DURANTE

1.8K 118 182
                                    

"Parem..."

Os pés estavam ensanguentados e tremiam conforme cambaleava.

Sob sua perspectiva, era como se o céu estivesse tingido de carmesim. Opacas nuvens escurecidas destoavam entre o cetrino, como se formasse uma densidade impalpável.

A visão turva... seria pela poeira que a engolia?

"Parem..."

E repetia, mesmo que talvez nem mesmo a estivessem ouvindo.

Ela estava cansada. Os braços pareciam terem sido arrancados de seu corpo, após usá-los com tanta frequência e em tantas coisas, como se a princípio nunca a pertencessem.

A morte tampouco parecia estar distante. Era como uma sombra que se instalava silenciosamente, não se importando em como afligia. Uma aura sinistra de destruição assolava, assombrava, consumia a luz que batia vagarosamente sobre os pedregulhos dos rochedos nas colinas acima.

Com uma arfada ruidosa, ela tropeçou em um maldito tronco. Nunca pensara que, mesmo neste estágio de sua vida, sentiria falta de óculos. Algumas memórias de quando era criança inundaram sua mente. Ela achava que precisaria usar lentes por toda sua vida. De fato, era inesperado que suas habilidades superassem as prévias expectativas.

Habilidades... quis rir.

E continuou. Avançando. E avançando.

Um passo doloroso após o outro, a visão queimava sobre suas órbitas. Ao arrastar-se, levantou a palma da mão esquerda para limpar o líquido que fluía de seus olhos.

Estou chorando?

Aproximou o membro para ver melhor. Como se o ato de praticamente enfiar sua mão para dentro do olho, na tentativa de ver algo, fosse o suficiente. Ela sequer podia distinguir o branco do preto.

Ah...

Suspirou, e tossiu fracamente. Esfregando a palma uma na outra, percebeu pela viscosidade que aquilo que saíra de seu globo ocular não eram lágrimas.

Mamãe não me perdoaria se me visse assim.

O sangue que saía era de um vermelho vivo, intenso. Um resquício de uma magenta, acumulado sob a parte superior de suas pálpebras e o canto lacrimal, mostrava que a garota já vinha consumindo e abusando daqueles olhos há um bom tempo.

Levantou a cabeça ligeiramente e sentiu o frescor da natureza anunciando uma mudança climática.

Então que venha, pensou alto, um banho que limpe toda a sujeira, a imundície, a podridão, a guerra...

Ela acabaria com aquilo, nem que custasse sua vida.

De que valia ser Hokage, se não havia uma vila para proteger?

De que valia ser Hokage, se os aldeões agonizavam debaixo do solo que queria governar?

De que ainda vale ser Hokage... engasgando com o próprio pensamento, ela riu com amargura novamente.

Se meu pai não estará aqui para me ver prosperar?

Com a voz embargada, ela tirou forças de seu âmago para prosseguir.

"Parem!"

Caindo de joelhos sob a situação caótica que dominava o mundo ninja, Sarada Uchiha deu seu último grito de súplica perante a cena de Kawaki e Boruto lutando na intenção de destruir um ao outro.

A katana fazia um zumbido que incomodava os ouvidos. Era como se um palco tivesse sido montado sob a perspectiva de ter para si a disputa secular de dois deuses.

DESTRUIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora