A professora esperou que todos acabassem as exclamações de indignação e desentendimento e prosseguiu: "Amanhã será afixado à porta da escola um formulário com todas as novas regras que entram em vigor a partir de amanhã."
Interrompendo os gritos de revolta dos alunos, a professora disse que, como a venda dos queques do ano passado fora um fracasso, o diretor iria também ser despedido e, como tal, ela própria iria preencher a vaga. Desejou-nos uma boa tarde e saiu com um ar vingativo do palco.
Desde esse dia que não vi outra vez o Eric, o nosso orientador escolar. Fiquei com muita pena, pois ele era o único professor que me compreendia.
Fui para casa e fiz os meus trabalhos de casa. O ambiente ficou muito pesado desde a morte do meu avô. Passávamos jantares inteiros sem falar, apenas com o som da televisão.
No dia seguinte, como já estava à espera, estavam um monte de miúdos de roda daquela ficha, que estava afixada ao lado dos resultados do 8o ano. Depois de passar pelo meio de um monte de miúdos, consegui ver o folheto perfeitamente. As regras eram ridículas! Havia regras como não levar computador para a biblioteca ou até mesmo não usar os telemóveis no edifício. A malta passou-se quando soube que a net foi cortada na escola. Essas regras não me preocupavam. O que me preocupava era a professora, ou melhor, a diretora. Agora que está na mais alta das funções, pode punir qualquer um quando quiser e como quiser. Basicamente, a maioria das regras descobria-as da pior maneira: quebrando-as sem querer. Na aula de ginástica, por exemplo, usei as paralelas sem ter besuntado as minhas mãos com pó de talco, o que pelos vistos, põe-me, e aos outros, "em perigo". Assim, levei o último tempo de castigo.
Mais uma vez, o castigo estava cheio de "candidatos a terroristas", que passavam o tempo a olhar as moscas ou coisa parecida.
Agora quem vigiava o castigo era o ex-diretor, o Chalmers, que até se safou com um bom emprego. Quanto ao Eric, desde que se pôs a andar, nunca mais ninguém na escola ouviu sequer falar dele.
Quando saí do castigo, como sabia que a Catelinn já tinha ido para casa, tinha a tarde toda livre. Decidi ir para o café do Rogério, para lanchar. Contudo, quando virei a esquina numa avenida, dei com a via fechada. O pedreiro disse-me que estavam a construir um centro de ensino, por ordem do ministério da educação. Só me restava passar pela Rua do Peristilo, o que implicava passar pela loja de BD, ou melhor, pelo sítio onde costumava existir, que era a última coisa que me apetecia fazer.
Quando dobrei a esquina, reconheci o poste de eletricidade que estava sempre a piscar e que nunca era arranjado. Desviei o olhar quando passei no passeio à frente da loja. Não queria ver do que era feita a loja à qual se resumia a minha infância. Não! Eu tinha de saber! Agi por impulso, sem pensar e entrei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As páginas da solidão
RomansO livro fala sobre um rapaz que mudou de escola. Depois da mudança, teve dificuldade em se adaptar. No entanto, alguém o defende quando é mal tratado, alguém misterioso. Para além da escola, Peter passa muito tempo na casa do avô, que não era o m...