ficar vermelha — ele me deu a tigela em mãos e apertou minha bochecha — E você exclamou: Degenerado!

Concluiu rindo.

— E logo depois eu descobri que você estava bem há uma semana, mas continuava fazendo manha só para ficar na cama?

Perguntei de modo brincalhão arrancando um riso fofo dele.

— É que eu gostei da sensação de cuidado que você trouxe.

Ele respondeu com um lindo sorriso, olhando em meus olhos. Suas orbes brilhavam.

— Eu sei — respondi retribuindo o olhar.

E quieto tudo ficou. Yuuta tirou a tigela de sopa de minhas mãos e a colocou na cômoda, se ajeitando e se aproximando mais.

— Peach... — ele disse manhoso, se esfregando, igual um gatinho pedindo carinho.

Eu já sabia o que ele ia falar.

— Por que você não me dá uma chance? — perguntou-me, com seu corpo abraçado ao meu — Você sabe que eu sempre farei tudo ficar bem enquanto você estiver comigo.

— Yuuta...

— Eu prometo! — ele me cortou — Eu prometo ser compreensivo. Cuidar de você. Faça o que quiser comigo! Eu me doarei como for preciso.

Ele se levantou, me encarando. Olhando em meus olhos, me fazia um carinho que me trazia tanto conforto...

— Eu não sei se ...

— Você gosta, não gosta? — ele sorriu se aproximando dos meus lábios surrando: — Você gosta desse cuidado, não gosta?

Eu gosto. Concordei com a cabeça.

— Você gosta de mim, não gosta?

Eu gosto. Assenti em confirmação.

Porra, Yuuta. Isso não é justo...

— Quando eu te vi pela primeira vez, senti algo inexplicável — ele dizia baixinho — Foi uma felicidade em uma intensidade que eu não consigo entender. Até hoje, guardo no corpo aqueles respingos de excitação. Quando eu te vi, Peach, tive uma certeza: ou você seria o amor da minha vida, ou a primeira que partiria o meu coração.

Ele pegou minhas mãos e as apertou como se eu estivesse indo embora, mesmo estando a sua frente, totalmente vulnerável e entregue aquele momento.

E Yuuta percebeu isso.

— E-eu estou pronto, seja para você partir meu coração ou ser o meu amor. Faça-me girar à sua volta como aquelas que a Terra dá quando se gira ao sol. Prove do meu amor. Você realmente me dominou, então, isto não é só uma paixonite. O que custaria tentar?

Por que tentar algo que eu já sei que não vai dar certo? Eu não te amo desse jeito Yuuta...

— Por favor.. — ele cochichou como uma prece e uma lágrima molhou meu rosto — Vamos dançar igual o dia que nos conhecemos...

Mordendo os lábios com força, concordei, pela terceira vez, com a cabeça, sem dizer nenhuma palavra.

Ele me olhava com aqueles olhos, o que ele realmente esperava? Sabia que eu iria me entregar.




Naquela noite, eu concordei em trazer a pior dor que alguém que sente pode passar: a de magoar alguém que se ama.

E eu tinha consciência quando confirmei que aceitaria isso ao deixar-me levar pela sua bela declaração.



Eu não serei o amor da sua vida, Yuuta. Eu partirei seu coração, e eu tomei essa decisão.



Eu sou uma pessoa horrível.

𝐃𝐄𝐀𝐃 𝐑𝐎𝐒𝐄𝐒 - Satoru GojoOnde histórias criam vida. Descubra agora