Se Jiang Cheng soubesse que terminaria preso numa caverna com uma besta, teria ao menos resolvido alguns últimos assuntos e escolhido até um herdeiro para caso sua morte viesse a acontecer. Bem, claro que Jiang Cheng não se deixaria morrer por uma situação patética como aquela -senão, não seria o temido Sandu ShengShou-, mas desde que virou lider de seita, percebeu que era melhor prevenir do que remediar.
Estava dando tudo errado para o líder Jiang. Vinha recebendo cartas avisando sobre problemas que a tal besta causava, como desaparecimento dos homens mais fortes de algumas regiões próximas a Yumeng, e como estava estressado -o que não é novidade para ninguém-, resolveu reunir alguns júniores de sua seita para fazer uma caçada noturna, pensando que a besta não valeria muito esforço por causar sumiço apenas a cidadãos que faziam trabalho pesado.
Uma pena que seu palpite estava errado.
Assim que entraram na suposta caverna em que a besta se encontrava, Jiang Cheng se arrependeu amargamente de ter trazido júniores para essa caçada. Obviamente o líder Jiang conseguiria lidar com ela sozinha, mas isso não significa que seria rápido e fácil ou que poderia evitar que os mais novos se machucassem.
A besta era um híbrido de onça e alguma ave, talvez uma águia. Jiang Cheng nunca tinha visto uma besta como aquela, mas o lembrava da Xuanwu de Abate, a besta que parecia uma mistura de tartaruga e cobra que seu irmão -ou talvez ex-irmão, já que nunca consertaram a relação-, Wei Wuxian, derrotou com Lan WangJi. Com essa linha de raciocínio, Jiang Cheng pensou que não seria tão díficil, já que Wei Wuxian e Lan WangJi estavam seriamente feridos e ainda sim conseguiram derrotar a Xuanwu.
Não que seu palpite estivesse incorreto, mas ele não esperava que nos primeiros cinco minutos de luta, uma névoa negra o envolvesse e começasse um grande tremor na caverna. Jiang Cheng percebeu que a caverna iria desabar, mas a névoa negra ainda o envolvia, impedindo-o de ver seus díscipulos e localizar onde estava a saída da caverna. Como eram apenas júniores, gritou para irem embora antes que a caverna desabasse. Jiang Cheng não sabia se seus díscipulos haviam obedecido, pois desde que estava dentro da névoa negra, só conseguia ver e escutar a besta e seus rosnados para si enquanto lutava com a mesma.
Não demorou para a entrada da caverna desabar, e ao mesmo tempo, a névoa que estava envolvendo Jiang Cheng desapareceu. Estranhou a príncipo, mas Jiang Cheng não podia se distrair, precisava derrotar a besta antes. Ergueu Zidian, seu chicote espiritual, e acertou a besta mais vezes do que pôde contar. Defendia as tentativas de ataque com sua espada, Sandu, e quando tinha oportunidade, usava para ferir a fera.
Depois de trocar muitos golpes com a besta e quase sair voando quando cravou Sandu em suas costas e a fera tentou voar, Jiang Cheng finalmente conseguiu derrotá-la. Mas tinha ficado muito tempo tentando encontrar uma oportunidade para ferí-la, então gastou seu poder espiritual. Ou seja, por não ter muito poder espiritual para simplesmente destruir uma parede, Jiang Cheng ainda estava preso na caverna.
Suspirou pela centésima vez naquele dia e se sentou, concentrando energia espiritual para praticar inédia. Sabe-se lá quanto tempo demoraria para conseguir achar uma saída manualmente, já que sua energia espiritual estava concentrada em mantê-lo vivo sem ter que comer. Logo sua mente viajou em memórias do passado, coisa que toda vez que Jiang Cheng estava desocupado, infelizmente, acontecia. Se lembrou dos 3 ou 4 dias que ficou sem comer, beber ou descansar, se esforçando para ficar de pé, correndo e fugindo dos Wens para chegar à sua seita e informar a situação de seu shixiong.
Tal esforço que foi ignorado totalmente por seu pai, que apenas parabenizou Wei Wuxian por "tentar o impossível" e derrotar a Xuanwu de Abate.
Bem, não que Jiang Cheng não estivesse acostumado a não receber reconhecimento de seu pai, mas ainda era frustrante. Apesar disso, seu pai sempre teria um lugar em seu coração.
Enquanto Jiang Cheng se perdia em seus pensamentos, nem imaginava o caos que estava em sua seita.
No Piér Lótus pessoas corriam para lá e para cá, e a notícia do momento causava um infarto em todos os discípulos, cozinheiros, servos ou qualquer outra função que uma pessoa poderia ter na seita YumengJiang.
Seu líder estava morto. Pelo menos, foi isso que tinha sido relatado.
Os júniores tinham chegado da caçada noturna, correndo e chorando dizendo que o líder havia morrido. Que não puderam fazer nada além de evitar suas próprias mortes. Contaram que era até impossível recuperar o corpo de volta, já que como a entrada da caverna havia desabado, não faziam idéia se por dentro também tinha sido destruído, mas se tivesse, o corpo do líder estaria já todo esmagado e irreconhecível.
O que era uma certa ironia para a seita em que o lema era "Tentar o Impossível".
Primeiramente, por mais que o líder fosse rígido, ainda sim ele tinha dado oportunidade à muitas pessoas. Mesmo que vivesse estressado e querendo quebrar as pernas de qualquer um que fizesse algo de errado, seus discípulos o amavam. Jiang Cheng, Jiang Wanyin, Sandu ShengShou era a figura de proteção para todos eles. Quando sua seita caiu, mesmo sendo muito novo, lutou com todas as forças para reerguê-la e proteger as pessoas que dependiam dela.
Muitas pessoas estavam inconsoláveis. Não conseguiam parar de pensar que deveriam ter valorizado o líder um pouco mais antes de sua morte.
O pior de tudo era saber que nem um mísero discípulo era próximo do líder. Não faziam idéia de quem colocar como herdeiro -já que seu único familiar era seu sobrinho, Jin Ling, mas o mesmo já era líder da seita Jin-, e se o falecido aprovaria o escolhido caso estivesse vivo.
O máximo que tinham era seu shixiong -ou, novamente, ex-shixiong-, Wei Wuxian, mas todos sabiam que caso fizessem isso, o líder voltaria dos escombros do inferno para quebrar as pernas de quem tivesse dado essa idéia estúpida.
Assim que lembraram de seus familiares, os discípulos perceberam um pequeno, mas importante, detalhe.
Teriam que anunciar sua morte no mundo do cultivo. Porém o pior seria anunciar sua morte para o sobrinho do líder e para seu ex-shixiong.
No dia seguinte, quando toda a seita já havia sido informada sobre a terrível notícia, os discípulos escreveram duas cartas.
Uma para Jin Ling
Outra para Wei Wuxian.
Foram enviadas assim que terminadas, e os discípulos começaram a se preparar para o que haviam dito pelas cartas.
Wei Wuxian estava feliz.
Certo, talvez não fosse esse o final feliz que imaginava há 16 anos atrás, quando sua ex-seita ainda estava de pé, seu tio Fengmian e Madame Yu estavam vivos, e sua Shijie cozinhava sopa de raiz de lótus com costela de porco.
Sentia saudades. Muita saudades.
Mas acima de tudo, de quem mais sentia falta era Jiang Cheng. Ou melhor, da relação que tinha com Jiang Cheng. Entretanto, sabia que seu shidi -ou ex-shidi- não queria vê-lo nem pintado de ouro. E respeitaria sua decisão.
Talvez tenha sido um grande erro ter escolhido respeitar sua decisão.
Quando uma carta de Yumeng chegou destinada a Wei Wuxian, o mesmo quase infartou de felicidade.
Imaginava que fosse seu irmãozinho pedindo para reatarem.
Imaginava que fosse seu irmãozinho perguntando como estava.
Imaginava que fosse seu irmãozinho contando novidades, problemas da vida, falando sobre Jin Ling.
Mas não imaginava ler o que leu quando abriu a carta.
"Caro Wei Wuxian,
É com muito pesar que informamos, e lamentamos, a morte do líder de YumengJiang, Sandu ShengShou, Jiang Wanyin, Jiang Cheng.
Convidamos encarecidamente para o velório daqui a 5 dias que realizaremos no Salão Principal, antes de colocarmos um lugar no Salão Ancestral da Seita YumengJiang para nosso líder.
Por favor, não informar à nenhuma seita pois o convite para as outras seitas já estão sendo feitos.
Esperamos sua presença,
Seita YumengJiang."
Se a pior dor para Wei Wuxian foi perder seu tio, sua seita, ou sua Shijie, ele realmente não queria saber a que nível de dor poderia chegar ao perder seu shidi.
Seu mundo tinha desabado.
O mesmo sentimento quando viu sua shijie cair na frente de seus olhos.
Não, dessa vez era pior. Não que amasse Jiang Cheng mais do que amava Yanli -os amava na mesma medida- mas ao menos estava com Yanli quando a mesma morreu. Jiang Cheng morreu estando com uma relação no mínimo conturbada com Wei Wuxian.
Jiang Cheng tinha morrido antes que Wei Wuxian pudesse correr atrás dele como Jiang Cheng fazia consigo no passado. Jiang Cheng tinha morrido antes que Wei Wuxian tomasse coragem para pedir desculpas por abandoná-lo.
Jiang Cheng tinha morrido antes que Wei Wuxian pudesse contar que Jin Ling havia o perdoado.
Wei Wuxian ficou pálido, enquanto as lágrimas brotavam nos seus olhos. Seu marido, Lan WangJi -quem tinha lhe entregado a carta- percebeu e se aproximou enquanto apertava Bichen, imaginando que Jiang Cheng tinha dito alguma coisa ruim para seu Wei Ying, e bem, WangJi faria questão de matar quem quer que machucasse seu amor. Mas largou Bichen assim que viu Wei Wuxian caindo para trás, correndo para apoiá-lo e segurá-lo em seus braços.
"Wei Ying..."
"Lan Zhan, é brincadeira, certo? Me diga que isso foi uma brincadeira que você fez."
Lan WangJi não entendeu. Logo seus olhos se direcionaram para a carta, querendo saber o que estava escrito. Mas rapidamente acordou de seu pequeno transe quando sentiu algo molhado em seu peito. Wei Wuxian estava chorando desesperadamente e molhando as vestes brancas e imaculadas de seu marido.
"Lan Zhan, por favor, me diga que isso é uma brincadeira de mal gosto! Lan Zhan, o Jiang Cheng... ele..."
O rosto de Lan WangJi escureceu. Se sentou lentamente enquanto colocava Wei Wuxian em seu colo, esse que apenas enterrou o rosto no pescoço de Lan WangJi. Pegando a carta que seu marido havia deixado cair, WangJi começou a ler o conteúdo.
Lan WangJi nunca foi muito expressivo, mas assim que leu o conteúdo da carta, arregalou tanto os olhos que poderia ser considerado a maior expressão que Lan WangJi tinha feito em todos os seus 35 anos de vida, perdendo apenas para a vez em que riu das piadas de Wei Wuxian no templo Guanyin. Era até irônico como há alguns momentos atrás, Lan WangJi queria matar alguém que, aparentemente, já está morto.
Logo, Wei Wuxian também começou a berrar. As lágrimas lavavam seu rosto e ele soluçava sem parar.
"Lan Zhan a culpa é minha, se eu não tivesse deixado nossa relação de lado... Se eu tivesse procurado uma reconciliação, Lan Zhan! Eu deveria... Eu deveria-"
"Wei Ying, você não fez nada de errado. Você não sabia. Pare de se culpar." WangJi interrompeu seu marido. "Estou aqui com Wei Ying. Tente falar mais baixo, na carta pede para não falarmos nada por enquanto. Além disso..."
WangJi caiu em si. Ele sabia que ultimamente o líder Jiang vinha visitando seu irmão mais velho, Lan XiChen, que se encontrava em reclusão. Ele também sabia que seu irmão só estava melhorando por causa de Jiang Cheng.
Se XiChen recebesse a notícia de que seu mais novo amor estava morto... Lan WangJi não podia prever o que aconteceria. XiChen provavelmente voltaria ao estado inicial, não, ele ficaria ainda pior do que o estado inicial. A tragédia de seu pai se repetiria, então, WangJi preferiu adiar essa notícia o máximo possível.
Era verdade que Lan WangJi odiava Jiang Cheng. Era díficil que os dois convivessem no mesmo ambiente sozinhos sem que tentassem matar um ao outro. Não que fosse admitir, mas nesse momento tudo que WangJi desejou foi que Jiang Cheng estivesse vivo. Porém ele sabia.
Lan WangJi sabia que os mortos não voltavam.
Talvez voltassem, considerando seu marido e o amigo deste, Wen Ning. Mas isso não vinha ao caso.
Pela primeira vez, WangJi se sentia profundamente frustrado por não saber como consolar alguém. Levantou-se com o marido nos braços e o levou para o quarto, faria Wei Wuxian chorar o quanto quisesse em seu peito.
Quando Jin Ling olhou para aquela carta, a primeira coisa que veio em sua mente era que seu Jiujiu estaria reclamando e mandando o Jin não relaxar. Revirou os olhos e bufou em frustração imaginando o que leria naquela carta.
Estava acompanhado de seus dois amigos, Lan Sizhui e Lan JingYi, que o olhavam imaginando o que se passava na mente do Jin.
Lentamente, Jin Ling abriu a carta, vendo que já tinha começado com "Caro Lider da Seita Jin" e pensando no que tinha dado em seu tio para escrever daquele jeito. Todas as suas outras cartas tinham sido "Pirralho" ou apenas "Jin Ling".
O Jin pensou que aquele começo formal era devido ao fato de ter ignorado seu tio há um mês atrás, quando também estava com seus amigos e, no mesmo dia, seu Jiujiu tinha vindo visitá-lo para colocar medo nos anciões da seita e 'orientar' Jin Ling.
Mas assim que Jiang Cheng chegou, viu que seu sobrinho estava acompanhado de seus amigos Lans e seu amigo Ouyang Zizhen, e quase surtou. Jin Ling supostamente deveria estar trabalhando nos problemas da seita, e não se divertindo com dois Lans e um Ouyang.
Claro que Jiang Cheng não admitiria nem com uma faca em seu pescoço que estava feliz de seu sobrinho ter amigos, diferente de si que depois de 16 anos, desde que seu shixiong morreu, finalmente conseguiu uma amizade -amizade esta bem colorida com o Lider Lan, Lan XiChen-, mas dever era dever, principalmente quando a seita estava com grandes problemas desde a morte do último líder, Jin GuangYao.
Então se iniciou uma discussão entre o Jin e o Jiang, que não durou muito pois Jin Ling simplesmente desistiu e se virou indo embora junto com seus amigos. Antes de sair da sala que estavam, deu uma olhada pelo ombro e viu um olhar do seu tio.
Parecia triste. Melancólico.
Mas Jin Ling nunca entendeu este olhar. Até ler a carta que havia acabado de receber.
Aquele olhar era de abandono. Olhar de alguém que acabou de ser deixado para trás. Alguém que foi deixado em segunda opção, de novo.
E era exatamente assim que Jin Ling se sentia depois de ler. Não reparou quando seus amigos se aproximaram de si, percebendo que o mesmo estava derramando lágrimas que lavavam seu rosto, e que estava com o olhar fixado na carta, em seu próprio transe.
Só acordou de seus pensamentos quando ouviu JingYi berrar.
"Jovem Dama Jin!"
"Q-que?"
"A-Ling, você está bem?" Sizhui perguntou limpando as lágrimas do Jin.
Imediatamente Jin Ling lembrou porque estava chorando e desabou. Se jogou em cima de JingYi e de Sizhui e começou a chorar descontroladamente, enquanto berrava e soluçava. Os Lans ficaram parados, tentando entender porque o Jin estava daquele jeito. Seus rostos escureceram pensando que, talvez, Jiang Cheng tivesse dito algo que tenha magoado seu sobrinho, se lembrando do dia em que os dois discutiram.
Sizhui se afastou lentamente de Jin Ling, deixando o Jin chorar no peito de JingYi, enquanto ia pegar a carta.
Quando abriu a carta, seus olhos se arregalaram tanto quanto os de seu pai, Lan WangJi. Não sabia como reagir.
Certo, ele e o Líder Jiang nunca trocaram mais do que uma reverência. Mesmo que Jiang Cheng o direcionasse o olhar de "se você machucar o meu sobrinho, eu quebro as suas pernas", Sizhui nunca falou nada com ele.
Tecnicamente, Jiang Cheng era seu tio também, devido à relação passada entre ele e seu pai, Wei Wuxian, mas nunca teve nada contra ou a favor do mesmo.
Mas mesmo assim ficou triste. Não o suficiente para chorar, mas sentiu um aperto em seu coração. Talvez porque seu tecnicamente primo, amigo ou crush -juntamente de JingYi, mas essa é outra história- estava inconsolável, ou porque imaginou a reação de seu pai, Wei Wuxian, assim que o mesmo soubesse. Mesmo que não tivessem nenhuma relação entre si, Jiang Cheng ainda era importante para Jin Ling e para Wei Wuxian, e os dois eram importantes para Sizhui.
Sizhui desejou de todo seu coração que Jiang Cheng soubesse disso. Esperava que ele tivesse morrido sabendo que deixaria pessoas que o consideravam importante para trás.
Direcionou um olhar para JingYi que dizia "Conversamos mais tarde" e voltou para abraçar o Jin.
"A-Ling, estamos aqui. Está tudo bem, chore o quanto quiser. Só por favor, tente ser silencioso porque está escrito na carta que sua seita ainda vai receber um convite."
JingYi arregalou os olhos pensando que tipo de convite seria aquele para que Jin Ling chorasse tanto.
Jin Ling não ouviu nem metade do que Sizhui disse. Sua mente só pensava que deveria ter valorizado mais o tio. Se arrependeu amargamente de ignorá-lo, de ter gritado com ele ou de qualquer outra coisa que pudesse ter feito mal ao tio. Seus pensamentos rondavam entre arrependimentos e promessas de que nunca mais gritaria, nunca mais reclamaria e nunca mais deixaria seus deveres de lado se Jiang Cheng estivesse com ele. Mas Jin Ling também sabia que os mortos não voltavam.
No terceiro dia após a suposta morte de Jiang Cheng, os discípulos tiravam os pertences do líder de seu quarto, como roupas ou objetos. Não tinham seu cadáver, então colocariam seus pertences no lugar, para representá-lo. Todos os díscipulos tinham olheiras ou olhos inchados, alguns tinham os dois. Olheiras pelo trabalho excessivo, e os olhos inchados sabendo que seu líder nunca mais voltaria.
Talvez Jiang Cheng não soubesse, mas muitas pessoas daquela seita o amavam. Infelizmente, ninguém o amava o suficiente para se aproximar e verbalizar isso.
Começaram a organizar onde seria a cerimônia, e pensaram no que serviriam.
Obviamente, em homenagem ao líder, a melhor escolha seria sopa de raiz de lótus com costela de porco. Também serviriam vinhos da região, mas o foco principal era a sopa. Era de conhecimento geral que Jiang Cheng amava aquela sopa, existiam boatos até de que o mesmo sabia fazê-la. Também era de conhecimento geral que o motivo de amar tanto aquela sopa era o fato de quem cozinhava ela para Jiang Cheng era sua falecida irmã mais velha, Jiang Yanli.
Passou-se o resto do dia com metade dos discípulos começando os preparativos e a outra metade resolvendo questões da seita, e continuariam nesse ritmo até que escolhessem um novo líder.
No quarto dia, começaram a fazer os convites para todas as seitas, desde as grandes até as pequenas.
Como seu líder vinha visitando o Líder Lan nos últimos meses, resolveram enviar o convite à Gusu primeiro. Depois enviaram para as outras seitas.
Vazio.
Era tudo que XiChen conseguia sentir quando a verdade foi revelada.
Lan XiChen foi enganado durante muitos anos. Ele tinha ajudado na morte de um de seus irmãos jurados e foi responsável pela morte do outro, mesmo que este merecesse, XiChen não conseguia aceitar.
Lan XiChen não conseguia verbalizar seus sentimentos. Nem colocá-los para fora.
As lágrimas não saíam. Sua única expressão era de alguém vazio.
XiChen tinha certeza de que morreria lentamente dentro de seu Hanshi. De que, uma hora, seria consumido por esse vazio e de que tiraria a sua própria vida.
Isso até se aproximar dele.
De Jiang Cheng.
XiChen sabia sobre o passado conturbado de Jiang Cheng. Sabia como o líder Jiang tinha sido uma das pessoas mais sofridas que conhecia. Também sabia sobre a relação complicada entre ele e seu cunhado, Wei Wuxian.
Não sabia nem quando ou porque, mas antes que percebesse, Jiang Cheng estava tomando chá consigo. Estavam conversando sobre coisas cotidianas.
Antes que percebesse, XiChen já estava rindo de novo. Antes que percebesse, XiChen conseguia verbalizar seus sentimentos. Antes que percebesse, XiChen já tinha chorado na frente de Jiang Cheng enquanto este o consolava.
Antes que percebesse, XiChen tinha suas mãos na cintura do líder Jiang enquanto suas bocas se beijavam, suas linguas dançavam, e Jiang Cheng colocava os braços em volta de seu pescoço.
Jiang Cheng tinha sido a luz da vida de XiChen. Na verdade, ainda era a luz da vida de XiChen.
Eles possuíam uma espécie de amizade um tanto... colorida.
A verdade é que, por medo de rejeição e certas inseguranças -como achar que não merece felicidade, perdão ou amor-, nenhum dos dois dava o primeiro passo para um relacionamento.
Mas XiChen estava decidido a se declarar para o líder Jiang. Mesmo que fosse recusado, gostaria de manter pelo menos a amizade. Desde que Jiang Cheng estivesse feliz e bem, Lan XiChen também estaria feliz e bem.
O que XiChen não estava planejando era como reagiria se Jiang Cheng não estivesse feliz e bem. Certo, se Jiang Cheng estava feliz com sua suposta morte, XiChen não poderia dizer, mas bem ele não estava.
XiChen não sentia aquele vazio fazia meses. Até receber aquela carta.
A princípio pensou que era mais uma das cartas em que trocava com o Jiang, contando sobre o dia-a-dia, falando sobre o sobrinho de Jiang Cheng, ou sobre as reclamações de gente idiota, segundo o Jiang, que enchiam seu saco.
Mas assim que abriu a carta e leu "Caro Líder Lan" e não seu costumeiro "Caro A-Huan", Lan Xichen sabia que tinha algo errado.
Seus olhos desceram para a linha em que dizia:
"Lamentamos informar a morte de nosso Líder, Sandu ShengShou, Jiang Wanyin, Jiang Cheng."
XiChen congelou.
O mundo à volta de XiChen tinha desaparecido.
Tudo era preto.
Apenas preto.
Um vazio preencheu seu peito
Continuou sua leitura:
"Convidamos a seita Gusu Lan e seu líder para o velório que será realizado daqui a 3 dias, no Salão Principal, antes de ser movido para o Salão Ancestral da seita YumengJiang."
Naquele momento XiChen apenas deixou a carta cair e gritou. Gritou como se tivesse apenas ele ouvindo. Gritou esperando que Jiang Cheng o escutasse e viesse correndo para lhe ajudar. Caiu de joelhos e pôs as mãos no rosto sentindo as lágrimas saindo.
Dessa vez era pior. Não era simplesmente um vazio.
Ao mesmo tempo em que sentia um vazio, sentia um aperto no coração tão grande que podia ter certeza que tinham arrancado mais da metade para fora, senão o coração inteiro.
Mas para preencher a falta de seu coração, a tristeza subia. O buraco que estava se formando em seu peito era lentamente enchido por ressentimentos, mágoas e arrependimentos.
Lan XiChen sabia. Ele sabia que os Lans eram amaldiçoados no amor.
Seu pai e seu irmão mais novo eram o próprio exemplo disso.
E Lan XiChen era a próxima vítima.
Mas esperava, tolamente, que consigo seria diferente.
Ouvindo seus gritos, seu irmão mais novo entrou seguido de seu tio.
Lan WangJi o olhou sabendo exatamente o que estava acontecendo. Pegou a carta do chão e deu a seu tio -que estava com uma dúvida tão grande sobre o que estava acontecendo que até era possível enxergar um ponto de interrogação acima de sua cabeça- antes de se ajoelhar na frente de seu irmão mais velho e abraçá-lo.
"Irmão... Estamos aqui. Respire."
"WangJi... WangJi, é p-por isso... É por isso q-que Jovem Mestre Wei está..."
"Mn. Ficará tudo bem. Pense em mim e no tio. Estamos com você."
