Sua mão direita lentamente tocava a maçaneta dourada da porta de madeira escura que rangia a sua frente. Em passo lentos adentrava na sala ao fecha-la em seguida. O silêncio fazia-se presente enquanto apenas podia se ver pelas luzes amareladas dos abajures, a fumaça do charuto que a figura do homem sentado sobre a poltrona, mantendo as pernas embaixo da mesa quais apoiavam seus cotovelos, tragava exalando o forte cheiro do tabaco que impregnava as vestes daquele que próximo estaria. Em silêncio, sentou-se na cadeira a sua frente e o copo de whisky arrastou-o para si. Num gole rápido sem permitir que o líquido tocasse o paladar e apenas descesse queimando sua garganta como se arranhasse-a por dentro, franziu levemente as sobrancelhas no amargar de sua boca enquanto o silêncio ainda persistia manter-se presente. Não demorava muito para que este retirasse do bolso de lenço localizado no peito esquerdo, o cigarro e o isqueiro, levando o fino papel branco aos lábios e seriamente o acendesse com o deslizar de seu dedo polegar sobre a roldana de pedra que ocasionava a chama vermelha e quente que agora era impossível visualizar já que sua mão a cobria para impedir que o vento apagasse-a, embora a mesma iluminasse e aquecesse sua face, queimando rapidamente a ponta do composto de nicotina num tragar forte, permitindo expelir pelas narinas a fumaça que não fora capaz de chegar aos seus pulmões. Com um dos braços sobre a cuja mesa, repousava suas costas no encosto da cadeira, mantendo suas pernas separadas, a direita levemente esticada sobre o tapete indiano, mantendo o contato visual com a silhueta que utilizava um chapéu em estilo fedora, explorando o conjunto de toda a estrutura do ambiente, notando então que as cortinas em suas costas estavam fechadas. Ao término de tragar o seu cigarro de filtro vermelho, por sua vez levantou-se amassando-o no cinzeiro de vidro para apagar a brasa que causara, e com uma das mãos sobre o quadril, empurrou o blazer preto que vestia para trás, retirando do bolso sua calibre 38 para destravar. O homem de bigodes espesso e castanho levantou-se rapidamente ao escutar o som do tambor a girar. A arma estava apontada para sua testa fazendo-o encarar o rosto de quem segurava o revólver.— Não serás capaz disto... serás, filho? — Indagou retoricamente, no entanto, no fundo esperou por uma resposta.
Num suspiro profundo após seus lábios estenderem seus músculos da face para o lado, formando um sorriso de canto como quem quisesse ironizar toda aquela circunstâncias, rebateu. — Você nunca foi meu pai! — Exclamou.
Sem mais delongas, seu dedo indicador apertou o gatilho, e dois tiro sobre a cabeça do senhor de terceira idade à cima do peso fora dado, fazendo o mesmo cair desfalecido sobre o chão enquanto seu sangue escorria vagarosamente. O primeiro tiro perfurou-lhe um dos olhos e o segundo o centro de sua testa. Se não bastasse assassinar o próprio pai, cuidou também de não deixas pistas. A sua arma estava com silenciador, e o copo que tocou não deixara digitais já que estes foram tocados com luvas, impediu que seus lábios tocassem a borda do vidro e sua roupa com sangue estariam agora em uma fogueira.
Essa fora a chave que encontrara para dar fim à vida do velho que chamava-o de filho já que este tinha grandes dívidas acumuladas com agiotas de outras mafias internacionais para manter o seu negócio funcionando. Não demorou muito para que todos da família chegassem ao local e levassem o corpo.
No enterro, ele encarava o caixão com frieza enquanto os suspiros de alívio saíam de seu peito e eram expelidos pelas narinas. Sem arrependimentos, entraria agora em uma nova jornada em sua vida após livrar-se do pai e quitar a dívida que ele deixara.
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