Prólogo

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Era uma noite especial. Estavam comemorando o aniversário do senhor Wellcoat. A família toda estava reunida na mansão dele na Florida. A única filha do homem, Christine, estava no seu quarto, procurando o presente do pai quando ouviu barulhos altos no andar de baixo.

A garota gelou. Eram barulhos de tiros. Ouviram-se gritos vindos da sala de estar. Mais tiros. Christine entrou em pânico. Ela apagou a luz do seu quarto e se enfiou embaixo da cama. Seu vestido de festa bege e muito longo, mas ela tentou escondê-lo da melhor forma possível.

O som de passos fez a garota gelar. Eles estavam por perto. Christine mordeu o lábio inferior e tentou conter o choro. Lágrimas rolavam silenciosamente pelo seu rosto. O som da porta sendo aberta fez a garota querer gritar por socorro.

—O que você está fazendo? –Alguém perguntou. A voz era masculina, grave e arrastada.

—Recuperando o que é meu. –Respondeu uma voz feminina.

—Esqueça isso. O trabalho já foi feito. Temos que ir. –Disse o homem.

—Aquele desgraçado tirou de mim tudo o que mais era precioso. –A mulher respondeu. –Eu só quero retribuir o favor.

—Você já retribuiu, ele está morto. Será que podemos ir?

—A morte foi uma dádiva que ele não merecia. –Disse a mulher.

—Fale com o cadáver dele. –O homem estava impaciente. –Agora, vamos!

—Ele matou minha família. –Disse a mulher. –Tirou tudo de mim. Ele era um monstro.

—Nós matamos a família dele. Talvez também sejamos monstros.

—Ele me fez um monstro.

—Podemos discutir isso depois que sairmos daqui? –Perguntou o homem.

Christine fez um movimento involuntário, esbarrando no pé da cama, fazendo barulho. Ela se amaldiçoou mentalmente.

—O que foi isso? –A mulher perguntou.

Christine ouviu passos se aproximando do seu esconderijo. A mulher parou bem diante de onde ela estava. A garota mal conseguia respirar. A mulher se abaixou e viu a garota encolhida.

—Essa não. –Ela disse.

Christine examinou aquele rosto. A mulher era jovem, com cabelos castanhos e olhos negros como as trevas a qual ela pertencia. As duas ficaram se olhando por um tempo, até que a garota sentiu algo a agarrar pelas pernas e a puxar para baixo. Ela gritou enquanto era arrastada para fora do seu esconderijo, despertando a mulher do seu devaneio.

—Olha o que temos aqui. –Disse o homem.

Ele era alto, loiro e musculoso. Seus olhos eram azuis gélidos. Tanto ele quanto a mulher usavam roupas pretas e máscaras que deixavam os seus olhos e lábios à mostra.

—O que faremos com ela? –Perguntou o homem.

A mulher estava muda. Parecia chocada.

—Ah, foda-se. –Disse ele, puxando uma pistola do coldre na cintura.

Ele apontou o objeto direto para a testa de Christine. A garota fechou os olhos com força. O barulho do disparo fez Christine tremer. Ela sentiu um líquido se espalhando pelo seu rosto e corpo, mas a dor não veio. A garota arriscou abrir os olhos.

A mulher estava caída no chão bem na sua frente. Seu parceiro estava em estado de choque. Ele soltou a arma, com as mãos trêmulas.

—O que você fez? –Ele perguntou.

A mulher caída na frente de Christine gemeu um pouco. O tiro havia acertado a barriga dela.

—Ela não pode... –Ela tentou falar. –Por favor... Não conte a ninguém...

O homem desviou o olhar.

—Eu não vou. –Ele prometeu.

—Vá embora... –Disse a mulher.

O homem saiu disparado pela porta.

Christine se aproximou da mulher moribunda. A assassina estendeu a mão para o colar em seu pescoço. Era uma corrente de ouro com um pingente de uma rosa negra.

—Pegue... –A mulher pediu.

Christine estendeu a mão para o colar.

—Eu não posso... –Disse a garota.

—Você deve... –Disse a mulher. Havia lágrimas em seu rosto. –Deve se vingar... Você é como essa rosa agora... Solitária... Vingue-se daqueles que te tomaram tudo...

—Mas... –Christine tentou argumentar, mas era inútil. –Meu pai te transformou nisso?

A mulher soltou uma risada dolorida. Ela estava coberta de sangue, assim como Christine. Seus olhos estavam cheios de lágrimas.

—O seu pai... –Ela disse. –Ele deveria ter dito a verdade... Ele deveria... Ter contado tudo...

Um último suspiro e a mulher estava morta. Christine fechou os olhos da assassina. Sentiu uma forte vontade de vomitar, mas reprimiu o impulso. Tentou chorar, mas não conseguia. Ela não sabia como agir. Colocou o colar que a mulher lhe entregara e se deitou ao lado dela.

A garota puxou o celular que estava sobre a sua cama. Mal se lembrara de tê-lo deixado ali. Digitou alguns números e uma voz atendeu.

—Christy? –Seu padrasto, Gabriel Charletson atendeu ao telefone. –Está tudo bem?

—Você precisa vir até a casa do meu pai. –Disse Christine. Sua voz estava completamente ausente de emoções. –Traga a perícia e a emergência. Pode haver sobreviventes.

—Christine, o que aconteceu? –Gabriel perguntou desesperado. –O que você está tentando dizer?

A garota inspirou fundo.

—Estou tentando dizer que todos morreram, com exceção de mim. –Disse Christine.

—O que? –Gabriel gritava ao telefone. –Por favor, me conte o que aconteceu!

—Eu contarei assim que você chegar. –Disse Christine. –Por favor, venha logo.

Com isso, Christine desligou o telefone e o atirou de volta em cima da cama. A garota ficou observando o teto. Ela queria sentir dor, queria gritar, entrar em pânico, mas era como se um enorme buraco tivesse tomado conta do lugar onde uma vez estivera o seu coração.

A garota fechou os olhos. Estava completamente sozinha agora. Assim como a mulher morta ao seu lado dissera. Ela era como a rosa solitária em seu pescoço. E ela tinha uma missão que cumpriria, mas não seria a de vingança.

A única coisa que Christine desejava era a verdade. Apenas isso.   

Por Trás das MáscarasOnde histórias criam vida. Descubra agora