ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ ᴛʀês

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Não sei quanto tempo se passou desde nossa última caçada, provavelmente apenas alguns dias, mas sinto que é hora. Sinto a eletricidade dos meus membros crepitando e diminuindo. Tenho visões implacáveis de sangue na minha cabeça, aquele vermelho brilhante e hipnotizante, fluindo por tecidos rosa de padrões intrincados, pulsando e vibrando com sua energia vital.

Encontro com lisa na praça de alimentação conversando com algumas garotas. Ela é um pouco diferente de mim, pois parece gostar da companhia das mulheres, e sua dicção "melhor do que a média" as atrai como carpas deslumbradas, mas ela sabe manter distância. Ela as afasta com suas risadas. Uma vez os Ossudos tentaram arranjar uma esposa para ela, mas lisa simplesmente saiu andando. As vezes fico pensando se ela tem uma filosofia, talvez até uma visão do mundo. Gostaria de me sentar com ela e pegar um pedacinho de seu cérebro.

— Cidade. — falo e coloco a mão na barriga. — Comida.

As garotas que estão conversando com ela olham para mim e vão embora. Percebi que deixo algumas pessoas nervosas com a minha presença.

— Eu... comi — lisa começa a responder fazendo uma careta. Há dois... dias.

Ponho a mão na minha barriga de novo.

— Sinto vazio.

Ela acena com a cabeça.

Olho fixamente para ela:

— Preciso. Vá... chamar outros.

Ela suspira e sai andando, trombando em mim com força quando passa, mas não tenho certeza se foi de propósito. Afinal, ela é uma zumbi. Logo, lisa encontra alguns outros que estão com fome e formamos um pequeno pelotão. Tão pequeno que não é seguro. Mas eu não ligo. Não me lembro de já ter ficado com tanta fome quanto agora.

Saímos em direção à cidade e pegamos a estrada. Como todo o resto, ela também está retornando para a natureza. Caminhamos pelas pistas vazias e passamos por baixo de viadutos repletos de vegetação. Penetramos mais do que o habitual nas entranhas da cidade. Os únicos cheiros que sinto são de ferrugem e poeira.

Os vivos menos protegidos estão ficando escassos, e os que tem um bom abrigo saem cada vez menos. Suspeito que o Estádio/fortaleza deles está se tornando autossuficiente. Imagino um vasto jardim nas laterais, cheio de cenouras e feijões. O gado sendo criado nas cabines de imprensa. Grandes arrozais em algumas partes do campo.

Mas finalmente sentimos a presença de nossa presa. O cheiro da energia vital eletrifica nossas narinas de forma
abrupta e intensa. Eles estão bem perto e são muitos. Talvez quase metade do tamanho do nosso grupo. Hesitamos e paramos. Lisa olha para mim, para nosso pequeno grupo e pra mim de novo.

— Não. Ela grunhe.

Aponto para o prédio retorcido e em ruínas que está emitindo o aroma como se fosse aquele rastro de fumaça que vemos nos desenhos animados, que nos puxa pelo nariz e diz venha..

— Comer. — Eu insisto.

Lisa faz que não com a cabeça.

— São... muitos. — ela diz.

Mas eu repito:

— Comer.

Ela olha para o nosso grupo novamente e sente o cheiro que vem do prédio. Os outros estão indecisos. Alguns ficam prestando atenção no cheiro, mas outros são mais decididos como eu. Eles grunhem, babam e rangem os dentes. Começo a ficar agitada.

— Preciso! — gritei, olhando para lisa. — Vamos... lá.

Virei-me e comecei a andar cambaleante para o prédio, com o pensamento focado no que havia lá dentro. O resto do grupo me seguiu por reflexo. Lisa me alcançou e continuou andando do meu lado, olhando para mim com uma careta inquieta.

minha namorada é uma zumbi  ~𝔠𝔥𝔞𝔢𝔫𝔫𝔦𝔢~Onde histórias criam vida. Descubra agora