Sherlock Holmes fechou os olhos depois que a claridade do ambiente diminuiu deixando evidente que a maca já era deslizada dentro das dependências do hospital. Quando o movimento parou, ele ouviu o som de passos se aquietando aos poucos até que o clique emitido pela fechadura da porta mostrou para ele que havia sido trancado dentro do necrotério.
O homem esperava estar sozinho, mas o ruído suave da borracha do solado de um sapato contra o piso, indicou que ele estava errado. Aquilo, no entanto, de forma algum era ruim. Sherlock sabia a quem pertencia aquele caminhar suave e ao mesmo tempo decidido e ficou feliz por Molly Hooper estar ali.
— Sherlock, você não pode ficar aqui — informou a mulher com urgência. — Acho que o John foi embora, mas se ele voltar e quiser entrar, não pode te encontrar.
O homem virou de lado na maca ainda dobrada e colocou os pés no chão mantendo a cabeça entre os joelhos.
— Troca de roupa — Molly parou na frente do amigo com uma sacola onde estava uma calça larga de moletom cinza, um casaco preto com capuz e um par de tênis. — Depois eu levo suas roupas comigo, o simulacro que eu encontrei já está vestido.
Lentamente Sherlock levantou a cabeça e olhou para ela. Sua crença de que o sentimento era um defeito químico encontrado no lado perdedor, estava desmoronando. Estava tudo dando certo, ele estava vencendo, mas não se sentia daquela forma. O olhar confuso dele fez com que a mulher sentisse como se houvesse uma mão invisível comprimindo seu coração.
— Você não pode sair assim — ela deixou a sacola no chão, se afastou e quando voltou segurava um punhado de gaze embebido em água. — Olha para mim — pediu Molly sentando do lado do amigo e segurando com carinho o rosto dele para limpar o sangue.
A mulher permaneceu em silêncio enquanto agia, pois já tinha percebido que Sherlock estava bem pior do que imaginou que ficaria quando pediu a ajuda dela para executar o plano. Molly tinha pensado em avisar que mesmo com boas intenções, simular a própria morte seria perturbador tanto para ele quanto para os outros, mas teve dúvidas se Sherlock acreditaria naquilo. Ele sempre havia sido muito seguro de sua capacidade de controlar as próprias emoções.
— Pronto, — declarou ela satisfeita. — O que está no seu cabelo, você pode tirar com um banho — instruiu Molly.
Ainda sem dizer uma só palavra, Sherlock seguiu para o vestiário. Quando voltou de lá, estava totalmente descaracterizado e quase irreconhecível. O sobretudo fazia uma grande diferença na aparência dele e Molly observou quão mais vulnerável ele aparentava estar sem a proteção da gola do casaco levantada.
— Se quiser eu vou com você — ofereceu ela enquanto recebia as roupas sujas das mãos do amigo.
Para sair sem chamar atenção, quanto menos coisa ele carregasse, melhor.
O homem negou balançando a cabeça, esse não era o plano e Sherlock queria continuar como haviam combinado. Era fundamental para que tudo desse certo até o fim.
— São cópias, não precisa me devolver — Molly pegou um molho de chaves do bolso do jaleco. — Te encontro lá mais tarde.
Sherlock tentou sorrir, mas falhou. Ele cobriu a cabeça com o capuz do casaco escondendo parcialmente o rosto e saiu andando do necrotério deixando Molly sozinha e muito preocupada.
A patologista continuou fiel ao planejado e terminou de arrumar o simulacro para que pudesse ser enterrado o quanto antes. Prolongar o tempo de exposição do cadáver falso colocava em risco o segredo, que ela já sabia que teria que guardar enquanto Sherlock desmantelava toda a rede de Moriarty, para só então revelar a verdade. Isso se tudo desse certo. Os dois estavam conscientes que aquela era uma missão potencialmente letal.
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Você sempre me vê
FanfictionDepois de encenar sua morte pulando do telhado do Barts, Sherlock Holmes precisa desaparecer. No entanto, o fator humano foge à lógica com a qual o detetive está acostumado a lidar se tornando um detalhe complexo para ele, pois tem potencial para co...