No momento em que saio do túnel de entrada minhas fossas nasais são inflamadas pela densidade de vida que existe aqui. Está por todos os lados à minha volta, tão doce e potente que é quase doloroso. Sinto como se estivesse me afogando em um vidro de perfume. Mas no meio dessa neblina densa, posso sentir o cheiro de Jennie, que faz cócegas no meu nariz. Então eu sigo o aroma.As ruas têm a largura de calçadas, estreitas faixas de asfalto construídas por cima da antiga grama, que ainda escapava de cada pequeno buraco não pavimentado como um musgo verde espalhafatoso. Não ha nomes nas placas das ruas. Em vez de listas de estados, presidentes ou nomes de árvores, as placas apresentam apenas desenhos brancos, uma maçã, uma bola, um gato, um cachorro, como se fosse um guia alfabético para crianças. Tem lama por todos os lados, deixando o asfalto mais liso e se empilhando nas esquinas junto com os detritos do dia a dia: latas de refrigerante, bitucas de cigarro, camisinhas usadas e cápsulas de balas.
Ando com a cabeça baixa, me mantendo o mais perto do muro que consigo. Quando encontro com alguém vindo no sentido contrário, mantenho meu olhar diretamente à frente até o ultimo momento, então permito uma troca rápida de olhares, para também não parecer não humano. Passo pelos vivos distribuindo cumprimentos desajeitados.
Um barulho de farejar aos meus pés me
faz desviar a atenção. Olho para baixo e vejo um filhote de Shepherd Alemão estudando minhas pernas com narinas cintilantes e úmidas. Ele olha para mim. Olho para ele lá embaixo, ofegando feliz por um momento e então começa a comer minha panturrilha.- Trina, não! - Um garotinho vem correndo e segura a coleira, puxando a cadela para longe de mim e a levando até a porta aberta de onde tinha saído. - Cachorrinha malvada.
Trina gira a cabeça para conseguir olhar para mim.
- Desculpe! - diz o garoto do outro lado da rua.
Aceno para ele levemente com uma das mãos.
Uma garotinha sai da porta e se junta a ele, apertando a barriga e olhando para mim com seus grandes olhos escuros. O cabelo dela é preto e o do garoto é loiro e encaracolado. Os dois devem ter uns seis anos.
- Não conte para nossa mãe, tudo bem? - Ela pede.
Faço que não com a cabeça, engolindo um repentino refluxo de emoções. O som das vozes daquelas crianças, a dicção infantil perfeita...
- Vocês conhecem... a Jennie? - Pergunto.
- Jennie Kim? - O menino indaga.
Faço que sim com a cabeça.
- Gostamos muito da Jennie. Ela lê para gente todas as quintas-feiras.
- Histórias! - A garotinha acrescenta.
- Sabem onde... ela mora?
- Rua das Margaridas. - Diz o menino.
- Não, Rua das Flores. São flores! - A menina responde.
- Margarida é uma flor. - Ele fala.
- Ah - A garotinha diz.
- Ela mora em uma esquina, entre a Rua das Margaridas e a Avenida do Diabo. - O menino continua.
- Obrigada. - Digo a eles e me viro para ir embora.
- Você é uma zumbi? - A garotinha pergunta em um guincho tímido.
Congelo na hora. Ela espera a minha resposta, equilibrando o peso em cada um dos pés alternadamente.
Relaxo, sorrio para ela e dou de ombros.
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minha namorada é uma zumbi ~𝔠𝔥𝔞𝔢𝔫𝔫𝔦𝔢~
RomanceEm um mundo pós-apocalíptico, a zumbi park roseanne acaba se apaixonando pela humana Jennie Kim. No meio de tantas aventuras será que Jennie estaria nutrindo também um sentimento pela zumbi? ADAPTAÇÃO!