Capítulo Dois

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          - Isso é muito estranho! Ele tinha todo o controle do carro! – Diz Park indignado.
          -  Eu tenho um palpite... – Jennie fala com uma expressão pensativa fazendo sinal para que eu me aproximasse. – Esses caras devem ter alguma informação que seria valiosa para eles... Por isso não acabaram com tudo lá na ponte!
          - Sim. E é por isso que eles vão querer vir até nós – Eu respondo concordando. – Precisamos saber o que é essa informação e  usar isso contra eles!
          - O problema é tirar as informações desses caras! – Jennie revira os olhos – Eles não vão querer falar sobre o esquema que eles estão envolvidos...
          Nesse momento, eu a encaro com um sorriso travesso. – Eles vão sim... deixa comigo! – Exclamo dando uma piscadinha enquanto coloco uma capsula de chá verde na máquina de café.
          Assim que meu chá fica pronto, eu chamo um dos agentes de campo que deixei responsável pelos políticos presos mais cedo e peço para que o primeiro a ser interrogado seja o procurador geral, Sr. Yo-hyun. O agente segue imediatamente minha ordem de modo que quando eu chego na sala de interrogatório, o procurador já está lá, sentado atrás da mesa de inox com as mãos algemadas.
          - Boa tarde Senhor Hyun... – Falo com um sorriso tomando um gole de chá.
          - Vamos ficar aqui até quando? – Ele pergunta, claramente preocupado. – Não temos motivos para ficarmos presos neste lugar!
          Dou uma boa gargalhada ao ouvir o apelo desesperado do homem a minha frente. – Por que me subestima Senhor procurador? – Falo me aproximando e o encaro mais de perto. – Acha que eu não sei? Que não sabemos? – Dou um sorriso sarcástico. – Eles estão atrás de vocês... e você sabe!
Ele me encara de volta com o olhar paralisado, tentando de maneira falha disfarçar o nervosismo.
- N-não sei do que está falando! Como ousa se dirigir assim a mim? – Ele diz de forma raivosa. – Quero falar com o seu superior!
          Olho para ele com um suspiro me sentando e coloco calmamente minha xícara em cima da mesa.
- Senhor Hyun. Eu sou o superior aqui – Falo com certo desdém. – Nós já sabemos do esquema de vocês... e é bom vocês cooperarem... do contrário... vou ter que entregar vocês de volta pro The Crow...
          Ele me olha com uma expressão de espanto e fica um tempo pensativo.
- E então? Como vai ser? – Falo cruzando as pernas e pegando de volta minha xícara. – Você pode cooperar  ou... podemos deixar você no primeiro local publico com câmeras de segurança que encontrarmos, assim fica mais fácil pra eles te acharem... você que sabe! – Tomo um gole do meu chá.
          - O que quer saber? – Ele diz em um tom mais baixo, desviando o olhar.
- Por que não começamos do  princípio? - Falo consertando a postura na cadeira, claramente mais animada. – Eu adoro histórias que começam com "No principio..." geralmente são coisas extraordinárias!
          Ele me olha com desafeição antes de começa a falar. – Não era pra ser desse jeito... Estávamos apenas fazendo... Ah... Alguns investimentos! Começamos com armas, bombas nucleares... Até que...
Ele da um longo suspiro. – Recebemos propostas melhores nas quais não precisaríamos ficar tão evidentes...
          - Sério? Por que eu acho que trafico humano é bem evidente! – Falo dando uma risada sarcástica. – Não acha que está evidente? Pra mim está bastante visível!
          - Não falei nada sobre tráficos... Você deve ter se enganado! – Ele olha para mim falando com um tom ameaçador.
          - Ah! Valha me! Acha mesmo que sou tão ingênua pra não saber o que significa "investimentos"? – Falo fazendo aspas com as mãos. – E outra coisa... acho bom não falar nesse tom comigo... – O encaro com os olhos semicerrados e coloco minha arma em cima da mesa.
          Ele joga o corpo um pouco para trás e volta a ficar calado.
          - Eu tentei ser legal Senhor Hyun... – Falo quebrando o silêncio. – Muito bem, pode voltar a contar sua historinha agora! – Apoio minha mão na mesa com a arma apontada para ele.
          - Não era para ficarmos visíveis! Até o pagamento era feito em Bitcoins... – Ele volta a falar um pouco nervoso. – Isso não era para estar acontecendo... – Ele resmunga.
          - Prossiga... - Tomo mais um gole do chá com a mão que ainda estava livre.
          - Eu já lhe disse tudo! – Ele fala sério.
          - Ah é claro... mais uma vez subestimado minha inteligência... – Falo antes de balançar a arma na sua frente. – Isso aqui não serve mais de nada? – Pergunto espantada
          - Eu estou falando! Não sei de mais nada! – Ele encara o revolver extremamente nervoso.
