Os Artefatos Celestiais

Início

Esse é o capítulo inicial focado em dar uma ideia da personalidade de cada personagem.

Vitor

Despertei, fiquei olhando para o teto por algum tempo, tentando reunir forças para levantar. Eu esperava um pouco mais de meu humor ao acordar para o primeiro dia de aula na nova escola. Afinal, não era essa a chance que eu tanto queria e esperava? Nove anos sendo ignorado no fundamental e agora era o momento disso mudar, como se isso fosse acontecer.

Ao me levantar tomei um banho, abro o roupeiro e pego as primeiras roupas que vejo, uma calça jeans azul, uma camisa xadrez e um casaco preto. Ao chegar na porta faço uma pausa, coloco a mão dentro da camisa e retiro para ver se ainda estava ali. O colar continuava exatamente igual ao que era quando o havia ganhado, a joia azul era envolta pelo metal prateado que se iniciava em um V e ia abrindo nas pontas, todo adornado com escritas em branco e segurado por uma corrente também prateada. Os símbolos não tinham qualquer lógica aparente e nem pareciam ser com qualquer língua que eu já tivesse visto.

Tomando um longo fôlego, finalmente consegui ter forças para abrir a porta e encarar meu pai para o café da manhã. O ar em volta da mesa parecia quase ser sólido. Alguém olhando de fora não iria notar é claro, mas as palavras entaladas na garganta eram como uma dor constante que geralmente podia ser ignorada, como uma represa cheia sempre com uma rachadura nova. A cada dia o café parecia mais amargo, assim como o resto de tudo naquela família. Após alguns longos minutos aquilo finalmente terminou, me despedi com um tchau sem emoção, o caminho para escola aguardava. Me animei um pouco ao subir no ônibus e ver a paisagem passando. Talvez não fosse tão ruim assim.

Chantelle

Os sonhos iam e vinham como o vento, a sensação era de ser pega em um turbilhão, completamente impotente enquanto tudo se destruía ao redor, ao meu lado estavam várias outras pessoas que eu nunca havia visto na vida sendo atacadas por todo tipo de criatura. A sensação era de estar a um palmo da morte, a tensão e o estresse pareciam como mãos em volta do meu pescoço cada vez apertando mais, e então tudo escurecia se repetindo de forma distinta, mas o resultado era sempre o mesmo.

Acordei com um pulo, não consegui acreditar que havia acontecido de novo. Os pesadelos estavam ficando cada vez mais frequentes, como uma doença que não parecia ter cura e faziam parte de mim desde que conseguia me lembrar. Olhei a hora no relógio na cabeceira da cama me sentindo mais cansada do que antes de ir dormir, eram só 5:47, muito cedo para ir à escola. Dormir não era uma possibilidade, uma vez que os pesadelos começaram, só iam piorando. Tentei me concentrar em algo, na baixa luminosidade as roupas em cima da cadeira pareciam como alguém me observando, só esperando para ver o meu próximo movimento. As estrelas grudadas nas paredes e no teto já não brilhavam mais. No suporte na parede do lado o violão me encarava, esperando calmamente ser tocado de novo, talvez levá-lo para a escola não fosse má ideia.

Conforme fui me arrumando tentei pensar positivo, talvez poderia ser melhor assim, eu queria socializar, afastar os pesadelos, ter mais que uma amiga que não poderia estudar comigo. Alguém tinha de aparecer mais cedo na escola, será que alguém iria querer conversar comigo? Eu tinha medo da resposta, então preferi acreditar que sim.

Ethan

—Então você vai ir hoje? A pergunta surgiu de forma espontânea. Ethan fitou sua irmã, o rosto levemente tenso demonstrava estar ansiosa com a resposta. Aquela reação já lhe era familiar, a mão com a colher se encontrava a meio caminho entre a boca e a tigela de cereal, o que não deixava dúvidas.

—Você sabe que eu me preocupo. Tentei justificar.

—Nós sempre estivemos juntos apesar das adversidades, eu só quero ter um dia normal, ser como uma garota normal, sem o meu irmão mais velho grudado em mim como um guarda costas.