XiChen se deixou chorar no peito de seu irmão mais novo. Naquele momento ele entendeu os sentimentos de seu irmão quando o mesmo perdeu Wei Wuxian. XiChen sabia que WangJi estava fazendo o mesmo que Lan XiChen tinha feito por ele.
As lembranças dos beijos, dos abraços, das conversas e das trocas de carta vinham na mente de XiChen. Cada mínimo detalhe estava na sua mente, pensando que talvez deveria ter se declarado antes. Se tivesse sido aceito, estaria tentando de todas as maneiras viver ao lado de seu amor. Poderia ter o protegido se estivesse perto. Mas Lan XiChen sabia que sua sorte não era a mesma de seu irmão mais novo.
Lan XiChen sabia que os mortos não voltavam. Sabia disso como alguém que perdeu o melhor amigo, e quando este voltou, voltou como um cádaver ressentido. Acima de tudo, XiChen desejava muito mais que Jiang Cheng descansasse em paz, e não que voltasse como um cadáver ressentido.
XiChen prometeu a si mesmo que iria naquela cerimônia, se despediria de seu amado e em seguida também tiraria sua própria vida. Mas obviamente deixou apenas em seus pensamentos, se seu irmão e tio soubessem, provavelmente seria trancado para dentro do Hanshi sem permissão de sair. Deixou alto e claro:
"Estou indo para essa cerimônia. Não tentem me impedir."
Lan XiChen sabia, assim como Lan WangJi e Jin Ling, que os mortos não voltavam.
No quinto dia, todo o mundo da cultivação já estava sabendo da morte de Sandu ShengShou. Estava sendo comentado por todos a todo momento -era uma grande perda para o mundo do cultivo, considerando que Jiang Cheng era líder de uma das maiores seitas e era conhecido por seu temperamento e força-, menos quando os discípulos da seita YumengJiang passavam, pois só de olhá-los, já era possível saber o quanto estavam cansados e tristes. Mas, em respeito ao seu líder, não podiam relaxar. Por mais que doesse, fariam uma cerimônia digna, e depois deixariam seus pertences ao lado de seus familiares.
A seita YumengJiang já estava começando a comprar os vinhos que seriam usados, e também chá, sabendo que a seita Gusu Lan não bebia.
E na mesma medida de rapidez que a notícia sobre a morte do líder foi divulgada para o mundo da cultivação, se passou dois dias. Uma semana desde que o líder tinha morrido, e também, o dia do velório e da cerimônia.
Jiang Cheng finalmente conseguiu sair da caverna, sete dias depois de ter ficado preso nela. No terceiro dia, conseguiu achar um buraco que dava acesso a um pequeno rio que tinha por perto, e poderia sair por lá.
O problema era que o buraco era muito pequeno, e como a energia espiritual de Jiang Cheng estava focada em mantê-lo sem alimentos, o líder Jiang teve que cavar o buraco manualmente. O que acabou demorando 4 dias.
Nesse meio tempo, suas vestes se rasgaram. Não foi muito, mas as vestes que cobriam metade do seu peitoral já não existiam mais, revelando suas cicatrizes. Cicatrizes essas que o renderam muitos pensamentos quando parava de cavar para descansar. Lembrou-se imediatamente que deveria estar morto, com sua família e sua seita.
E, há 16 anos atrás, quando viu seu irmão prestes a ser capturado, já sabia que morreria com o resto de sua família. Já que, para seus pais, seu irmão era melhor, com certeza poderia se vingar de sua seita, enquanto gastaria sua vida o salvando. Claro que o verdadeiro motivo de Jiang Cheng para salvar seu irmão foi não aguentar ver outra pessoa importante para si sofrendo, não suportava a idéia de perder mais alguém tão rapidamente, mas não admitiria isso nem se colocassem uma espada em seu pescoço.
Quando Wen Chao lhe torturou e queimou seu núcleo, Jiang Cheng já havia aceitado que sua morte era iminente. Por isso, quase surtou quando percebeu que estava vivo.
Porque estava vivo sem um núcleo.
Sem um núcleo, não poderia vingar seus pais e e reerguer sua seita.
Sem vingança, não tinha um propósito para viver. Nunca se tornaria um líder se não tivesse um núcleo
Depois recebeu um núcleo novo. Mas se naquela época soubesse que seu núcleo novo seria de Wei Wuxian, teria cometido suicídio antes que Wei Wuxian pudesse convencê-lo a ir atrás da suposta 'Baoshan Sanren'.
Chegava a ser irônico como uma pessoa tagarela como Wei Wuxian precisou de alguém para dizer a verdade sobre seu núcleo.
Mas ao menos Wei Wuxian tinha alguém.
Jiang Cheng não tinha ninguém.
Ninguém sabia a verdade sobre a perda do seu núcleo.
Ninguém era próximo o suficiente para Jiang Cheng ter contado.
Ninguém se importava consigo. Se alguém se importava, era em segunda opção, como sempre foi deixado.
Até mesmo Jin Ling tinha outras pessoas que considerava mais importante, mesmo que Jiang Cheng tenha o criado desde que o sobrinho era apenas um bebê.
Quando começou uma amizade com Lan XiChen, Jiang Cheng não esperava que fosse começar a ter sentimentos românticos pelo mesmo.
Mas também não esperava ser correspondido.
Ou meio correspondido, já que não fizeram nada além de trocar beijos e abraços.
A insegurança de Jiang Cheng o fazia pensar que XiChen o considerava nada mais e nada menos que apenas um passatempo. Alguém pra esquecer a dor.
Jiang Cheng tinha certeza de que se morresse, todos fariam uma cerimônia.
Mas uma cerimônia para comemorar, não para prestar respeito.
Quando finalmente conseguiu sair para fora da caverna, Jiang Cheng pensou seriamente em definir um herdeiro e se matar. Precisava de alguém para comandar a seita e, antes disso, queria garantir os direitos do sobrinho. Por mais que doesse o fato de Jin Ling provavelmente não gostar de si, ainda sim o amava e precisava ter certeza de que aqueles velhos não incomodariam seu precioso A-Ling enquanto estivesse morto, senão, sairia dos escombros do inferno para atormentá-los.
Lavou o rosto com a água do rio por onde conseguiu sair. Finalmente conseguia ver a luz do sol e beber um pouco de água.
Enquanto voltava à sua seita -à pé porque não tinha poder espiritual o suficiente para voar em sua espada-, Jiang Cheng tentou não pensar muito sobre o motivo de seus discípulos não terem vindo lhe procurar.
Ele avisou à todos para onde estava indo. Inclusive levou júniores consigo, e ao sair da caverna, era possível perceber que eles claramente tinham conseguido fugir à tempo.
Mesmo que eles lhe odiassem, Jiang Cheng sabia que precisavam de si para resolver problemas da seita e escolher um herdeiro. Por mais que sua personalidade não fosse agradável, ele sabia que era útil e que trabalhava feito louco. Seus discípulos enlouqueceriam sem um líder para responder todas as cartas de gente pedindo ajuda, pessoas tentando arranjar um casamento ou velhos enchendo o saco com algum problema que nem existia mas passou a existir porque eles queriam que existisse.
Interrompeu seus pensamentos ao ver o portão do Piér Lótus. Suspirando aliviado porque finalmente poderia descansar.
Mas seu suspiro logo se tornou um bufo de frustração percebendo que não tinha nenhum discípulo guardando o portão.
Acariciou seu anel tentando se controlar. Como eles poderiam deixar o portão assim sem mais nem menos? Se forem descansar, que ao menos chamassem alguém para substituir. Quebraria as pernas dos díscipulos irresponsáveis que tinham abandonado o posto.
Entrou pelo portão e enquanto ia em direção aos corredores, percebeu que não tinha ninguém por perto. Parecia mais que estava em Gusu Lan do que em sua própria seita. Estranhou o silêncio, mas tentou ignorar indo ao seu quarto para colocar vestes novas.
O que Jiang Cheng não esperava era que não encontrasse absolutamente NADA em seu quarto. Apenas sua cama e sua mesa. Suas roupas, fitas de cabelo, pentes, ou qualquer coisa que lhe pertencesse, não estavam lá. Jiang Cheng quebraria as pernas de quem quer que tenha lhe roubado. Mas também quebraria as pernas de seus discípulos. Só porque o líder estava desaparecido há uma semana, não significava que era para sua seita fraquejar e deixar algum ladrão entrar e roubar suas coisas.
Então, saiu de seu quarto e resolveu ir ao campo de treinamento, à procura de qualquer discípulo. Mas o caminho todo foi silencioso, e isso era completamente estranho considerando que sua seita era para ser uma das mais barulhentas.
Chegando no campo de treinamento, Jiang Cheng percebeu que não tinha nem uma alma viva treinando. Mais uma vez, Jiang Cheng acariciou seu anel querendo quebrar as pernas de toda a sua seita. Não se pode desaparecer por uma semana que seus discípulos já esquecem seus deveres. Talvez ex-discípulos, pois Jiang Cheng já estava teorizando que todos desistiram de sua seita, e com essa teoria, suspirou e levou a mão ao rosto imaginando o quão díficil seria conseguir discípulos novos.
Tentando esquecer os pensamentos, Jiang Cheng acariciou ainda mais seu anel que já soltava faíscas, enquanto apertava Sandu firmemente. Se visse qualquer discípulo na sua frente, Zidian iria estralar.
Saiu do campo de treinamento e foi ao salão principal. Mas as portas estavam fechadas, o que era estranho, já que as portas eram fechadas apenas quando estavam em reuniões. Também era possível escutar murmúrios e alguns sons... soluços?
Imediatamente Jiang Cheng pensou na possibilidade de seus discípulos estarem fazendo uma festa -talvez uma festa um tanto silenciosa demais- e reunindo o resto de sua energia espiritual arrombou as portas com Zidian e invadiu o salão aos berros:
"EU SAIO POR UMA SEMANA E QUANDO VOLTO NÃO TEM NINGUÉM GUARDANDO O PORTÃO, NINGUÉM TREINANDO, ROUBARAM MEUS PERTENCES E VOCÊS ESTÃO FAZENDO FESTA? FORAM ESSES OS DISCÍPULOS QUE TREINEI??"
Todo o mundo do cultivo estava reunido ali, e todos se viraram na direção de Jiang Cheng, este que ficou mais confuso do que nunca ao ver que todas as seitas estavam ali. Tinha certeza de que a próxima conferência de cultivo seria daqui a um mês, organizada pela seita Qinghe Nie, no Reino Impuro.
Lembrando que suas vestes estavam sujas, seu cabelo um tanto bagunçado e que estava com as cicatrizes aparecendo, Jiang Cheng corou furiosamente e seu anel voltou a soltar faíscas. Um silêncio estava estabilizado pela sala, até alguém quebrar:
"Jiu...jiu?"
Jiang Cheng olhou para o dono da voz. Seu sobrinho tinha os olhos inchados e estava com olheiras enormes. Jiang Cheng piscou duas, três, quatro vezes até se conformar de que estava olhando seu sobrinho e não a si mesmo em um espelho.
Continuou com o olhar seguindo o resto da sala, percebendo várias pessoas familiares: Nie Huaisang, Lan Qiren, Lan WangJi, os amigos de seu sobrinho, Líder de seita Yao, Wei Wuxian, Wen Ning, Lan XiChen... Espere, por que esses três últimos estavam aqui sendo que o primeiro só era bem vindo se fosse para fazer reverência no Salão dos Ancestrais, o segundo não era bem vindo nem se deixasse de ser um cadáver, e o último citado não se encontrava em reclusão?
"Wei Wuxian... O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI??"
Wei Wuxian estava em seu próprio transe tentando entender como Jiang Cheng estava gritando com todo o mundo do cultivo sendo que ele estava morto. Talvez estivesse alucinando?
Suas dúvidas foram respondidas ao olhar para o lado e perceber que Wen Ning tinha saído voando porque recebeu uma chicotada de Zidian. Parece que quando Jiang Cheng está com raiva, consegue reunir energia espiritual, considerando que era para ter gastado todo o restante que tinha economizado na caverna apenas arrombando as portas do salão.
"O QUE ELE ESTÁ FAZENDO AQUI?" Jiang Cheng gritou irritado apontando para Wen Ning "ALÉM DE VIR AQUI E TRAZER UMA CARALHADA DE GENTE SEM NEM EU SABER, VOCÊ TRAZ ELE?"
Talvez Wei Wuxian não tenha sido o único que acordou de seu próprio transe percebendo que aquele Jiang Cheng era real, já que logo em seguida uma figura branca se levantou, e antes que Jiang Cheng pudesse processar quem era essa figura branca, teve seus lábios tomados enquanto braços fortes envolviam sua cintura.
Jiang Cheng estava pasmo. Eles não tinham nem se declarado um pro outro, e de uma hora pra outra Zewu-Jun estava lhe beijando na frente de todo o mundo do cultivo. Mesmo sem entender nada, corou furiosamente enquanto correspondia ao beijo.
Em ocasiões normais, Wei Wuxian já teria gritado com Jiang Cheng por ter acertado Wen Ning, mas nesse momento ele não sabia se ficava em choque por Jiang Cheng estar vivo ou por Jiang Cheng estar beijando Zewu-Jun, o primeiro lugar no mundo do cultivo em questão de beleza e força, e também, o irmão mais velho de seu marido.
Quando os lábios se separaram, Jiang Cheng apenas murmurou "M-mas que porr-" antes de sentir mais dois pesos se jogando em cima de si.
Enquanto Zewu-Jun estava à sua frente, com mãos na sua cintura, Jin Ling e Wei Wuxian tinham se jogado atrás de si, o que foi um tipo de gatilho para todos os discípulos da seita YumengJiang para que fizessem o mesmo.
Sem entender nada, Jiang Cheng foi abraçado por um grande número de discípulos, incluindo os amigos de seu sobrinho -que provavelmente queriam abraçar mais a Jin Ling do que a si-, enquanto seu 'ex-irmão' e seu sobrinho estavam chorando no seu ombro, e Zewu-Jun tomava seus lábios em pequenos selinhos de vez em quando.
"Argh, já chega, me soltem ou eu vou quebrar as pernas de todo mundo aqui! Querem me explicar o que caralhos é esse grude repentino?"
Aos poucos os discípulos foram se afastando, entretanto seus parentes e Zewu-Jun não queriam largá-lo pensando que se o deixassem ir dessa vez, na próxima ele não estaria de pé, vivo e gritando enquanto surgiam faíscas em seu anel.
"Qual a parte do ME SOLTEM vocês ainda não entenderam?? Cubo de gelo, venha tirar seu marido grudento de mim, aproveite e leve seu irmão também!! Jin Ling olha o que você está fazendo na frente de tantas seitas, quer envergonhar sua seita por acaso??"
"Ayaa Jiang Cheng, deixe de ser mau! Você não tem moral para falar de se envergonhar quando está vestido, sujo e bagunçado dessa maneira!" Gritou Wei Wuxian.
"O QUE VOCÊ QUERIA? EU FIQUEI PRESO POR UMA SEMANA DENTRO DE UMA CAVERNA E QUANDO EU VOLTO, MINHAS COISAS SOMEM!! NÃO TEM COMO EU ME ARRUMAR SE MINHAS VESTES FORAM ROUBADAS!!" Jiang Cheng rebateu ficando vermelho.
"Líder de seita" um de seus discípulos reverenciou enquanto tinha uma muda de roupas em suas mãos "Suas vestes não foram roubadas. Pensávamos que estava morto, e como não tínhamos o cadáver, resolvemos usar seus pertences no lugar."
Jiang Cheng arregalou os olhos e franziu as sobrancelhas. Como poderiam achar que ele estava morto sem nem terem procurado por seu estado na caverna? Só porque desapareceu por uma semana, não significava que estava morto.
"Por que caralhos vocês acharam que eu estava morto? Por que ninguém foi me procurar? Todos na seita sabiam o local da caçada noturna. Cadê os júniores que eu levei?"
"Líder, os júniores relataram que viram você morrer. Disseram que provavelmente, a caverna onde estava lutando tinha desabado e que seu corpo estaria esmagado e irreconhecível."
"Mas nem por mil caralhos, vocês realmente acham que eu iria morrer por causa de desabamento? Isso não seria subestimar seu líder? E a única coisa que desabou foi a entrada, a caverna por dentro continuou em pé."
Jiang Cheng fuzilou seus discípulos com o olhar, procurando os júniores daquele dia. Quando achou, se tivesse mais alguma energia espiritual, já teria estralado Zidian no chão ao ver seus juniores se encolhendo com medo. Se aproximou com sua típica carranca e perguntou:
"Por que caralhos disseram que eu estava morto?"
"L-Líder de seita" reverenciou um dos juniores. "Você foi ferido gravemente pela besta e gritou que era para fugirmos e que o s-senhor não aguentaria. Nós achávamos que estava morto pela gravidade do ferimento."
Que? Jiang Cheng não tinha sido gravemente feriado, na verdade, sequer havia sido golpeado pela besta. A única coisa que realmente tinha dito, era para fugirem, mas era porque achou que a caverna iria desabar, não porque estava morrendo e não iria aguentar segurar a besta.
Então se lembrou da névoa que o envolvia. E de como ela desapareceu depois que seus discípulos foram embora.
Interligou os pontos lembrando tudo que sabia sobre a besta.
"Eu não fui ferido. A única coisa que eu disse para vocês, foi para fugirem. O resto que vocês viram foi uma ilusão. Eu fui envolvido por uma névoa negra e não conseguia vê-los ou escutá-los, mas senti os tremores na caverna e achei que ela iria desabar, então gritei para saírem enquanto tivessem tempo, porque vocês são apenas júniores e eu não poderia garantir o bem estar de vocês sem conseguir vê-los. Depois que vocês saíram, a névoa sumiu. A besta preza por qualidade e não por quantidade, por isso apenas os homens fortes das vilas sumiam. A besta, provavelmente, cria um tipo de ilusão para as pessoas que estão perto de sua presa principal fazendo com que se afastem e não atrapalhem na sua caça. Enquanto para a presa tudo é uma névoa negra, para os outros é uma imagem da pessoa morrendo e as mandando fugir. Eu nem sequer fui ferido, só demorei para sair da caverna porque gastei muita energia espiritual, e o resto que eu tinha, usei para praticar inédia e cavar uma saída manualmente. Consegui sair só hoje."
Todo o mundo do cultivo arregalou os olhos, inclusive o tão inexpressivo Hanguang-Jun. Jiang Cheng percebeu a proporção que essa situação havia tomado e perguntou:
"Espere... isso era uma comemoração pela minha morte?"