          - Aham... e quem estava no esquema com vocês? – O encaro começando a ficar entediada.
          - Todos os dois que vieram comigo! – Ele responde sem pensar, ainda nervoso.
          - Mais alguém? -Continuo o encarando.
          - Não! Somos só nós! – Ele responde sério.
          - Ah tanto faz! Se tiver mais alguém nos vamos descobrir mesmo... – Falo me levantando. – Só que aí vai ser pior pra vocês... – O encaro e vou em direção à porta.
          - Pior? Ele diz um pouco assustado antes que eu saísse. – Pior... Como?
          - Ah... pior ora essa! – Dou uma leve risada. – Ah... qual é mesmo a pena pra corrupção e tráfico de pessoas? Ah... perpétua? Pena de morte? – Falo com uma expressão de duvida enquanto abro a porta. – Ah! Não importa! Eles devem querer colocar vocês naquela prisão onde colocam o pessoal da Yakusa, então não vai fazer muita diferença!
          - Espera! – Ele quase grita – Eu... Só preciso que me garanta que... Ficarei seguro...
          - Está querendo fazer um acordo? – Fecho a porta com um leve sorriso de satisfação.
          - Só preciso que mantenha eu e minha família a salvo... Eles... – Ele fala com um suspiro pesado. – Eles virão atrás de mim...
          - É! Eu sei! – Eu me encosto na parede. – Não vai acontecer nada com a sua família.
          - Tem... Uma lista... – Ele tremula em um tom baixo, evitando contato visual. – Você não tem ideia do tanto de gente envolvida! Eu mesmo não tenho ciência do tanto de gente... Mas... O grupo The Crow... Eles estão com a lista... – Ele faz uma pausa antes de continuar. – Eles... Nos enviaram uma mensagem... Um aviso de que estão a caminho.... Era... Era o desenho de um corvo com uma frase sobre vingar o sangue dos inocentes... – Ele me encara extremamente preocupado. – Só quero que mantenha ao menos minha família a salvo!
          - Não se preocupe Senhor Hyun. Como eles mesmo disseram... eles são sangue inocente e vão ficar bem. – Falo dando um leve sorriso. – Agradeço a sua contribuição. Até mais Senhor Procurador.
          Eu saio da sala e volto para perto dos outros membros da equipe que ainda estavam na sala redonda, bem no centro do local, onde ficam todos os computadores e também onde apresentamos todos os casos.
          - Oh! Agente Nayeon! Vem ver isso... – Park me chama ao me ver chegando.
          - O que foi Park? – Eu paro ao lado dele, olhando para a tela de um notebook. – O que é isso?
          - Eu analisei todas as imagens da câmera de segurança e não consegui encontrar nada! – Ele responde mostrando as imagens em perfeita ordem. – Eles devem ter hackeado o sistema visual e sonoro e gravado um pequeno pedaço para sobrepor toda a ação! Como se fosse um gif em loop mas no tempo exato em que agiram! Porque quando acaba... – O símbolo magicamente aparece na parede e todo o dinheiro some!
          - Pode ser... consegue rastrear? Reverter? – O encaro meio sem opções.
          - Nada... O trabalho deles é incrível! Sem erros... Sem brechas... – Ele fala com uma expressão de desapontado mas consigo ver uma certa admiração em seu tom de voz.
          - Park, a falta de provas é uma prova! – Falo tentando o consolar.
          - Agente Nayeon? – Jennie fala se aproximando. – Conversei com os outros suspeitos e não obtive nenhum sucesso... Apenas falaram que são muitos envolvidos... Espalhados pelo mundo!
          - Sim, eu soube disso! Parece ser uma lista que o The Crow possui – Respondo voltando minha atenção a ela.
          - Só vamos conseguir os nomes... Se os encontrarmos! – Ela diz um tanto preocupada.
          - Não fique assim, algo me diz que não vamos precisar procurar... – Falo cruzando os braços.
          - Será que... Eles sabem mesmo sobre nós? – Ela questiona balançando a cabeça.
          - Com certeza! – Eu solto uma leve risada. – Por enquanto, o que podemos fazer é prender os envolvidos que pegamos hoje.
          - Se o The Crow souber da nossa existência, com certeza estão trabalhando para invadir os sistemas da base... – Park diz mexendo no computador. – Vou fazer o máximo para proteger as informações confidenciais e tentar pensar em alguma armadilha...
          - Tenta deixar um arquivo como isca e rastrear o sinal do IP – Falo tentando manter alguma esperança. Ficamos um tempo pensativos até que eu me dou conta de algo. – Enquanto isso... acho que não temos mais o que fazer. – Dou uma cotovelada em J. – Eu acho que vou no café aqui perto comprar algo pra comer... vou deixar... vocês sozinhos... – Falo saindo rapidinho sem dar tempo pros dois retrucarem.
