A Novata

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Era um dia completamente normal na minha vida. Eu estava sentado na entediante aula de matemática, ao lado do meu melhor amigo, Pete. Meu nome é Leo. Eu tenho dezoito anos e estudo na Escola Preparatória do Norte, num bairro do subúrbio de Nova York. Sou o primeiro da turma, não que eu me esforce para isso, mas os outros alunos não se preocupam com as notas. Na verdade, são poucos os que pensam no futuro ali.

Peter tem a mesma idade que eu. Meu amigo gosta de ser chamado de Pete, como se a falta de uma letra no nome fosse mudar algo em sua vida. Ele é alto e moreno. Sua cabeça é raspada e ele tem olhos verdes que fazem as garotas se apaixonarem, mas a única menina que Pete se importa é a gênio em Química, Lucy. Ela tem dezesseis anos e é uma ruiva baixinha, mas que consegue fazer de vulcões de bicarbonato e vinagre a armas biológicas.

Baixei a cabeça para o meu celular e observei o meu reflexo. Tinha cabelos negros bagunçados, minha pele era branca e os meus olhos eram castanhos. Eu era bonito, as meninas não piravam por mim como com Pete, mas eu chamava alguma atenção.

O professor falava alguma coisa que eu não conseguia prestar atenção. Aquela aula era tão insuportável. Tudo parecia estar envolvido em uma constante aura de sono,  até que o professor chamou pelo nome de Pete e pediu que ele fosse até o quadro. Sorri ao ver a expressão de desespero misturado com raiva no rosto do meu amigo. Ele tentava inutilmente resolver a expressão no quadro. Não conseguia.

Apanhei uma folha do meu caderno e rapidamente desenvolvi a fórmula da resposta. Amassei-a até virar uma bolinha de papel e taquei na direção de Peter. Ele sorriu ao apanhá-la, mas o professor notou a felicidade repentina dele e tomou o papel da mão de Pete.

—Quem lançou isso? –O Sr. Steven parecia furioso.

Ele era um idoso um pouco acima do peso e calvo, mas era muito bravo e fazia caretas engraçadas quando se irritava.

—Leo Dickerson. –Disse Violet Roset, uma garota que sentava bem na frente. Ela era legal, mas não aceitava ser a segunda da classe de maneira alguma.

—Venha até aqui, por favor. –O Sr. Steven acenou para mim.

—Obrigado, Vi. –Eu disse quando passei ao lado de Violet.

O Sr. Steven amassou a bolinha e a lançou em direção à lixeira, mas errou por alguns centímetros. Ele bateu o pé de raiva e me mandou ir apanhá-la. A turma estava chorando de rir e eu me continha para não fazer o mesmo. Abaixei-me para pegar o papel e de repente, os risos se cessaram.

Quando me dei conta, estava encarando sapatos sociais negros femininos. Subi o meu olhar devagar. Meia calça preta, saia preta, blusa branca e um casaco preto cobriam o corpo de uma garota assustadora – porém linda - na minha frente. Seu rosto estava fortemente maquiado, ela tinha os enormes cabelos negros soltos e usava um colar com pingente de uma rosa negra.

Eu engoli em seco. A garota me assustava, mas me fazia sentir desejo ao mesmo tempo. Eu gostava de garotas poderosas, e aquela era tudo. Eu notei que estava parecendo um idiota naquela posição. Apanhei a bolinha rapidamente e a joguei no lixo. Estava voltando para o meu lugar quando o professor me chamou.

—Não acabamos ainda. –Disse o Sr. Steven. –Fique aí onde está. A senhorita deve ser a aluna nova. –O idoso pegou a pauta na mesa. –Christine Wellcoat?

—Eu mesma. –Disse a garota.

Sua voz era completamente sem emoção. Eu senti algo quando ouvi o nome dela. Não me era um sobrenome estranho, pensei.

—Eu lamento. –Disse o Sr. Steven. –Pode se sentar.

A garota caminhou para o fundo da sala e se sentou ao meu lado, de modo que quando eu voltasse para a minha carteira, ficaria entre ela e Pete.

Por Trás das MáscarasOnde histórias criam vida. Descubra agora