Galaxy | Michael Jackson

Capítulo 3

S/N
World Trade Center | Torre Norte
11 de setembro de 2001 • 09:00

 Michael está há muitos minutos tentando ligar do interfone que tem no elevador e também não para de apertar o botão de emergência. Ele esta bem irritado porque ainda não o atenderam. Tenho uma leve impressão de que Michael Jackson nunca ficou esperando nada por tanto tempo assim

 Eu estou em pé encostada na parece do elevador. Meu pé direito já ta na frente do esquerdo pra quando as portas abrirem eu sair correndo daqui. Pra mim se algo errado assim acontece é sinal de que eu nem devia ter saído de casa. Quando eu voltar pra casa não vou sair mais!

— Será que eu vou morrer aqui? — digo enquanto encaro meus pés — É melhor que morrer pelada ou cagando — pisco um par de vezes e olho para Michael que esta segurando um sorriso

— Meu Deus, você é sem dúvida a melhor pessoa que eu já conheci em toda a minha vida — ele diz enquanto ri. Ele vem até perto de mim — Nós estamos em um momento tenso e você solta as melhores frases! — ele ri mais alto 

— Eu falo muita besteira quando eu estou nervosa e eu estou nervosa desde o momento que eu entrei nesse elevador! Não é todo dia que a gente pega o mesmo elevador que o Michael Jackson! Mas assim, não é porque você é rico e famoso! É porque você é gato pra porra! — enfatizo

— Obrigado, você também é bonita... pra porra! — Michael Jackson falou palavrão!!!! QUE GRACINHAAAAA — Eu to morrendo de fome! — ele desabafa e se encosta. Arregalo os olhos para ele — Me desculpa, eu não queria falar a palavra morte. Sei o quanto você esta assustada! — ele diz com um tom fofo

— Tudo bem — abro um enorme sorriso para ele. O sorriso é tão grande que minha boca ta até doendo. Acho que nunca mostrei os dentes desse jeito, nem meu dentista conhece essa minha habilidade

 O celular dele toca. Ele atende e leva até a orelha. Seu rosto muda de tranquilo para panico. Parece até que ele esta em uma consulta no proctologista e o médico enfiou o dedo no cu dele de surpresa. Aliás, ele tem 43, será que já fez esse exame?

— É claro River, eu também te amo — ele diz baixinho e desliga o telefone. O coloca no bolso e me olha com um olhar preocupado. Se aproxima e me abraça. Em silêncio eu apenas o abraço de volta, River deu um toco nele? Qual é o problema dela? Se ela não quer eu quero! Manda pra mim que eu aparo essas bolas que devem ser lindas!

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto tentando jogar verde pra colher maduro — Esse abraço tem um por que? Se não tiver também não ligo não viu pode continuar abraçando! — fecho meus olhos e encosto minha orelha em seu peito. O coração dele bate tão forte. Se ele esta tentando encontrar consolo em mim, parabéns, conseguiu, ele pode fazer o que quiser comigo!

— Eu estou aqui. Só quero que saiba disso — ele balbucia — Nunca vou te deixar, nunca, okay? — murmuro um "uhum" e o abraço de volta. O que River disse a ele no telefone? Abro a boca para falar com ele, mas, uma enorme barulho me assusta. O abraço com força. Ele me aperta em seus braços e respira fundo como se estivesse tentando afastar as lágrimas 

 O celular de Michael toca novamente. Ele enfia a mão no bolso de sua calça e o tira e atende, o leva até a orelha. Ele mal consegue falar. Ele está tremendo. Enquanto ele segura o celular com a mão direita, a esquerda esta ao meu redor me segurando firme

 Seus olhos estão lacrimejados. Ele abre um sorriso triste para mim como se estivesse tentando dizer que esta tudo bem. Não, não esta tudo bem não. Isso esta errado. Foram dois barulhos enormes. Como explosões! Algo muito grande esta acontecendo

— Papai ama vocês, sempre vai amar! Prince, apenas obedeça à tia Patrice, você como o irmão mais velho deve cuidar deles! Os proteja! — ele diz com sua voz mansa — Papai ama muito vocês meus filhos, nos vemos logo! — ele respira fundo — Tudo bem meu filho, vá brincar! Papai te ama, não esquece! — ele distancia o telefone e o encara. Aperta com força e faz um bico

— Michael, o que esta acontecendo? Me conta! — sussurro para ele que respira fundo novamente. Coloca o celular no bolso e posiciona as duas mãos sobre meu rosto. Suas lagrimas descem por seu rosto

— Tudo vai ficar bem! Não quero que se preocupe com nada, eu estou aqui com você! — abro minha boca para o encher de perguntas, mas, ele me puxa para um beijo. Um beijo lento e carinhoso — Não quero morrer S/N — ele diz em um choro dolorido assim que nossos lábios se separam — Eu tenho três filhos, eu esperei tanto por eles — ele chora desolado — São só crianças — ele coloca as duas mãos sobre o rosto — Eu quero viver pra sempre — ele se distancia e se entrega a um choro alto e desesperado

— Não! Não vamos morrer não! Seja lá o que esta acontecendo, nós vamos superar! — digo firmemente — Vamos sobreviver a seja lá o que for! — ando até perto da porta e aperto novamente o botão de emergência. Aperto várias e várias vezes — Tudo bem! Que seja feita a vontade de Deus! — digo enquanto me agacho e tiro meu sapato. O seguro pela ponta e bato com o solado nos botões

— Meu Deus! — Michael diz assim que o elevador apita e abre suas portas. Ele se levanta e agarra a minha mão. Me puxa pelo saguão. Deus. Fumaça, muita fumaça. Gritos. Sangue. Tem sangue e corpos no chão! Por que tem corpos? — Não olhe para nada além do que esta a nossa frente! CONTINUE CORRENDO! — Michael grita enquanto corremos para a saída do prédio desviando de alguns bombeiros

 Corro lado a lado com Michael. Saímos do prédio. Continuamos correndo. Tem muita fumaça aqui fora. Muitos gritos. As pessoas estão tão desesperadas. Olho para trás pela primeira vez desde que saímos do prédio. A torre onde estávamos foi atingida na parte de cima e a torre sul ao nosso lado foi atingida um pouco mais embaixo. Deus. Por que?

— CONTINUE CORRENDO S/N! NÃO PARE! — Michael berra novamente. Corro o mais rápido que eu consigo. Sinto um nó na garganta. Deus. Paramos ao lado de um carro. Um homem alto abre a porta para nós. Michael me faz entrar primeiro no SUV e logo após entra. Assim que a porta do carro se fecha ele volta a me abraçar. Meu Deus, eu estou viva.