[Em Breve] A Agente Secreta - Um Mistério Cor De Rubis

I - Pedras no Caminho

Caminhando pelos corredores da base, em passos apressados, analiso todos os possíveis motivos para essa reunião repentina e constato o óbvio: eu estou ferrada. Cumprimento a secretária do sexto andar com um aceno de cabeça, o melhor que consigo fazer com todo o meu nervosismo à flor da pele. Tenho certeza que serei demitida! Paro em frente à sala de reuniões n°3 e respiro fundo algumas vezes, até conseguir reunir coragem o suficiente para dar duas batidas fracas na porta, torcendo para que não houvesse ninguém ali. Para o meu puro desespero, escuto alguém pronunciar a palavra "entre" de dentro da sala.

-Foi bom enquanto durou. - Murmuro, baixo o suficiente para que apenas eu possa escutar.

Tento recompor um pouco do meu auto-controle e ponho a mão na maçaneta, girando-a e empurrando a porta para que se abrisse. Adentro o local, fechando a porta atrás de mim.

- Sente-se. - Ouço a voz de meu superior. Me dirijo lentamente ao local indicado e sento-me em frente à bancada em que se encontram meus chefes. Emely me abre um sorriso de desculpas e é aí que eu extermino qualquer vestígio de dúvidas que ainda pudesse ter. É um fato: estou entrando aqui pela última vez.

- Olha, eu sei que cometi um erro, mas eu juro... - começo a tentar me explicar. Ok, talvez eu ainda não tenha perdido todas as minhas esperanças.

- Tem razão agente Swann, a senhorita cometeu um erro muito grave, que poderia ter colocado em risco todo o desenvolvimento da missão. - Me interrompe.

- Mas eu...

- Agente Swann, creio que seria melhor que a senhorita deixasse seu superior conduzir a reunião. - Sou interrompida novamente. Dessa vez por Emy, que ergue uma sobrancelha, deixando claro que eu estava apenas piorando a situação.
Forço-me a ficar de boca fechada durante todo o discurso de Alexander.

- Como eu estava dizendo, a senhorita cometeu um grande erro, agente Swann, e esse tipo de acontecimento acarreta, na maioria das vezes, em demissão. - e lá se foram todos os anos de treinamento e dedicação - Porém, a senhorita é uma das nossas melhores agentes e eu, sinceramente, não queria ter que te demitir, afinal, isso nos traria ainda mais prejuízos.

Isso quer dizer que...

- Portanto, o conselho decidiu não demiti-la. - Fico tão feliz com a notícia que levanto-me emum pulo.

Minha nossa, eu não estou demitida! Aaaahhhh!

Ok, vamos pausar a cena por aqui.
Gostaria apenas de deixar claro que eu, geralmente, não sou uma garota histérica. Na verdade, eu até me considero bastante auto-controlada, acontece que este trabalho é minha vida, literalmente. Então a perspectiva de ser demitida, para mim, é o mesmo que seria, para uma pessoa qualquer, a perspectiva de... hum... morrer.
Agora, já resolvida essa importantíssima questão, voltemos à história.

- Muito obrigada, senhor! Eu juro que... - Droga! Eu fiz denovo!

- Senhorita, sente-se! - Tudo bem, cedo demais para comemorar. Volto ao meu lugar e me concentro novamente.

- Como eu ia dizendo, a senhorita não será demitida. Entretanto, é necessária uma punição aos seus atos, obviamente. Por isso, o conselho decidiu rebaixar sua posição quanto às missões. Uma nova missão já lhe foi designada, inclusive.

- O que?! - exclamo exaltada - Como assim me rebaixar? Eu sou a sua agente mais jovem e uma das melhores, você mesmo disse! Como vai fazer isso?

- Realmente agente, teremos algumas dificuldades a mais com sua mudança de nível, porém isso não altera o fato de que você precisa de uma punição.

Indignação me define nesse momento.

