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"Eu me entreguei como se você pudesse me salvar quando eu me atirasse em abismos; foi só depois que partiu que entendi como fui egoísta por ter calculado a queda muito antes do risco sem sequer saber que a única pessoa que poderia recolher meus pedaços me fazer inteiro de novo era eu mesmo. "

JT


Emma atravessou a Warren Drive encarando a movimentação dos carros com atenção, enquanto pacientemente tentava equilibrar as pastas entre as mãos. Quando enfim alcançou a calçada, não demorou para dar um jeito de empurrar a porta da cafeteria da esquina e encontrar o rosto sorridente de Cat aguardando-a na mesa de sempre. Emma caminhou até ela, despejando as pastas repletas de livros e provas para corrigir sobre a mesa, e Cat fez uma cara feia.

— Um Ipad resolveria esse problema, sabia? Pra que carregar tanto papel se hoje em dia existe pdf? — a loira pergunta, fazendo uma careta e bloqueando a tela do celular. Emma rolou os olhos, tomando um lugar para si e acenando para a garçonete.

— Você sabe que eu sou meio analógica. — respondeu simplesmente, soltando um suspiro pesado, para então pedir uma dose dupla de café extra-forte para a jovenzinha que se aproximava da mesa.

— Analógica? Eu chamo de burrice, isso sim.

Emma lançou uma careta na direção da melhor amiga, decidida a mudar de assunto.

— Como foi a apresentação? Conseguiu a nota?

Cat balançou a cabeça negativamente, parecendo irritada.

— Não. A Sanders levou a melhor com um artigo super machista e sexista. — Emma lançou a amiga um olhar compreensivo. Cat era uma competitiva aluna do curso de mestrado em Literatura Feminina da Universidade da California , e quando perdia uma boa nota, era semanas para recuperar o bom humor.

— Lamento, Cat!

— Não lamente, beba comigo hoje a noite! — Cat pede, com um sorriso radiante, mas Emma nega com a cabeça no segundo que a garçonete lhe serve seu café.

— Não posso, tenho um jantar marcado com o John. Preciso contar a novidade a ele.

Cat rolou os olhos, parecendo perder a paciência, enquanto Emma apenas ignorou e desfrutou do seu café. Desde que tinha contado para sua melhor amiga sobre a oferta de emprego que acabara de aceitar, Cat constantemente a chamava de maluca ou coisa pior.

— Bom, eu gostaria de ser uma mosquinha só pra ver a cara de John Smith quando descobrir que a noivinha dele irá começar a dar aula em uma prisão de segurança máxima.

— Pois eu acho que será uma experiência incrível. Eu andei lendo o material que alguns dos detentos produzem e... Existem pessoas talentosas lá dentro, Cat. São poesias de primeira!

— Claro. Eu posso imaginar os tipos de... Habilidades. — Cat faz uma cara de desdém, para então encarar a amiga — De todo modo, qual é o problema de gente rica? Isso é algum tipo de culpa por ter grana demais e querer se redimir com o mundo capitalista?

Emma não evitou soltar uma gargalhada, para então se recompor e responder a amiga.

— Não quero me redimir com nada, só quero dar continuidade aos meus estudos da faculdade. Eu defendi minha tese com as poetisas da Penitenciária Feminina do Kansas e agora gostaria de fazer algo diferente. Então você pode bancar a chata, ou pode me ouvir falar sobre o projeto sensacional que irei desenvolver na Penitenciária Estadual San Quentin e que me fará ganhar o Prêmio Pulitzer.

Quando Emma terminou de falar, Cat não evitou o risinho debochado.

— Touché! É claro que você não estava fazendo isso por conta do seu coração benevolente. De todo modo, ainda acho que seu noivo vai surtar.

— Pois que surte — Emma dá de ombros, com certo desdém, agora encarando a rua pelo vidro da cafeteria — Ainda não engoli a história da viagem para Nova York.

— Você não conseguiu descobrir mais nada? — Cat perguntou, curiosa, mas Emma já negava com a cabeça, dando uma boa golada em seu café.

— Agora ele apaga as mensagens e limpa o histórico de ligações. Está ótimo em não deixar rastros.

