Capítulo I

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Parte I

Eu sou um psicólogo clínico, mas não um comum.

Eu tenho uma habilidade extraordinária. Essa habilidade costumava me assustar muito quando eu era adolescente; me fez questionar se eu tenho alguma doença mental. Eu até mesmo tive consultas com um psiquiatra para me curar.

Minha habilidade é ver todo mundo como um animal.

Por exemplo, meu psiquiatra: eu o vejo como uma raposa. Uma raposa que usa roupas de boa qualidade e óculos elegantes, segura uma caneta para anotações, mostra um sorriso gentil e usa sua inteligência e astúcia para desvendar o que está em seu coração e pegar o dinheiro em seu bolso.

Eu silenciosamente o chamo de Doutor Raposa.

Quando eu contei ao Doutor Raposa sobre minha doença, ele sorriu calorosamente e me perguntou que tipo de animal a enfermeira que me trouxe era. Eu disse que era um coelho carnívoro¹ e ele sorriu mais ainda.

O psiquiatra me perguntou se eu via todo mundo como um animal, então como eu poderia dizer quem é quem? Afinal, seres humanos têm mais diferenças entre si do que animais.

Eu disse que todo animal é diferente. Mesmo que existam dois coelhos parados lado a lado, eu ainda posso reconhecer quem é quem.

Depois de conversar comigo por dois dias, o psiquiatra me disse que minha loucura não era um infortúnio, mas um presente: a capacidade de olhar diretamente para o coração das pessoas.

Eu não entendi isso muito bem na época, mas como o psiquiatra disse que eu não estava doente, então fiquei convencido.

Depois de confirmar que eu não estava louco, eu soltei um suspiro de alívio, deixei minha bagagem psicológica de lado e enfrentei o mundo com uma expressão mais relaxada. De fato, eu sou uma pessoa muito observadora. Depois de uma série de observações, eu percebi que o zoológico que é a sociedade humana é parecido com o mundo animal verdadeiro.

Por exemplo, um casal onde o marido é uma doninha e sua esposa é uma galinha é um casamento que não vai durar e pode até mesmo levar a um final sombrio; no ambiente de trabalho, se o chefe é uma ovelha e o empregado é um lobo, então o chefe será substituído. Entre amigos, se um é um tentilhão-montês² e o outro é um falcão, então eles vão se separar por causa das suas diferentes visões de mundo.

Eu compartilhei minhas ideias com o Doutor Raposa e ele disse que minhas observações eram muito interessantes. Para explicar melhor, a forma animal de todo mundo que eu vi é um reflexo de seu verdadeiro caráter. Pessoas comuns só descobrem a personalidade real de um indivíduo depois de passarem um longo tempo se conhecendo. Profissionais, como um psiquiatra, podem apenas ter um vislumbre depois de algumas conversas, mas eu consigo dizer que tipo de pessoa alguém é no primeiro olhar.

Essa habilidade me permitiu evitar riscos e viver mais feliz. Eu cresci num zoológico e me graduei tranquilamente antes de entrar na selva social. A raposa psiquiatra me jogou um ramo de oliveira e me chamou para a sua clínica. Eu aceitei o emprego e rapidamente me adaptei à função de psicólogo.

Um dia, em seu tempo livre, Doutor Raposa me fez uma pergunta: "Se aos seus olhos todo mundo é um animal diferente, então que tipo de animal você é?"

Parte II

Que tipo de animal eu sou? Esse é um grande problema para mim.

Toda vez que eu olho no espelho, eu desejo poder ver minha forma animal, mas não importa quanto tempo eu leve parado em frente ao espelho, eu ainda sou um humano.

Essa é uma coisa incrível. Eu vivo na selva e todas as pessoas que eu tenho contato são animais, mas eu sou o único humano. Então neste mundo, eu sou um alienígena e eu estou destinado a ser excluído e eliminado.

O Zoológico em Meus Olhos [PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora