Capítulo 1 - Perdida

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Um tempo. Eu estou tirando um tempo das minhas — não muitas — responsabilidades, para tentar reorganizar meus pensamentos e, principalmente, meus sentimentos. Durante os últimos dias, venho me sentindo completamente deslocada, tudo ao meu redor desmorona e eu não tenho a menor ideia de o que fazer para melhorar a situação.

Eu perdi a pessoa mais importante da minha vida, minha mãe Luíza Antonelli, que foi injustamente assassinada e mesmo após uma semana ainda não há nenhuma pista de quem é o culpado por tirar sua vida. Perdi a vaga do emprego de meio turno que eu queria há tempos, e tinha finalmente conseguido havia um mês. Perdi a vontade, o brilho que me cercava. Lavínia Antonelli não é a mesma pessoa que era antes. Agora, tudo o que quero é manter minha mente ocupada a todo instante.

Olho novamente para o relógio em meu pulso e percebo que já se passaram 30 minutos que estou correndo pela cidade, as músicas da minha playlist alternaram de estilo diversas vezes. Sinto-me cansada fisicamente. Meu corpo todo dói pelo constante esforço, e gotas de suor escorrem por meu rosto. Eu não era muito fã de exercícios físicos, e como comecei "de repente" a correr diariamente torna tudo ainda mais difícil.

Correr foi uma das maneiras que escolhi para manter minha mente — e corpo — em constante ocupação, é um dos poucos momentos em que eu quase me sinto bem. Não me permito prolongar pensamentos, apenas presto atenção às pessoas ao meu redor, os carros e motos que passam com rapidez, como se todos estivessem com pressa, as pessoas que caminham normalmente com seus cachorros de estimação, as crianças apostando corrida de bicicleta, as outras pessoas correndo — as quais, ao contrário das minhas razões, correm para manter uma vida saudável ou quem sabe perder alguns quilos. Prestar atenção nas pessoas ao meu redor parece uma boa forma de evitar pensar no quão ruim a minha vida está. É um hábito que adquiri e estou praticando quase todos os dias.

Imaginando que não aguentaria correr por muito mais tempo, tomo novamente a direção para minha casa. Não demorou muito para que eu chegasse.

— Onde você estava? — Pergunta Larissa, minha irmã, quando cruzo a porta da cozinha. Ela estava em frente ao micro-ondas preparando macarrão instantâneo para comer.

— Correndo. — É tudo que digo em resposta, com minha respiração um pouco ofegante. E ela, como sempre, não tenta manter uma conversa. Apenas bebo um copo de água e me dirijo ao banheiro para tomar um banho gelado.

Minha relação com minha irmã não é das melhores, ela tem 23 anos de idade, sendo assim 6 anos mais velha que eu. Havia saído de casa quando completou 18 anos e voltou depois que nossa mãe faleceu para tomar conta da casa e de mim. Não conversamos muito, mal nos encontramos durante o dia por conta de nossos horários livres não serem os mesmos, nem forçamos esse vínculo fraterno. Então o que fazemos é apenas aturar a presença uma da outra quando necessário. Não chegamos a brigar ou algo assim, apenas não fazemos questão de nos tornar próximas, isso é algo que eu venho fazendo há um tempo, e possivelmente herdamos essa característica de nossa mãe, que sempre foi meio individualista. Acredito que eu fui uma das únicas pessoas a romper essa barreira com minha mãe, que sempre fez questão de demonstrar o quanto me amava e gostava dos momentos que passou comigo.

⋆・●✺●・⋆

Um dia se passou, hoje é segunda-feira e decidi ir para a escola — infelizmente ter que aturar todas as perguntas e olhares de pena — após faltar por uma semana.

Termino de me arrumar, tomo um café da manhã simples e vou caminhando até o ponto de ônibus.

— Não acredito, que bom que voltou Lavy! — Exclamou minha melhor amiga, Camila, ao me ver. Seus olhos verdes sutilmente me investigam para tentar saber como estou sem precisar perguntar. Seus cabelos pretos ondulados balançam com a suave brisa da manhã, um sorriso prevalece em seu rosto e meu coração se aquece por encontrá-la novamente. Nos abraçamos por alguns segundos. Moramos perto uma da outra e então pegamos o ônibus no mesmo lugar.

— Oi. Decidi voltar à rotina. — Dou um leve sorriso ao responder.

— Como vai sua relação com a Larissa? — Questiona ela, com curiosidade.

— Ah, você sabe... Nada muito forçado, apenas convivemos. — Digo em resposta.

Conheci Camila na pré-escola quando tínhamos 5 anos, e desde então nos tornamos inseparáveis. Eu a amo, pois sempre esteve ao meu lado, quando eu mais precisava. E claro, ela sabe respeitar meu luto sem ficar muito em cima, e sem fazer perguntas como "você está bem?" sendo que a mesma já sabe qual a resposta. Compartilhamos tudo uma com a outra, segredos, lembranças, momentos, entre outras coisas.

— Alguma novidade na escola enquanto eu estive ausente? — Indago para puxar assunto.

— Nossa, muita! Nem parece que foi só uma semana. Começando: entraram 2 alunos novos na nossa turma, um menino e uma menina, acho que são da mesma família, não sei ao certo. Chegaram 800 novos livros na biblioteca da escola. Nossa turma está planejando um piquenique perto daquele rio na entrada da cidade. A professora de língua portuguesa e a de artes estão planejando um show de talentos na escola para ainda este mês, já estou ansiosa para ouvir você cantar! — Ela sorri e reviro os olhos para sua fala. Apenas cantei uma vez, e só para ela. Obviamente não conseguiria fazer isso em público.

— Mais alguma coisa? — Questiono para não estender o assunto sobre o canto.

— Sim. O Vinícius e a Mariana estão namorando. — Levanto as sobrancelhas em sinal descrença. Eles se odeiam mais do que tudo. Ou aparentemente, apenas pareciam se odiar. — Eu sei, também não acreditei quando ela disse. — Camila complementa e sorri.

O ônibus chega e entramos, para finalmente ir em direção à escola. Duas paradas depois da nossa, entram mais algumas pessoas. Entre elas, um garoto me chama a atenção.

Ele é alto, têm cabelos pretos e pele morena, assim como Camila. Mas ao contrário dela, seus olhos são de um castanho escuro, que quase se assemelha ao preto. Seu olhar vai de encontro ao meu por alguns breves segundos, e ele se senta a alguns bancos de distância. Eu não o reconheci. Minha melhor amiga, que está sentada ao meu lado notou meu olhar e comenta:

— Esse aí é o garoto novo. — Interessante, então ele irá estudar conosco. Não nego que chamou minha atenção, mas não sei exatamente por qual motivo, talvez pelo olhar intenso, ou simplesmente porque sua presença é marcante. O fato é que irei conhecê-lo melhor em breve.

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Capítulo escrito por rafaela_rbr

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⏰ Última atualização: Oct 02, 2021 ⏰

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