Seu coração apertou, mas Jiang Cheng não se deixou demonstrar, não queria passar mais vergonha do que estava passando estando com metade das vestes que cobriam seu peito rasgadas e com o cabelo bagunçado.
"Pelo céus, Jiang Cheng, NÃO! Isso aqui era seu velório! Por que alguém iria comemorar sua morte, Jiang Cheng? Já deu uma boa olhada em como estamos?" Wei Wuxian gritou.
Então Jiang Cheng percebeu que todos seus discípulos, seu sobrinho, seu irmão e seu amado Zewu-Jun tinham olheiras enormes e os olhos inchados. Realmente, parecia que não dormiam e apenas choravam há dias. Jiang Cheng arregalou os olhos com a ideia de terem chorado pela sua morte.
Tentou afastar esses pensamentos que esquentavam seu coração, por medo de estar enganado e se decepcionar de novo, mas não pôde evitar sua pergunta:
"... Vocês estavam chorando porque..."
"JIUJIU, NÓS ESTÁVAMOS CHORANDO PORQUE PENSÁVAMOS QUE TINHA MORRIDO E A IDÉIA DE PERDER VOCÊ É MUITO... muito... insuportável, Jiujiu... não me abandone, só tenho você..." Seu sobrinho falou.
"Ayaa Jin Ling, você tem a mim também! Não esqueci que me chamou de Tio Wei!"
"Cala a boca, W-Wei Wuxian." Jin Ling rebateu
"Esse pirralho está certo, A-Cheng. A ideia de perder você também... é muito insuportável. Não me deixe também." Wei Wuxian concordou.
Jiang Cheng se segurou muito para não berrar 'não te deixar como você me deixou também?' mas resolveu guardar para si porque sabia que só iria estragar tudo. Mas ao invés de sentir raiva com isso, se sentiu feliz. Depois que sua mãe -mesmo sendo uma mãe fria que o cobrava muito, foi ela quem lhe ensinou a não se deixar vencer, a se reerguer e a ser forte, e também foi a primeira a lhe amar de verdade- e sua irmã tinham morrido, Jiang Cheng achava que tinha perdido as únicas pessoas que o amavam. Um calor familiar aqueceu seu coração sabendo que tinha pessoas que se importavam consigo, e que ficariam em luto caso os deixasse para trás. Jiang Cheng os abraçou enquanto sentia as lágrimas se formarem em seus olhos.
"C-certo. Desculpem por assustá-los. Não irei embora, então me aguentem mais um pouco."
Jiang Cheng foi abraçado de volta como nunca. Jin Ling apertava suas vestes como apertava quando era apenas uma criança e tinha medo de trovões. Wei Wuxian o abraçou como aquela vez em que se reencontraram depois de desaparecer por 3 meses. Seu sobrinho e seu irmão o abraçaram como se, caso soltassem, Jiang Cheng cairia no chão, morto.
Quando finalmente o soltaram, XiChen puxou Jiang Cheng para si e atacou seus lábios novamente. Wei Wuxian não sabia se elogiava seu irmão por conseguir alguém na vida para casar ou por suas habilidades de camaleão em conseguir mudar para vários tons de vermelho.
Jiang Cheng não conseguia processar nada. Sua mente estava explodindo tanto que era possível ver fumaça saindo por suas orelhas, e quando sua boca finalmente se separou da de XiChen, foi abraçado fortemente.
"A-Cheng, eu te amo. Eu quero passar o resto dos meus dias ao seu lado. Então, por favor, não me deixe. Não sei se irei aguentar receber outra carta dizendo que você está morto."
Se Jiang Cheng estava chorando antes, agora ele estava desabando. Ele enterrou o rosto no pescoço de XiChen e se permitiu chorar enquanto Zewu-Jun lhe abraçava ainda mais forte.
Naquele exato momento Lan Qiren adquiriu habilidades de camaleão e mudou de branco para verde, de verde para roxo e de roxo para vermelho, mas todos estavam mais ocupados olhando as demonstrações de afeto do mais novo casal, então ninguém reparou no fato de Lan Qiren quase ter tido um desvio de QI.
Exceto Nie Huaisang, que escondeu o riso atrás do leque e voltou-se à cena de amor que estava à sua frente, fingindo uma expressão de chocado como se não soubesse que já estavam trocando beijos e abraços há um bom tempo.
Wei Wuxian se afastou de Jiang Cheng e foi olhar como estava Wen Ning, que até então havia sido esquecido, e percebeu que ele estava bem -com a cara e as vestes um pouco amassadas, mas bem-, e correu até seu marido.
Se Lan WangJi já tinha os olhos arregalados, agora eles estavam para fora, surpreso com tamanha coragem do irmão de se declarar para alguém como Jiang Wanyin na frente de todo o mundo do cultivo tendo chances de levar um fora e um Zidian na cara. Bem, agradeceu mentalmente aos céus por isso não ter acontecido.
Jiang Cheng percebeu que estava sendo olhado por todo o mundo do cultivo e logo recuou, limpando as lágrimas e acariciando seu anel para não surtar assim que percebeu que tinha chorado e sido beijado enquanto era observado. Para disfarçar o quanto estava envergonhado, voltou à sua carranca habitual e agarrou as vestes das mãos do discípulo que estava até agora as segurando e sendo ignorado pelo líder, e voltou-se para seu quarto, tentando não pensar muito em como resolveria suas relações com seu irmão, como apagaria esse dia do seu histórico de 'temido sem sentimentos' do mundo do cultivo, como seguiria com essa cerimônia sendo que era um velório e o morto estava vivo, como seria suas demonstrações de afeto com o sobrinho e, acima de tudo, como seria sua vida ao lado de seu mais novo amor, Lan XiChen.
Até porque sua mente estava mais ocupada pensando que, pela primeira vez, depois da morte de sua mãe e seus irmãos, Jiang Cheng se sentiu amado.**
Oi, quem tá publicando é a Anne Sheisprettycute em nome da PamonhaAlada não hesitem em deixar bons comentários para ela.
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A Suposta Morte de Jiang Cheng
Fanfiction[MDZS FANFIC] [Pamonha Alada] Jiang Cheng pensava que não era amado. Pensava que as pessoas com quem se importava lhe odiavam. Até que Jiang Cheng vai para uma caçada noturna, e devido alguns imprevistos, acaba preso em uma caverna por 7 dias, sem...