• Capítulo 29: Pintando telas •

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24.05

Hoje deixei parte de mim na cama e o restante que sobrou saiu às cinco da manhã para ir ao treino. Ontem, em uma reunião com a equipe de natação, decidi que irei participar do campeonato em julho. Terei que comparecer em todas as aulas das sextas e as extras nos sábados. Admito que na euforia do momento, nem me incomodei em ter que acordar cedo, mas agora estou pagando por isso com a minha alma. Não estou arrependida, de modo algum, Carol tinha razão quando me disse que essa disputa será como uma despedida para mim. Contudo, acabei indo dormir tarde demais, quando acordei mal me reconheci no espelho.
Poderia facilmente ter saído de um apocalipse zumbi, quando na verdade somente passei a noite toda respondendo questões de física e pensando em Elisa, no meu tio, no meu pai.

Quarta-feira, após a ligação de Hernando, fiquei momentaneamente em choque com o que ouvi. Achei que ele iria me dedurar, que viria correndo até minha casa para falar com Peter. Achei que anunciaria para o colégio inteiro como um aviso, ou pior, que telefonaria para meus pais e os chamaria para comparecerem à diretoria no dia seguinte. Tantos cenários passaram pela minha mente, e em todos, tudo saía incrivelmente mal. A ideia de meu pai descobrir sobre meu namoro através de outras pessoas posou em meu ombro e tem me assombrado desde então.

Meus pulmões travaram, minhas pernas enfraqueceram. Meus ossos amoleceram como geleia, meu coração lentamente aparentou parar de bombear sangue pelo meu corpo. Eu me encorajei, repeti frases motivacionais e tentei convencer meu organismo de que não estávamos enfrentando o fim trágico do universo. Consegui me poupar de ter outra crise horrível na frente da minha namorada, mas resquícios do meu pânico se alojaram entre meus órgãos e ainda estão lá. Eu estava me sentindo tão exausta, sufocada e agoniada, que só conseguia pensar no alívio que seria apenas despejar todos os meus sentimentos em uma bandeja e entregá-la a Peter.

Elisa também não ficou muito bem quando descobriu. Parecia enjoada, levemente deprimida, como se tivesse recordado repentinamente dos riscos. Acho que ela adivinhou os meus pensamentos quando abri a porta do quarto, confrontando minhas emoções. Ela me disse que não era assim que devia ser, me disse que não queria que eu me assumisse sem pensar no que estava fazendo. O que pareceu ironia, porque eu estava pensando em tanta coisa ao mesmo tempo.

Elisa me assegurou de que tudo ficaria bem e me puxou para dentro do cômodo, nos trancando novamente. Nos aninhamos em minha cama, entrelaçamos nossas mãos e descansamos no carinho uma da outra. Fiquei alegre em tê-la comigo exatamente naquele momento.

Não sei muito bem o que se passou na mente do meu tio, mas na quinta-feira nós conversamos em particular e o mesmo me falou que não contaria a ninguém o que viu. Por um instante achei que aquilo fosse uma piada, mas ele não riu, nem me criticou com um discurso. Surpreendentemente, apenas me aconselhou a ter cuidado com esse tipo de coisa, já que ainda não falei com minha família. Também sugeriu que eu falasse com sua filha, sem ter noção de que já tinha feito isso. Eu havia me esquecido de que Loren é assumida para seus pais. Talvez Hernando tenha me poupado porque me compreende, mesmo que bem pouco.

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