          Saio da força tarefa e vou até uma cafeteria de esquina a algumas quadras de distancia. Era um lugar não muito grande mas extremamente aconchegante, com um ambiente muito agradável. Paredes de vidro dando visão para a rua, uma meia luz amarelada que vinha de lustres no teto no formato de flores, e abajures coloridos nas mesas que eram como essas de restaurantes de filme americano, com dois sofás acolchoados, um de cada lado. Eu entro no local e me deparo com uma pequena fila no caixa. Eu não gosto muito de esperar, mas como eu sempre digo, no Japão, se tem fila, é porque é bom.
          - Olá! Posso ajudá-la? – A atendente pergunta de forma simpática assim que chega minha vez.
          - Oi! Ah... eu quero três chás, um verde e dois de cidreira! Pra viagem... – Dou um leve sorriso. – Ah! E três donuts de baunilha!
          - Anotado! Vai demorar um pouquinho pois tem dois pedidos na sua frente... – Ela diz anotando o pedido em um bloquinho amarelo em tom pastel. – Mais alguma coisa? – Ela olha para mim.
          - Pode me trazer uma barrinha pequena de chocolate meio amargo com cranberry por favor? – Falo em um tom animado. -  Eu vi que vocês renovaram o estoque!
          - Chegaram muitas novidades! – Ela responde com um sorriso. – Se tiver um tempinho, vem aqui amanhã no final da tarde... Vamos liberar para degustação!
          - Não brinca?! – Eu abro um sorriso infantil. – Vou tentar fugir do trabalho!
          A atendente sorri me entregando a senha do meu pedido e faz uma reverencia. Eu retribuo o cumprimento antes de me sentar em uma mesa perto das paredes de vidro para poder olhar o movimento da rua enquanto meu pedido não fica pronto.
          - Aish... Por que é isso toda vez que eu saio? Não posso nem tomar um café em paz? – Um homem senta no sofá a minha frente falando ao celular, aparentemente estressado. – Aqui vai demorar um pouco... Espero que consertem isso!
          - Ah... oi? – Falo mas parece que não estou sendo vista.
          - Não interessa! Não quero saber quem foi o responsável! – Ele continua, furioso. – Eu espero chegar aí... E vocês terem arrumado essa bagunça! – Ele finalmente desliga o celular. – Bando de incompetentes... – O homem diz, balançando a cabeça.
          - Ah... oi! – Tento novamente dando uma leve risada. – Acho que você não me viu aqui...
          Antes de falar qualquer coisa, ele olha pra mim de cima em baixo. – Ah... Desculpe! – Ele diz com um sorriso. – Dia ruim... Sabe como é né?! – O homem direciona a atenção para a TV que havia no café, perto de onde estávamos sentados.
          - Ah... sei sim! – Fico o encarando sem entender direito.
💭 Esse cara é sem noção? 💭
          “Mais informações vindas das grandes mídias sociais suspeitam que o governo também esteja ligado ao tráfico de armas pelo exterior (...)”. Eu ouço o noticiário dizer.
          - Quem está liberando essas informações? – Ele pergunta curioso. – Você dorme e acorda com todos os podres do governo passando na TV... – O homem balança a cabeça em negação.
          - É... eu também queria saber... – Falo olhando pra TV.
💭 Quem foi o filho da puta que avisou a imprensa? 💭
          Eu pego meu celular e tento ligar para Park mas ele desliga a ligação.
          - Não duvido nada que seja gente do próprio governo... – Ele fala dando um palpite. – Devem ter brigado e agora estão lançando as merdas no ventilador...
💭 Maldita hora que fui deixar ele com a Jennie!! Que seja, depois resolvo... 💭
          Continuo pensando sem prestar muita atenção no que ele estava falando.
          - Pois é! O pior é saber nosso dinheiro está sendo roubado na cara dura! – Falo disfarçando
          - Isso sempre aconteceu, né? – Ele diz com uma leve risada – Só que agora está mais na cara...
          Ele mal termina a frase e a garçonete chega com meu pedido embalado em papel pardo estampado com abelhas e flores. É uma das coisas que me faz gostar tanto desse café. – Ah... bem, tenho que voltar ao trabalho! – Falo com um sorriso sem graça. – Então, ate mais... é... – O encaro esperando que ele me dissesse o nome dele.
          - Oh... Jung Ji Woo! – Ele responde com um sorriso simpático. – Bom trabalho senhorita... – Ele arqueia uma sobrancelha esperando que eu dissesse meu nome também
          - Nayeon – Falo meio receosa e me levanto voltando pra força tarefa.

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