— Ou você que está paranóica demais... — sugeriu Cat, escondendo as mechas de cabelo platinado atrás das duas orelhas e sorrindo genuinamente, como se não tivesse dito nada demais.

Emma estava se preparando para dar uma resposta atrevida quando o som alto de motores encheu o ar do fim da tarde. Enrijecendo, ela olhou por cima do ombro e viu o grande grupo de motoqueiros estacionando próximos ao calçadão da cafeteria. Ela e Cat observaram como os motoqueiros estacionaram em grupo. A California tinha um moto clube que havia tomado a cidade pacificamente, há três anos. Os Filhos da Anarquia formavam um grupo que tinha a sua localização real desconhecida para a maioria das pessoas da cidade. Muitos acreditavam que eles estavam situados nas montanhas na fronteira entre Arkansas e Missúri. Quando eles aparecem na cidade, problemas muitas vezes acontecem e os departamentos de polícia que fazem parte da fronteira, muitas vezes empurram os crimes uns para os outros; Por conseguinte, nenhum dos crimes que se acredita terem cometido sequer foram processados. Eles crescem e ficam fortes, em ambas as comunidades que fazem fronteira.

— Esses caras são de dar arrepio, mas são gostosos. — Cat faz questão de analisar, passando a língua entre os lábios e umedecendo-os.

Emma não tinha nada contra Os Filhos da Anarquia. Felizmente, eles ficavam na deles e os problemas que eles criavam ficavam em seu próprio grupo cheio de regras e os bares azarados que eles escolhiam para a noite. As consequências posteriores, por muitas vezes, deixavam os bares da cidade fechados por dias para reparos. Normalmente, um dos membros aparecia no dia seguinte com um maço de dinheiro para o proprietário, como um plus extra para silenciá-los. Tornou-se uma fonte regular de renda para os proprietários de pequenos comércios.

Emma olhou de relance para aquele grupo peculiar, enquanto entravam na loja em frente. Os homens estavam todos vestidos com jeans e jaquetas de couro com seu emblema na parte traseira. Junto a eles, várias mulheres estavam intercaladas entre os homens. Uma das jovens mulheres riu, atraindo a atenção de Emma através do vidro. Aquela era Samantha Leigh, uma jovem peculiar que cursou apenas o primeiro ano da faculdade e abandonou o semestre algum tempo depois. Lá estava ela, caminhando com a mão no cinto de um dos homens maiores. O braço dele estava casualmente envolto em torno de seus ombros enquanto ele caminhava ao lado dela e conversava com outro motociclista, ignorando totalmente os clientes que se dispersavam. Samantha estava vestida como Emma nunca a tinha visto antes, e ela já havia desenvolvido uma reputação antes que os motociclistas fizessem a sua presença conhecida na faculdade. Jeans apertados que deixavam seus quadris e barriga nua, com um piercing brilhando que chamou a atenção para o seu estômago liso. O top super pequeno deixou os globos de seus seios nus. Botas de motociclista completava a aparência de uma garota Emma tinha certeza que daria a sua avó palpitações no coração.

— Aquela é Samatha Leigh? — Cat esbravejou, abrindo a boca em forma de "O" e apontando através do vidro — Fala sério, ela é minha nova super-heroína.

Emma riu, desviando o olhar e voltando sua atenção para Cat.

— Acha que ela está mais feliz que a gente? — Emma pergunta, de repente, e Cat solta um risinho.

— Vou redefinir sua pergunta: Acha que ela tem uma vida sexual melhor que a nossa?

As duas gargalharam juntas, mas Emma pensou a respeito, estreitando as sobrancelhas.

— É bem provável. Li um artigo esses dias que dizia que casais estáveis tendem a desenvolver uma vida sexual mais monótona.

— Vida sexual monótona é melhor que vida sexual nenhuma, que é o meu caso — Cat suspira, voltando a olhar para o lado de fora da cafeteria — Bom, agora que já sabemos qual foi o fim de Samantha Leigh, me conte como pretende convencer seu querido noivinho de trabalhar na Penitenciária Estadual San Quentin.

Emma riu. Já estava planejando isso com antecedência e sua próxima missão estava aguardando a sua atenção. Esperava fazer isso em casa, antes do dia de amanhã. 

JAIL HEART [JAX TELLER FANFIC]Onde histórias criam vida. Descubra agora