O xadrez roubado

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Mas no ano passado eu ganhei 12 presentes, porque esse ano eu só ganhei 11? Reclamou Júlia enquanto batia os pés no chão após contar o número de presentes que acabara de ganhar em seu aniversário de 13 anos.  

— Mas filha, aquele ali é grandão, então ele vale por dois. Respondeu sua mãe se justificando.

— Não importa! Eu quero 13 presentes! Berrou Júlia, dessa vez, enquanto chorava sem nenhuma lágrima nos olhos.

— Calma filha, prometo que eu e sua mãe vamos te levar agora mesmo ao shopping para que você escolha mais dois presentes, o que achou? Indagou seu pai com medo.

— Tá bem, mas só se for agora mesmo! Resmungou Júlia.

Júlia era filha única, estava acostumada a ser mimada. Isso porque a mãe dela não podia ter filhos, foi só depois que ela fez um tempo de tratamento que conseguiu engravidar. Foi assim que Júlia veio ao mundo. Isso explica o motivo de Júlia ser muito protegida e acarinhada de todas as partes. 

Tudo era pra ela; era Julinha pra cá, Julinha pra lá, o tempo todo. Isso resultou em uma pré-adolescente birrenta. Quando não tem o que quer, faz birra até conseguir, acostumou-se assim. Para piorar, Júlia foi também a primeira neta, a mais esperada depois de todos os primos meninos que nascera antes dela. Daí você já viu, era um mimo só. Tanto entre os pais, quanto entre os avós e tios.

E lá foram os três ao shopping da cidade para comprar para Julinha os outros presentes. Durante o caminho, ainda no carro, Júlia pensava: "Tenho mais presentes para comprar, o que será que vou escolher?"

E a verdade é que, para todos os presentes que Júlia recebia, o destino era o mesmo; para os brinquedos, no primeiro momento era a maior empolgação, ela ficava com eles o tempo todo, para cima e para baixo, não desgrudava. Até que se passavam algumas semanas e eles ou eram quebrados, ou então se perdia o interesse e eram esquecidos dentro de um baú enorme repleto de brinquedos abandonados que ela tinha em seu quarto. 

Enquanto às roupas, só bastava mudar a estação para que ela exigisse roupas novas. Pareciam ser descartáveis.

Vamos logo, anda de pressa, pai! Acelera. Ordenou Júlia no banco de trás do carro.

Quando chegaram ao shopping, mau deu tempo estacionar. Júlia desceu do carro rapidamente e já sai andando na frente. Os pais tiveram que andar a passos largos para tentar acompanhar Júlia e ficaram os dois bobinhos olhando para independência da filha. Até que a mãe dela comenta: "Nossa como a nossa bebe cresceu, parece que foi ontem que a segurei em meus bracos "!

Enquanto andava pelos corredores do shopping, Júlia olhava as vitrines como águias olham o chão em busca de suas presas. E... nada. Nenhuma ideia do que comprar, parecia que ela já tinha tudo.

— Que chato! — Disse Júlia com peso nas palavras. — Tudo o que eu quero eu já tenho, não sei o que comprar.

Os pais de Júlia não sabiam como ajudar a filha, tinham medo de sugerir algo e se ela não gostasse, isso poderia deixá-la ainda mais irritada e não era isso que eles queriam naquele momento. Da última vez que foram ao shopping, uma simples pergunta foi o suficiente para irritar Júlia e fazer com que ela batesse os pés no chão com tanta forca que se pôde ouvir no andar de baixo.

Júlia foi em direção a um banco que estava em frente a uma loja de jogos de tabuleiro e sentou lá, toda irritada. Cruzou as pernas e abaixou a cabeça, como se não quisesse mais estar ali.

Seus pais se aproximaram aos poucos, meio receosos, e perguntaram juntos como se houvessem combinado:

— Que tal entrarmos nessa loja de jogos de tabuleiro Julinha?

O xadrez roubado (um conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora