Alma Gêmea

Porto seguro

Na minha adolescência, por inúmeras vezes, passei horas em meu quarto junto ao meu tão precioso diário, onde eu transmitia todas as minhas expectativas e ansiedades para encontrar minha alma gêmea. 

Havia ganhado o diário ainda quando criança, dado pelo meu pai, mas só usei realmente a partir dos meus treze anos, quando comecei a querer expressar o que sentia de alguma forma. 

E agora, aqui estava eu, jogada em minha cama, lendo depois de oito anos tudo aquilo que escrevi. 

"Querido diário, hoje é mais um dia em que não encontrei minha outra metade, estou com quase dezoito anos e nada, sei que é questão de tempo, mas vê todos os meus colegas encontrando e estando felizes com seus parceiros me faz desejar encontrar o meu o quanto antes — Ass. Suzy". 

"Por que as pessoas são tão más com quem não enxerga as cores? Eu não tenho como controlar isso... Independente de onde você estiver, por favor, venha me encontrar — Ass. Suzy". 

Havia me esquecido da intensidade do quanto eu o esperava, como passava dias e noites imaginando, esperando e desejando por esse momento. 

"Querido diário, estou com meus quase vinte e um anos, sei que ainda tenho dois anos, mas a cobrança da família de meu pai está me cansando, e pra ser sincera, já não tenho tanta certeza de que vou encontrá-lo". 

Toda minha animação, expectativa, lembrei de tudo aquilo que desapareceu durante os últimos anos como se fosse hoje. 

Eu desejei tanto, rezei tanto, mas nada adiantou e todos os encontros familiares passaram a ser insuportáveis, e mesmo que não falassem na minha frente, eu sabia pelo olhar que me desprezavam. 

Me pergunto, por que continuo lendo isso? 

Ainda tentava assimilar tudo que havia acontecido uma hora atrás, quando minha única reação, ao sentir minhas mãos tremerem, foi agarrar as sacolas e correr, correr o mais rápido que podia. 

Ainda consigo ouvir a voz dele me chamando... Mas eu estava tão perdida. 

Como? O que isso significa? 

Por que só agora? Agora que tudo está indo bem? 

O toque insistente do meu celular me fez lembrar de Namjoon, ele ainda esperava por mim e por ser tarde, provavelmente estava preocupado comigo. 

Saí do transe procurando meu telefone de maneira apressada e acabei bagunçando algumas coisas no meio do caminho. 

— Finalmente! Amor, já estava ficando preocupado — Exclamou antes de soltar um suspiro de alívio — Sei que às vezes sai mais tarde, porém quando combinamos algo, você costuma me avisar, por isso me preocupei. Tá tudo bem? 

— Oi nam... Ta sim, desculpa, eu passei no mercado rapidamente e depois que cheguei em casa esqueci de te avisar. 

— Não precisa se desculpar amor, eu sei que teve um dia corrido — Sorri fraco, notando toda atenção que ele tinha comigo — Como foi seu dia? 

— Hm, bem eu... — Suspirei me sentindo aflita. Como contaria isso pra ele? — Eu sei que tá tarde mas... Pode vir aqui? 

— Claro! Mas aconteceu alguma coisa? Devo me preocupar? 

—  Sim e Não. Quer dizer, eu não sei! Bem, quero apenas passar um tempo contigo. Na verdade é só uma coisa que aconteceu e... — Parei subitamente ao notar que falava sem nenhuma pausa, deixando minha fala confusa — Eu to fazendo de novo né?