Por anos eu trabalhei duro todos os dias buscando a perfeição. E eu consegui o que queria, me tornei uma das melhores agentes dessa organização, além de ser sua maior arma, levando em conta minha idade.
Eu estava quase no topo.

E então, por um único erro, tudo desmorona. Um rebaixamento me retardaria, eu teria de conquistar novamente tudo o que já consegui um dia.

Eu dei meu sangue pela organização.

Não sei exatamente como aconteceu, mas em um momento eu estava sentada em uma sala de reuniões vendo todo meu esforço ir para o lixo bem na frente dos meus olhos e no outro eu já me encontrava em meu escritório, um andar abaixo.
Eu não fazia ideia de como havia chegado lá, mas eu andava de um lado para o outro arremessando longe qualquer coisa quebrável que encontrasse pela frente.

Uma fúria desconhecida me invadindo, e lentamente dando lugar à uma angústia inexplicável por tudo que havia acabado de perder.

Caio de joelhos e com as mãos na cabeça em meio a toda aquela bagunça.
Choro desesperadamente.
Tento me acalmar e me convencer de que não é nada demais, mas não tenho sucesso.

Assim eu continuo até perder totalmente a noção do tempo.

•°•

São quase oito da noite, e eu consegui me recompor um pouco apenas alguns minutos atrás. Passaram-se quase duas horas desde a reunião.

Já de pé em meio a toda a bagunça, olho ao redor analisando a situação.

Meu escritório se encontrava repleto de cacos de vidro, e muitas folhas estavam caídas no chão. Uma enorme bagunça.
Como não me cortei em meio a tudo isso, eu não sei.

Saio do meu escritório desviando do vidro e tranco a porta logo atrás de mim. Eu cuidaria daquela bagunça mais tarde, primeiro eu precisava de um banho.

Uso o elevador para chegar ao terceiro andar, onde se localizam os dormitórios dos agentes que moram na sede.

Viro o segundo corredor e uso minhas chaves para entrar no apartamento 23, o meu.

Entro e fecho a porta, mas não a tranco, porque já sei o que vem a seguir. Sento-me no sofá e analiso o apartamento enquanto espero.
Ele é composto por um quarto, banheiro, e uma pequena cozinha acoplada à simples sala de estar.

Escuto a porta do apartamento ao lado bater e logo a minha é aberta. A garota loira entra como um furacão, mas se acalma ao olhar para mim e fecha a porta se aproximando devagar.

- Maddie... - Ela suspira e senta-se ao meu lado, segurando minhas mãos - Eu soube do que aconteceu. Fui até o seu escritório, mas a porta estava trancada.

- Desculpe, Alina. Eu não queria correr o risco de descontar em você!

- Tudo bem. - tranquilizou - Aliás, aposto que eu não iria querer entrar lá, de qualquer forma. Deve estar tudo uma bagunça. - Sorri provocativa.

- Ei! Eu sou muito organizada! - reclamo, com a cara emburrada. Porque com a minha melhor amiga eu não preciso esconder minhas reações, ela já me conhece há tempo o suficiente para prevê-las.

- Claro que é. Mas também adora destruir coisas. - seu sorriso agora é vitorioso.

Ela volta a se concentrar, ficando repentinamente séria.

- Olha, eu sei que você deve estar se culpando, e eu não vou dizer que não foi sua culpa e bla, bla, bla. - Fala, tão consoladora quanto sempre. - Mas todos nós erramos Maddie, acontece que você não aceita ser uma humana como todos os outros. Você quer ser perfeita, e isso é impossível.

Abaixo a cabeça, assentindo, porque sei que ela está certa.

- Ok, agora vamos deixar essa negatividade de lado. Vai tomar um banho que eu vou cozinhar algo.

Ela me empurra em direção ao banheiro, indo para a cozinha logo em seguida.

Rio, entro no box e ligo o chuveiro. Torcendo para que a água levasse embora a maior parte das minhas mágoas.