PART I - fever dream high in the quiet of the night

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CRUEL SUMMER - PART I

"O III de Espadas do Tarot, no universo do amor traz a necessidade de se obter o equilíbrio através da dor."

Assim que o barman colocou o copo na bancada, Astoria não hesitou em dar um longo gole na bebida que havia pedido. Já podia sentir os olhos pesarem de sono e a sua boca adormecer por conta de todo o álcool. Além disso, temia não conseguir nem andar de volta para o seu carro no fim da festa.

Suspirou fundo enquanto girava tediosamente no banquinho em que estava sentada, ela não queria mesmo estar ali.

Achava tudo fútil demais, estúpido demais. Ela se sentia uma verdadeira otária por ter aceitado ir àquela festa, mas não era como se ela tivesse muita escolha. Era a confraternização anual de caridade da Fawley & Co, o momento tão esperado para os grandes empresários londrinos. Por trás de toda fachada beneficente, grandes transações eram feitas, contratos eram assinados e empresas eram fundidas.

Aquilo tudo era um show de boas aparências e mentiras. Astoria olhava enjoada para o mar de pessoas ali com roupas finas, joias reluzentes, sabendo que a metade deles estavam falidos e quebrados, mas fariam de tudo para manter o ego e o orgulho erguidos; e a outra metade não se suportava, contudo seguiam a máxima de manter amigos próximos e inimigos ainda mais.

Astoria odiava aquela situação toda, queria apenas pegar o dinheiro de parte das ações da família, mudar-se para a França e nunca mais voltar. Porém, enquanto a sua bolsa do mestrado em História da Arte não saísse, estava de mãos atadas tendo que viver segundo os bons costumes dos Greengrass.

Como se estar ali já não fosse desagradável o suficiente, havia sido largada sozinha no salão. Os seus pais conversavam com alguém que ela julgava serem os anfitriões e Daphne Greengrass, a sua irmã mais velha, estava caçando o milionário menos desagradável para iludir.

Astoria tinha quase pena dela. Sabia que era questão de tempo até a sua irmã mais velha ser prometida para algum playboy ou velho rico para alavancar a empresa da família. A fortuna que os seus pais construíram faziam com que eles pudessem desfrutar a vida sem grandes esforços, mas o conservadorismo parecia possuir a sua irmã de tal modo que ela não se conformava em não constituir a própria família perfeita.

Com um último gole, terminou de beber todo o Gin que tinha em seu copo e não hesitou em pedir mais um.

Parou de girar na banqueta e resolveu examinar o salão por alguns segundos. O local era muito bonito, com cortinas aveludadas, mobília antiga, não diferente demais da própria Mansão dos Greengrass, mas com certeza bem maior e ainda mais luxuoso.

Foi então que, entre vestidos brilhantes e colarinhos brancos, um homem chamou a atenção de Astoria. Alto, loiro, parecia um boneco de cera de tão pálido e polido. Os cabelos reluzentes a ponto de ela questionar se precisaria de um óculos escuro para continuar o observando. Mesmo que usasse um terno como os demais homens dali, o seu ar arrogante fazia com que ele parecesse arrumado demais para a ocasião.

Quando foi pega o encarando, deu-se conta de quem ele era.

Draco Malfoy.

O seu estômago embrulhou, enquanto ele se sentava ao seu lado e pedia ao barman um uísque.

Na última primavera, as controvérsias em torno da empresa de construção civil dos Malfoy haviam começado. Não era novidade que só os mais ambiciosos e dispostos a serem quase explorados entravam lá. Por trás de rumores de assédio moral praticado por Lucius Malfoy, as más línguas diziam que, se você sobrevivesse ali, seria invencível do lado de fora. Mas o pior estava por vir quando as ações da Malfoy Buildings despencaram de uma hora para outra, tudo pelo vazamento de um possível esquema de lavagem de dinheiro entre as obras prestadas por eles para a prefeitura de Londres.

Nem Astoria que detestava esse tipo de notícia pôde ignorá-la. Na maior parte do tempo ela gostava de se trancar na sua bolha, focando apenas nos estudos de História da Arte, entretanto, os seus pais tinham uma boa relação com os Malfoy e inúmeros contratos de paisagismo para os prédios deles, então aquele fora o assunto de incontáveis jantares.

Aquela situação fazia com que um misto de raiva e indignação apenas crescesse dentro de Astoria. Para uma pessoa tão transparente como ela, era quase inconcebível entender a capacidade das pessoas de serem cínicas a ponto de manterem os sorrisos por trás de toda a podridão em que estavam inseridos.

Astoria queria entender como cabia tanta crueldade em alguém, talvez estivesse impregnado no próprio nome. Malfoy, má fé. Sacudiu o pensamento para longe, quem era ela para falar algo assim?

Talvez um nome não fosse nada, Shakespeare havia chegado a essa conclusão anos atrás. Porém, ela não conseguia deixar de pensar que de toda a classe empresária eles eram os mais asquerosos, corruptos, pelo menos atualmente.

— Conheço esse olhar — Draco comentou, bebericando seu drink. Enquanto Astoria o olhava com cuidado, Draco tinha os olhos direcionados para a própria bebida em suas mãos.

— Que olhar? — ela quis saber, dando-se conta que havia ficado tão perdida nos próprios pensamentos que provavelmente ficou o encarando mais do que deveria.

— O de "você deveria estar na cadeia" — Draco respondeu com uma risada leve e amarga, finalmente selando o olhar com o dela.

Astoria engasgou com a própria bebida, não esperava que ele fosse ler o que ela pensava com tanta facilidade.

— O que te faz pensar isso? — não conseguiu conter o próprio riso. Ela sabia que as suas palavras estavam saindo emboladas de sua boca. Estava cada vez pior manter a compostura, talvez fosse hora de parar de beber.

— O simples fato de você não tirar os olhos de mim com essa expressão estranha no rosto?

A sua gargalhada leve se tornou um riso amargurado com o comentário dele. Primeira vez que se falavam e ele já não fazia nem questão de ser agradável?

Apesar de sempre terem frequentado as mesmas escolas, festas e ambientes em geral, ela jamais havia estado sob o olhar do Malfoy daquela forma.

— Eu não sou estranha — Astoria respondeu olhando-o com desdém.

— Eu disse que sua expressão é estranha, não você — ele tinha um sorriso nos lábios, como se a irritação de Astoria o fortalecesse.

— Pena que não posso dizer o mesmo de você — Astoria apoiou a cabeça em uma das mãos e o olhou mais uma vez. — Você é completamente esquisito, por trás de todo esse escudo de arrogância e boa postura.

As palavras dela o fizeram gargalhar.

— Ninguém nunca foi tão gentil assim comigo, obrigado — ele agradeceu.

Astoria sorriu de volta, logo se levantando da cadeira, decidida a sumir para bem longe dali. Aquele contato ali parecia perigoso demais para ela manter por muito tempo.

Porém, apesar de ter se afastado para prevenir um possível desastre, estava há menos de dois passos de Draco, quando escorregou em seu próprio vestido e caiu feiamente no chão.

Okay, estava na hora de beber água.

Era cruel como havia se colocado naquela furada.

Cruel Summer | DRASTORIA Onde histórias criam vida. Descubra agora